domingo, 11 de maio de 2008

Maria, Maria

“Maria, Maria é um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta
Uma mulher que merece viver e amar
Como outra qualquer no planeta
Maria, Maria é o som, é a cor, é o suor
É a dose mais forte e lenta
De uma gente que ri quando deve chorar
E não vive, apenas agüenta
Mas é preciso ter força, é preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo essa marca
Maria, Maria mistura a dor e a alegria
Mas é preciso ter manha, é preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania de ter fé na vida”
(Milton Nascimento e Fernando Brant)

O texto de hoje está há muito incubado em minhas idéias. E hoje é dia das mães no mundo inteiro, o que me deu a motivação que eu precisava para escrevê-lo. Talvez como homenagem, mas dificilmente a homenageada vai lê-lo – onde ela vive o máximo de tecnologia disponível é rádio e TV a cores com antena parabólica. Sem problema, pois nossa comunicação é de coração pra coração. Pra ilustrar, uma foto com minha Maria, ao lado de seu filho Geraldo e suas três netas. Estávamos em uma gruta de Santa Maria à beira de alguma estrada em Minas Gerais, lá nos remotos anos 70. Minha mãe também estava presente nessa cena: foi ela quem fez a foto.

Maria, Maria

Todo mundo conhece pelo menos uma Maria, ainda que seja apenas a Maria mãe de Jesus. Quem é cristão/católico é de alguma forma íntimo dela, certamente. Marias... na minha família existem algumas. Porém a mais marcante, mais sábia, mais compreensiva, mais humana de todas é a minha avó: Maria dos Anjos, quase 87 anos, 3 filhos, 12 netos, 8 bisnetos.

Mulher da roça, onde vive e de onde não quer sair, sempre levou (e ainda leva) uma vida simples: ali cresceu, casou, teve vários filhos (mas apenas 3 viveram). Desde 1921, quando ela nasceu sagitariana, em 21 de dezembro, o mundo passou por muitas coisas, boas e ruins. Nesses tempos remotos, mal havia rádio – ficava-se sabendo das coisas pelos tais caixeiros viajantes, que passavam ocasionalmente vendendo coisas.

O progresso foi chegando. Da casa de pau-a-pique e luz com lamparina de querosene passou a uma de alvenaria no início dos anos 80, com luz elétrica. Aí já era possível ter televisão: foi um acontecimento na roça. A casa dela ficava sempre cheia de gente querendo ver aquele tubo com imagens em preto e branco. A imagem era ruim, chiava muito porque o sinal era fraco e a antena não fazia milagres naquele rincão, mas mesmo assim era algo digno de “roupa de festa”. E a Maria dos Anjos sempre recebia com carinho e café a todos os que vinham assistir televisão em sua casa. Até hoje ainda há pessoas que aparecem por lá pra ver TV, que já há algum tempo é a cores – não porque não há luz elétrica em suas casas, mas porque não possuem uma televisão (a região ainda é bem carente).

Em algumas ocasiões, vi Maria ser afrontada, até insultada, ofendida... mas nunca, nunca mesmo a vi revidando a esses ultrajes. A palavra e o comportamento dela nessas situações sempre foram invariavelmente de perdão e compaixão. Até mesmo na partida de alguns de seus mais queridos ela foi serena: meu bisavô/seu pai, meu avô/seu marido, meu pai/seu primogênito... “é, tô enterrando um filho, mas é a vontade de Deus”, disse ela, certamente com dor no coração, mas de alguma maneira conformada com a separação, porque inconscientemente sabe que é temporária.

Maria dos Anjos tem uma força que ultrapassa a lógica dessa vida que ela vive. Sua sabedoria é infinitamente maior do que o pequeno mundo (geograficamente falando) em que ela viveu até hoje. Nunca foi à escola, mas aprendeu a ler e a escrever riscando o chão com gravetos. Nunca leu livros de auto-ajuda, mas foi capaz de suportar sozinha vários reveses na sua vida. Não sabe nada de psicologia, mas sua terapia do amor curou muitos. Não conhece os segredos da medicina, mas com sua fé benzeu muitas crianças e lhes tirou o incômodo que sentiam. Não entende de negociação, mas não conheço melhor conciliadora.

Acho que o Milton e o Brandt se inspiraram nela pra compor a música que leva seu nome... eu a reconheço em cada verso da canção, e já cantei pra ela. Mulher de papéis multiplos, cumpriu todos com maestria. E ainda cumpre. Não sei por quanto tempo ainda, nem sei se ainda a verei nessa vida, pois atualmente há um oceano (literalmente) entre nós. Mas onde quer que nos encontremos, vou sempre reverenciá-la como o melhor exemplo de mulher que conheci nessa vida, de quem muito aprendi e a quem muito admiro.

Bis bald!



quarta-feira, 7 de maio de 2008

Gardenal


A minha ida a Genebra, na Páscoa, rendeu muitas fotos interessantes. Entre elas, a do “Restaurant sans alcool” (Restaurante sem álcool). Ele seria um lugar ideal pra eu ir na época do texto de hoje... Mas voltando, passamos por ele na ida pra cidade alta e na volta. Até estiquei meu pescoço pra ver como era lá dentro... e o comentário do Tim se confirmou: “Restaurante sem álcool e sem clientes!”

Gardenal

A primeira vez que ouvi falar esse nome, nem tinha noção do que era. Só sabia que teria que tomar um comprimido por dia, ao deitar. Após uma convulsão durante o sono, fui parar num pronto-socorro, e o plantonista disse que eu tinha que ir a um neurologista. Minha mãe me levou a um, que pediu eletroencefalograma (EEG) e raio X do crânio. Ao pegar os exames, ele só disse que o raio X da cabeça era normal, não esclareceu coisa alguma sobre o EEG, mandou tomar aquele remédio toda noite e disse pra minha mãe que me trouxesse de volta no mês seguinte – mas que voltasse antes caso acontecesse alguma coisa.

Não aconteceu nada nem antes nem no mês seguinte – tudo na mais perfeita ordem. Então minha mãe pensou que não era mais necessário voltar. Ela não tinha obrigação de saber... o médico é que deveria ter explicado que era imperativo voltar na consulta, porque o tratamento não era coisa de um mês.

Eu tinha 12 anos, e era aluna exemplar na escola, só tirava notas máximas, era muito atuante no esporte, jogava vôlei no time mirim... enfim, tinha uma vida absolutamente compatível com alguém da minha idade. Ou melhor, quase compatível... era muito tímida e nunca tinha algum paquera. Mas isso é assunto pra outro texto.

Aproximadamente dois anos se passaram... e aconteceu de novo: convulsão, agora mais intensa do que antes. Susto geral em casa, afinal meus pais pensaram que eu estava “curada” daquilo. Pois é, o tratamento iria começar de novo ali, mas agora com informações corretas sobre o que devia ser tratado.

O meu problema era disritmia cerebral. A melhor explicação a respeito me foi dada por uma médica com quem me tratei dos 14 aos 18 anos. Ela não só explicou a disritmia com a diferenciou da epilepsia: “Imagine que o cérebro é um conjunto de lâmpadas que precisam acender e apagar simultaneamente. A epilepsia é quando uma lâmpada queima – e não tem como trocar, portanto, quem tem isso vai ter que tomar remédio a vida inteira. A disritmia é quando elas acendem e apagam desordenadamente. O remédio atua na reordenação das ondas elétricas do cérebro, reduzindo essa falta de ritmo até um nível em que o medicamento não será mais necessário”.

O interessante é que depois que passei a tomar esse remédio, comecei a ouvir colegas da escola dizendo (não pra mim) que quem tomava Gardenal era doido. Eu é que não iria assumir que tomava aquele remédio de doido... eu me considerava normal! Depois de pouco tempo entendi o motivo: pessoas que NÃO PRECISAVAM do remédio e que queriam “ficar doidonas” tomavam Gardenal com birita em grande quantidade, pra “dar um barato”. Nunca foi o meu caso: eu sabia que não devia tomar nada alcoólico e nem passava perto.

Foram longos anos de tratamento até que o medicamento pudesse ser suspenso. E como eu não podia beber nada alcoólico, aprendi a me divertir sem isso. Nas baladas da faculdade, era comum gente que não me conhecia dizer que eu estava “alegrinha” demais, fazendo alusão à bebida. Mal sabiam eles que a alegria era pura e genuína, do tipo que não precisa do álcool pra se manifestar.

Ah, hoje em dia eu não dispenso um bom coquetel numa balada, uma taça de vinho a dois ou uma cerveja em um biergarten (afinal, estou na Alemanha!), embora eles não sejam imprenscindíveis para a minha diversão!

Alguns que me conhecem pouco vão ler esse texto e dizer “bem que eu sempre desconfiei que ela tinha algo de anormal”... Fiquem tranqüilos... eu sou normal. De longe, porque de perto ninguém é!

kkkk

terça-feira, 29 de abril de 2008

A banalização do “eu te amo”


Adoro escrever... e comecei nessa vida muito antes de pensar em cursar Jornalismo. Escrevia cartas, ia ao correio postar e ficar contando os dias para chegar a resposta... e sempre recebia! Hoje em dia eu só mando... ninguém mais me responde. Porém isso não me abate: continuo escrevendo.
Esse envelope é de uma carta recebida de Israel em 1989, no meu primeiro ano em Campinas. A remetente, uma pessoa muito especial... muitas cartas nossas cruzaram o oceano nessa época. O interessante é que atualmente as cartas entre nós continuam cruzando o oceano (eu aqui, ela no Brasil), apesar de em mão única.
PS: o selo eu tirava e dava pra um amigo colecionador...


A banalização do “eu te amo”

Há um tempo, no início da popularização da internet, recebi diversas vezes emails com conteúdo do tipo “não deixe pra amanhã o que você pode fazer hoje”, “diga 'eu te amo' antes que seja tarde demais”, “o dia especial da sua vida é hoje”, entre outros que, na época, me serviram de base para um texto que escrevi pro jornal da empresa – e que já publiquei aqui.

Depois dessa onda toda, eu passei a me expressar mais, disse diversas vezes a meu pai que o amava, assim como para minha mãe... coisa que nunca tinha feito antes. Não que não houvesse amor, mas simplesmente não era parte da minha criação expressar dessa forma. Falei e falo também para algumas poucas amigas, que são mais do que irmãs... enfim, acho que me melhorei um pouco nessa mudança de postura.

De lá pra cá, com a massificação da internet, cada vez mais o privado está presente na esfera pública. No orkut, que eu chamo de “o paraíso da devassidão”, virou moda declarar amor. O que se vê é “eu te amo” escrito das formas mais diferentes e explícitas possíveis, em recados, depoimentos e afins. É tanto “te amo” que os amigos ficam disputando o “topo” na lista de depoimentos, como se isso significasse ser mais ou menos amado. Quanta besteira...

Eu sinceramente questiono a essência desse tipo de “eu te amo”. Acho que essa gente toda tá confundindo o nome dos sentimentos... ou querendo supervalorizar... ou até mesmo escrevendo no mundo virtual o que não teria coragem de dizer olho-no-olho. Ou então quer só aparecer. Santa incoerência... pode ser que se diga tímido pra dizer cara a cara, mas coloca no orkut, atualmente o mais popular site de relacionamentos no Brasil.

Dizer que ama alguém, quando o sentimento é genuíno, é algo que vem tão das entranhas, que muitas vezes demora a sair, a ser verbalizado. E quando sai, pode ser numa fala meio embargada... com a voz sumindo... algo dito no fim da conversa, que a gente diz e “sai correndo”. Correndo pra um abraço ou beijo, pra dizer tchau na conversa ao telefone, pra acalmar alguém que tá triste ou com problemas, dar colo... mas é normalmente algo que se diz no fim de um papo. Porque o “eu te amo” verdadeiro dispensa palavras depois.

Apesar de eu estar “alyways connected” – estou no orkut, uso MSN, skype e outros – a minha forma de expressar o meu amor não é necessariamente dizendo “eu te amo” para todos os lados... eu amo muitas pessoas, e cada uma delas sabe do meu apreço. E exatamente por saberem é que não preciso ficar “disputando topo” na lista de depoimentos, por exemplo. Isso não signfica que eu nunca diga a elas que as amo, mas quando o faço, tento buscar uma forma diferente da coisa massificada que se vê por aí. Por exemplo, adoro escrever cartas ou postais de próprio punho, ir ao correio, comprar selo... é tudo tão mais humano, e não passível da tecla “delete”. Não é o máximo?

Escrevam pra mim! Amo receber postais!

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Indignação


Eu falei que o tucano estava comendo de boca, ops, bico aberto, que a gente até via o mamão lá no meio... mas na outra foto não dá pra ver direito. Fiz um recorte e ampliei... desculpe a repetição, mas eu adoro essa imagem, tenho o maior orgulho de tê-la feito. Aliás, o assunto de hoje também é repetição...

Indignação

“As coisas não precisam de você
quem disse que eu tinha que precisar?”
(Virgem, Marina Lima)

Minha xará mandou muito bem nessa música... “Quem disse que eu tinha que precisar?” Achei que minha história de vida já diria algo de forma clara que sou uma pessoa que se vira sozinha, com excelente formação acadêmica, profissionalmente ativa e independente financeiramente. Não fui criada pra ser apenas mulher de “cama-e-mesa”, embora tenha total capacidade de exercer TAMBÉM esse papel.

Pois é, o texto “Sentimento entra na DRE?” não foi suficiente pra extravasar toda a minha indignação com a espécie masculina. Não quero aqui generalizar... mas tá difícil encontrar alguém em quem valha a pena investir, alguém que se digne a ir além das aparências, que ouse querer conhecer mais do que os olhos podem ver e que se comunique clara e abertamente sobre isso.

Uma amiga deu uma de “advogada do diabo” e me disse “ah, mas tem a comunicação do corpo, dos gestos... ele fez essa leitura em você e concluiu as coisas”. Pois é, não vou aqui negar a existência dessa comunicação não-verbal, até porque já falei sobre ela anteriormente. O problema é que ela é invariavelmente unilateral e definitivamente não serve como parâmetro para pessoas que praticamente não se conhecem, se o objetivo for algo além de apenas uma “noche caliente”. Nesse caso, a comunicação sem palavras se torna uma fonte inesgotável de mal-entendidos. Aí já viu, né...

O tipo de coisa que esse cidadão fez mexe profundamente com meu orgulho, e não tem nada que me doa mais do que isso. Pode me trair, me deixar na beira do altar, até me agredir fisicamente (coitado daquele que um dia ousar isso!), que não me dói tanto quanto me atingir naquilo que mais prezo: meu caráter.

Mas eu só tenho que agradecer... ele se mostrou bem rápido. “Meno male” ferir apenas o meu orgulho agora, que eu curo rapidinho escrevendo aqui, do que me fazer perder tempo com alguém que não merece minha atenção. Gente assim merece viver sozinha. Mas ele não precisa se preocupar... vida de velho solitário aqui na Alemanha é top de linha: tá cheio de asilos cinco estrelas por aí. Barato não é, claro, mas os aposentados aqui ganham relativamente bem.

Pensando bem... ele tá certo em evitar mulheres “caras” agora... tem que economizar pra pagar a casa de idosos logo, logo... afinal, já está nos “enta e tantos”. É, o tempo é carrasco, e quem não morre cedo, envelhece!

kkkkkkkk

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Vôlei


Mexendo nas poucas fotos que tenho aqui comigo, encontrei algumas interessantes... já digitalizei várias. E hoje vai aqui uma de... vôlei! É, o vôlei me rendeu muitas histórias na vida. Essa foto é de 2000, ao final de um torneio-relâmpago entre Trombetas e Oriximiná. E espero que ainda renda muitas outras... quero virar “vovó” na quadra. Que fique claro que não sou nenhuma super jogadora, mas quando entro na quadra não é pra brincar, e sim jogar direito, mesmo que só por lazer. Não gosto de jogar onde o povo nem sabe dar manchete. Pena que aqui na Alemanha não tenho onde praticar... na verdade, não procurei direito ainda, porque certamente tem!

Vôlei

Eu estava na quinta série, e a educação física era fora do horário da aula. Morávamos bem longe da escola, e eu tinha que me levantar às 5h30 da madrugada, pegar dois ônibus lotados e ainda andar alguns quarteirões pra chegar lá às 7 horas – e eu não perdia uma! Só que terminava às 8h30, logo tinha tempo de sobra pra ir pra casa, tomar banho, almoçar e voltar antes da uma da tarde, horário de início das aulas.

Minhas irmãs também tinham que ir, mas em dias e horários diferentes. E o horário da educação física delas era mais tarde, então justificava que elas viessem pra escola e ficassem direto, almoçando por ali mesmo. Elas começaram a jogar vôlei, e logo foram chamadas pro time da escola. Ah... eu também queria! Mas como eu tinha que voltar pra casa, praticamente não tinha chance de treinar e jogar, de “aparecer” para os professores.

Eventualmente havia trabalho em grupo pra fazer, e combinávamos de encontrar na escola, mais cedo. Nesses casos, eu ficava direto: tomava um banho de gato no vestiário e comia na cantina. Foi aí que eu percebi qual era o caminho pra poder ficar mais vezes, e me “misturar” no treino dos times mirim e infantil: “mãe, tem trabalho em grupo pra fazer”... hehehe... É, nem sempre era um trabalho acadêmico de fato, mas que era sempre trabalho em grupo, isso era!

No ano seguinte, nos mudamos para mais perto da escola – ou seja, menos justificativa ainda para ficar direto, e o argumento de “tem trabalho de grupo” já não colava tanto como antes. Terminada minha aula de educação física eu ficava por ali, treinando os fundamentos sozinha no paredão. De tanto me meter a besta de ficar completando time no treino, fui chamada pra seleção mirim da escola. Depois disso eu passei a ter um motivo oficial pra ficar direto: não precisei mais inventar trabalho pra fazer.

Da sexta até a oitava série eu fiz parte do time do Brotero. Me dediquei muito ao vôlei... foi a época da “geração de prata”, quando o esporte ganhou notoriedade no Brasil graças à medalha de prata conquistada pela seleção masculina nas Olimpíadas de Los Angeles. Durante esses três anos participamos de muitos campeonatos, sobretudo as Olimpíadas Colegiais Guarulhenses. Mas nunca chegamos muito longe. Nosso maior rival era o Conselheiro Crispiniano, era quem normalmente nos tirava no mata-mata, em quartas-de-final ou semi.

Mas houve um campeonato em que as derrotamos... era a semi-final dos Jogos Escolares do Estado de São Paulo (JEESP), mas eu acho que só tinha escola de Guarulhos no torneio. Foi uma delícia ganhar delas... sentimento melhor só o meu Timão ganhando do porco de virada e goleada. Porém perdemos na final, ficando com a prata. Da fase escolar, essa é a minha única medalha do esporte que mais me dediquei.

É, jogue a primeira pedra quem nunca contou uma mentirinha qualquer pra própria mãe... sobretudo com propósitos nobres como eu!

terça-feira, 22 de abril de 2008

Sentimento entra na DRE?


Tenho muitas fotos de bicho, sobretudo do tempo que vivi na Amazônia. Minha câmera era minha fiel companheira de passeios e mesmo em casa, estava sempre pronta pra ação. Um dia flagrei um tucano comendo mamão no quintal do vizinho, nos fundos da minha casa. Fiz uma série de fotos do bicudo, porém a mais legal é essa. Acho que a mãe dele não o ensinou a comer de boca fechada... o cara tá comendo e a gente consegue ver a comida na boca, ou melhor, no bico dele...

Sentimento entra na DRE?

A mente dos homens é algo pra ser indefinidamente investigada... é impossível saber o que se passa na cabeça deles. Se você não dá logo de cara, tá fazendo doce; se dá, não é o tipo pra apresentar pra família... esse dilema não é novo.

O que me move a escrever hoje também não é novo, mas é algo que me incomoda severamente: associar relacionamento com dinheiro. A mentalidade do homem aqui na Alemanha é materialista demais pra mim... claro que deve haver exceções, mas eu ainda não encontrei. Aí entra outro dilema: se você se mostra independente, forte e decidida, os homens se assustam e se afastam, porque não suportam “concorrência”; se você se mostra frágil, mulher que deseja ser protegida, pensam que você quer só vida boa, ser sustentada e gastar a grana deles. E caem fora também.

É, sempre em pauta o vil metal... sentimento vira algo pra segundo ou terceiro plano. Aí eu pergunto: com a “contabilização” dos sentimentos, onde eles entram na Demonstração de Resultados do Exercício? Ativo ou passivo? Com amortizações ou depreciações? São vistos como lucro ou perda? Geram dividendos? Amor, por exemplo, pode ser enquadrado como investimento a longo prazo ou a fundo perdido? O respeito, entra em direitos ou obrigações? Os estoques de compreensão, são lançados onde? Ter uma postura sempre transparente é fato relevante? Harmonia pode ser tida como lucros acumulados? Lealdade é visto apenas como capital de terceiros? Uma não-conformidade sentimental é tratada de que forma numa auditoria contábil? É passível de auditoria por terceiros, tipo Ernst & Young ou PriceWaterhouse Coopers?

Tô escrevendo e rindo... porque nada disso faz sentido. Mas infelizmente a mentalidade de muitos por aqui é essa. Não existe aquela coisa de “vamos ficar juntos” assim, sem a fria análise materialista. E pouco interessa se você tem sua profissão, trabalha etc. Não há sequer diálogo, a outra parte fica matutando sozinha com as impressões superficiais que colheu e “conclui tudo”: você pode ser uma mulher “cara”, porque quer estudar, porque tem filho, porque comprou patins de € 20 no Ebay, porque tem uma bolsa Prada (de R$ 10,00)... nenhum argumento faz sentido, mas é a conclusão do materialista com quem você ESTAVA flertando. Estava, porque depois dessa, nem que venha a mim de joelhos... com essa cabecinha “zu kleiner”, tô fora. Eu não preciso de um homem pra pagar as minhas contas. Sou “macho” o suficiente pra cumprir minhas responsabilidades.

Na minha cabeça, sentimento não entra na DRE...

* “zu kleiner” é uma corruptela gramatical; o correto seria "zu klein". Em alemão, klein é o adjetivo que significa "pequeno". O sufixo "er" indica o comparativo de superioridade, ou seja, "kleiner" é algo como "mais pequeno". O "zu" é um advérbio de intensidade, com conotação sempre negativa, que signfica "demais". Portanto, dizer "zu kleiner" é exacerbar todas as noções de mesquinharia que se possa imaginar...

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Dona Nenê, a Bárbara


Massa de modelar é muito legal. Com ela a gente pode inventar mil coisas, ainda mais quando se tem uns acessórios pra fazer formas diferentes. Certa vez a minha criatividade estava em “alta”, e modelei as bandeiras do Brasil e da Alemanha. Em seguida modelei um prato de espagueti com tomate cereja e basílico fresco. Fica a pergunta... eu estava mesmo “criativa” ou estava com fome? Mas que ficou uma gracinha, ah ficou... massas... salve a cozinha italiana!

Dona Nenê, a Bárbara

Ela vinha ao seu terraço e gritava “Clélia, hoje tem macarrão com molho!”. Era a senha para eu subir. Morávamos no Belenzinho, numa casa térra de fundos (a frente era o local de trabalho do meu pai, que vendia pertences de feijoada para restaurantes no centro de São Paulo). E lá do fundo, tínhamos como vizinha a Dona Nenê, que morava na parte assobradada da casa. Ela era viúva, e morava com seu filho Nelson. Tinha um carinho danado por nós e sabia que eu adorava “macarrão com molho” (ela era filha de italianos, creio eu).

Eu subia, tomava banho lá na casa dela e jantava... ah, que delícia aquele macarrão com molho e queijo ralado... rigatone, fusili, espagueti, farfale – nomes que eu nem desconfiava que existiam, pra mim era tudo macarrão. Não fazia a menor diferença o tipo da massa, era sempre muito bom. Mas ela era muito ciosa comigo: me colocava um enorme guardanapo para eu não sujar a roupa com o molho, e fiscalizava meus movimentos, repreendendo quando eu fazia algo “feio”, como falar de boca cheia, por exemplo. Certa ela, eu estava aprendendo, tinhas uns 4 anos.

Nós mudamos do Belenzinho para a Penha, onde ficamos dois anos. Depois para uma chácara no Bonsucesso, em Guarulhos. Lá a Dona Nenê e o Nelson iam quase todo sábado, porque gostavam do contato com a terra, com o nosso pomar. Lembro que uma vez colhi um galho enorme, lindo, com mais de uma dúzia de laranjas-lima, e dei pra ela levar. Ela ficou muito feliz, e disse que ia ter dó de chupar as laranjas, porque como arranjo de mesa era mais bonito! Deu um trabalho danado pra apanhar, porque era um galho de ponta e eu, mesmo criança, já era pesadinha... mas eu consegui. Só que nunca mais vi nascer outro igual!

Dona Nenê era bárbara: uma pessoa amorosa e sempre disposta a dar carinho, amparo. Broncas também, se achasse necessário. Era como uma mãe pra minha mãe. E uma avó pra mim. Só que a gente cresce, vai assumindo novos papéis e responsabilidades... e eu quase não via mais Dona Nenê. Foi em Campinas, quando estava na universidade, que recebi a triste notícia da sua partida. Mas serviu de consolo saber que ela sofreu muito nos últimos tempos, portanto a partida lhe foi um alívio.

Só depois de muitos anos de convivência é que fui saber seu nome de batismo: Bárbara. Pessoas assim marcam a nossa história e vivem sempre no coração da gente, onde quer que estejam.

* Aviso aos navegantes: “Clélia” sou eu mesma. É meu segundo nome, e na esfera familiar só me chamam assim.

domingo, 20 de abril de 2008

Viajando de carona


"Minha vida é andar por esse país,
pra ver se um dia descanso feliz,
guardando as recordações, das terras onde passei,
andando pelos sertões e dos amigos que lá deixei"
(Vida de Viajante – Luiz Gonzaga)

Olha eu aí, pedindo carona pra ir até Gravatá e Caruaru, em Pernambuco. É, mas dessa vez foi só pose pra foto... foi em julho de 2007, quando eu estava com amigos em Recife e fomos passear por lá. Gravatá fica a cerca de 75 km da capital pernambucana e 540m acima do nível do mar. Tem um clima bem agradável, com temperatura média de 22 graus, considerado pela Organização Mundial de Saúde como um dos cinco melhores climas para a saúde (fonte: Wikipédia). Não é a toa que o turismo e o setor imobiliário crescem bastante por lá: Gravatá tem o metro quadrado mais caro de Pernambuco e nos finais de semana em que ocorrem eventos, a população da cidade, de aproximadamente 70 mil habitantes, praticamente dobra.


Viajando de carona

Carona aqui na Alemanha é uma coisa normal e bem organizada... mas não gratuita. A gente entra no site, vê quem tá oferecendo carona pro destino que se quer, entra em contato por email ou telefone e combina. O preco é bem amigo, normalmente bem menos da metade do valor da passagem do trem. No Brasil não é assim... seria muito arriscado tanto pra quem oferece quando pra quem pega a carona.

Eu já fui chamada de doida várias vezes por diversos motivos. Mas uma vez ouvi de uma conhecida o seguinte: “levar fama sem proveito não tem graça!” Aí passou a fazer sentido, porque eu realmente fiz umas coisas muito na confiança mesmo. Confiança em Deus, ninguém mais, mas mesmo assim, doideira...

Por exemplo, em 1992 dedici que ia de carona de Belo Horizonte para Ponte Nova, um trecho de aproximadamente 240 km, passando por Ouro Preto. Até tinha o dinheiro pra passagem, mas queria viver essa aventura. Não consegui uma carona direta, foi um pinga-pinga, mas cheguei, sã e salva. Depois dessa que deu certo, outras vieram... repeti a dose no mesmo trecho mais uma vez, só que o destino final não foi Ponte Nova, mas sim Jequeri, a cidade do meu pai, que fica a 40 km além. Também cheguei tranqüila, depois de umas cinco caronas diferentes... é, a aventura foi também extenuante, mas valeu.

Depois que passei a ter carro, ficava pensando nas pessoas que pediam carona. E decidi retribuir algumas vezes, também no caminho da casa dos meus avós, em Minas Gerais. Levei estudantes de Juiz de Fora até Ubá. E outra estudante de Ervália até Viçosa.

Só que chegou um tempo que minha situação financeira estava bem ruim... minha filha estava morando com minha mãe em Guarulhos e eu só a via nos fins de semana, porque trabalhava em Campinas. Mas eu ia pra Guarulhos quando tinha dinheiro pra gasolina... o que nem sempre era certo. Então decidi que iria pra Rodoviária de Campinas e abordaria pessoas que se dirigiam ao guichê da Cometa, para São Paulo. Muitas agiam com desconfiança e se desviavam de mim, mas algumas me ouviam e aceitavam vir comigo, pagando a mim o valor que pagariam pela passagem. A gente saía dali e ia direto pro posto abastecer, e o dinheiro deles nem parava na minha mão – eles viam que era pra gasolina mesmo.

Precisei fazer isso muitas vezes, e sempre tive como companhia de viagem pessoas sérias e de boa índole – nunca tive problema. Sei que entre cidades grandes como Campinas e São Paulo isso é meio arriscado e perigoso, mas a necessidade falava mais alto. Mas Deus é bom demais... e sempre está por perto a proteger as pessoas que têm bons propósitos e reais necessidades.

Depois de conhecer o sistema de carona daqui da Alemanha, vi que sem querer pratiquei isso lá no Brasil... em 1996, há 12 anos!

sábado, 19 de abril de 2008

Atropelei um carro!


Quem viveu em Trombetas vai ter história de lá pra lembrar a vida inteira... ainda mais se ama fotografia e não saía de casa sem sua câmera, como eu! Essa aí é de um dia em que voluntários se reuniram pra plantar árvores na antiga área industrial, que abriga escritórios de diversas empresas contratadas. Era um sábado, eu acho, e todas as pessoas que compareceram deram sua dose de contribuição. Até mesmo minha pequena, aí na foto de regata preta e bermuda rosa, fez uma força danada pra segurar a pesada pá e jogar terra no buraco. É, minha filha já plantou uma árvore!

Atropelei um carro!

Segunda-feira, 7 de janeiro de 1991: meu dia começou cedo. Eu trabalhava como temporária na Ford Indústria e Comércio, em Cumbica, Guarulhos, no setor de Exportação. E naquela segunda-feira eu tinha prova de vestibular: era a segunda fase da Fuvest que eu estava prestando pra Letras/Alemão. Meu plano era transferir meu curso de Jornalismo da PUC-Campinas para a PUC-São Paulo e, passando na USP, levar os dois cursos ao mesmo tempo. Mas não era pra ser assim...

Pois bem, pra poder sair do trabalho a fim de fazer o vestibular, eu tive que chegar bem cedo e passar o serviço pro pessoal que estava voltando do recesso de fim de ano. Cheguei às 5 da manhã, adiantei meu servico, passei as rotinas pros colegas e saí às 11 horas. Fui de carro, porque meu vestibular seria no Brás, bairro próximo ao centro de São Paulo – de transporte coletivo seria inviável.

Chegar ao Brás não foi problema. Nem encontrar o endereço do local da prova. Complicado foi achar um caminho que desse mão pra chegar na escola... perdi uns preciosos 15 minutos nisso, até que desisti e fiz uma manobra politicamente incorreta: entrei de ré na tal rua. Estacionei o carro bem em frente ao portão de entrada e atravessei (uma rua tranqüila, normalmente pouco movimentada) pra comer algo e comprar água para levar pra prova. Ainda havia uns 10 minutos antes de o portão ser fechado.

Eis que de repente vejo alguém no portão já o fechando! Agarrei meu lanche, deixei o dinheiro no balcão, gritei “depois eu pego o troco!” e atravessei a rua correndo. Mas havia um carro no meio do caminho, no meio do caminho havia um carro... crash! Atropelei o coitadinho!

Foi tudo muito rápido, mas eu não perdi a consciência, graças a Deus. Me vi caída no chão, com a perna visivelmente “torta” pouco acima do joelho, ou seja, quebrada mesmo, mas sem ferimento exposto ou sangue. E quase que na mesma fração de segundo, uma multidão ao meu redor, querendo ajudar.

Queriam me carregar feito saco de batata... ai meu Deus! Eu gritei “não, me deixa aqui”. Se me pegassem de qualquer jeito, eu poderia ter problemas, tipo atingir a artéria femural, expor a fratura... é, eu já tinha alguma noção de primeiros socorros. Mas como Deus está sempre presente, passava por ali naquele momento um bombeiro que, mesmo de folga, jamais abandona seu ofício de ajudar. Ele pegou uma tábua ali por perto, a fim de apoiar e imobilizar minha perna, evitando movimentos bruscos a ela. Logo chegou uma viatura da Polícia Militar, que me levou para o Hospital Municipal do Tatuapé. O calvário estava apenas começando...

Lá fiquei por mais de duas horas gemendo de dor largada sobre um leito... me diziam que não havia maca com rodinhas pra me levar pro raio X. Foi só minha mãe chegar e dar uns gritos que encontraram rapidinho uma... raio X, tração na perna e transferência para o Hospital Bandeirante, na Liberdade. Nessa “longa” viagem (do Tatuapé até a Liberdade) é que senti literalmente na pele como as ruas de São Paulo são esburacadas... ai que dor!

A história é longa... mas vou encurtá-la aqui: foram duas cirurgias, uma placa com nove parafusos (que ainda carrego comigo: sou uma mulher platinada!) e quase dois anos para me recuperar completamente. Meu maior medo era não poder mais jogar vôlei... mas graças a Deus joguei muito depois disso. E ainda vou jogar mais, mesmo com um centímetro a menos na perna esquerda.

Do ponto de vista emocional, muitas dores nesse período. Um dia conto mais...

Tschüß!

PS: escrevendo esse texto é que me dei conta de que nunca peguei o troco na lanchonete... era uma grana razoável na época, algo como dar R$ 50,00 para cobrar um misto quente e um refrigerante nos dias de hoje.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

"Pegou pra criar, foi?"


Um dia saí pra jantar com um amigo. Ele me perguntou o que eu queria comer – acho que ele conhece cada restaurante na cidade dele. Sugeriu italiano, chinês, japonês, iugoslavo... opa, fiquei curiosa. Perguntei o que era típico iugoslavo, e ele disse “carne grelhada”. “Então vamos lá”, disse eu. Pedimos um grelhado misto, e veio o prato, visualmente bonito e chamativo. Eu perguntei a ele se a pimenta era forte (é a coisinha verde entre a batata frita e o pimentão vermelho), e ele disse que não. Ainda assim, mordi a dita-cuja de forma bem comedida... santa precaução! Se aquilo não é forte pra ele, nem quero imaginar o que seja! Ah, a carne é só de porco, e o grelhado é tipo “hamburguer”. Gostei de conhecer, mas confesso que não morri de amores... em uma eventual próxima vez, vou optar pelo tradicional italiano!


"Pegou pra criar, foi?"

Uma amiga minha, que já há anos mora nos Estados Unidos, era o tipo de garota que só gostava de rapazes mais novos que ela. E eu vivia dizendo “vai trocar fralda” ou “pegou pra criar, foi?”. Pois é, um dia eu paguei minha língua. Porém não é sobre o meu caso que vou escrever, mas sim do que eu constatei depois dele.

Pelo que vivi nessa relação e em outras a posteriori, descobri que a idade apita muito pouco nessa questão de “criar”. Há homens que há tempos passaram dos 30, até dos 40, e ainda precisam ser “criados”. Sobretudo se for do signo de câncer, bicho que só anda de lado e se esconde na carapaça... kkkkkk

A relação dos cancerianos com a figura feminina é muito complicada. O homem de câncer é romântico, paternal e voltado à família OU conquistador nato, estilo Don Juan. Ou pior: uma combinação das duas características, o que pode parecer imcompatível, mas eu digo que já vi isso. Essa definição está em qualquer perfil astrológico do signo. No fundo, o que esses homens buscam é uma mulher que os poupe dos problemas da vida, pois, muito provavelmente tiveram forte influência materna desde a mais tenra infância, o que os conduz a muitas inseguranças em suas relações íntimas. Daí a minha afirmação de que a idade pouco importa... homens nesse perfil precisam de uma mulher que os “crie”.

Aí aparece o velho ditado: “filho a gente cria pro mundo” e assim foi com o meu: “criei”, então ele abriu asas e foi embora. Depois dele, outros (notem o plural) cancerianos cruzaram o meu caminho: acho que fiquei “cancerianamente magnetizada”! Só que não estou mais a fim de “educar” homens crescidos, apesar de eu amar desafios.

Porém acho melhor não dizer “dessa água não beberei”... vai que dá sede e não tem outra! Mas eu tô achando que se encontrar mais algum canceriano por aí que me venha com o papo “você é maravilhosa, mas difícil de se chegar perto”, vou sugerir logo no primeiro encontro que vá fazer terapia, porque embora eu seja boa ouvinte, goste de conversar e instigar o outro à alguma reflexão, não sou psicóloga... e esse tipo de homem precisa é de ajuda profissional!

Ciao!

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Utopia concretizada cria jurisprudência?


contei na postagem do dia 13 de abril que fui pra Suíça, e que fomos passear numa montanha, cheia de neve e nevando (ai que frio!). Achei que só eu ia dar uma de doida, de querer fazer guerra de bola de neve, afundar o pé até a neve chegar no joelho... mas o que vi foi um bando de crianças até mais velhas do que eu tomando a iniciativa nas brincadeiras. E nessa farra de andar na neve fofa, sobrou pra mim: me desequilibrei e caí bonito! Porém, antes de me levantar, peguei minha câmera no bolso e a dei pra minha amiga – tinha que registrar aquela cena. Ser criança é bom demais... melhor ainda é guardar por toda a vida uma criança dentro da gente.

Utopia concretizada cria jurisprudência?

Essa pergunta surgiu na minha cabeça depois de ouvir uma amiga falar (na verdade, repetir) de forma taxativa sobre o que eu espero de um homem: “isso não existe”. Aí eu retruco com ela: “claro que existe, já aconteceu comigo”. Ela insiste em me dizer que eu preciso rever minha forma de idealizar um relacionamento, porque no seu modo de entender as coisas, o que eu busco não encontra respaldo na vida cotidiana.

Eu odeio cigarro e seus rastros; não sou a mais ordeira, mas não gosto de ver coisas espalhadas pela casa; não gosto de limpar chão, mas detesto pia suja – e lavo a louça na boa... ou seja, tenho algumas manias. Mas há coisas nas quais eu sei que posso me flexibilizar, mesmo não gostando, se o cidadão em questão assim merecer. Porém existe uma coisa da qual eu não abro mão, absolutamente: comunicação.

O cara não conversa, não fala de si, não se mostra... não dá. A comunicação não é apenas verbal, pode ser também em expressões corporais, atitudes, afinal, a não-verbal é muitas vezes mais poderosa e mais freqüente do que a verbal. É conversando, trocando impressões, que as pessoas se mostram e permitem que o outro as conheça em sua intimidade, em sua essência. E sem conhecer o outro, pra mim não rola. O problema é que hoje em dia as pessoas não têm tempo para dedicar a conhecer umas às outras. De novo esse assunto*.

Se utopia concretizada cria jurisprudência eu não sei. Mas continuarei acreditando que tudo pode acontecer, ainda mais quando o objetivo final for o amor e a harmonia entre dois seres.

Auf Wiedersehen!

* Veja aqui um texto já postado no qual falo sobre esse mal horroroso dos tempos atuais, a falta de tempo:
Time is money – a aceleração da vida
http://marinanoar.blogspot.com/2007/08/no-meu-texto-de-abertura-eu-comentei.html

domingo, 13 de abril de 2008

O “macho” da minha vida


Na Páscoa visitei amigos brasileiros na Suíça francesa, em Gland, uma cidadezinha situada perto de Genebra, às margens do enorme lago de mesmo nome. Num dos passeios, fomos pra uma montanha ali perto. Tava um frio danado, neve pra todo lado, lindo de se ver. Mas em algum ponto do caminho me senti chegando na capital mineira... um restaurante à beira da estrada tinha um letreiro escrito “Bel Horizon”... pensei comigo: “uai sô... cheguei em Minas Gerais e nem pircibi... i qui trem doido é esse sô... caiu umas letra e eles nem arruma!” kkkkkk


É, mas eu tava muito longe do pão de queijo... porém, o horizonte que se vê daquele local é realmente muito belo! Dali avista-se uma enorme extensão do Lago de Genebra, o Mont Blanc, um dos maiores maciços dos Alpes (mas que naquele dia infelizmente estava encoberto) e várias cidades que ficam na beira do lago – do outro lado já é França. Fiz uma montagem com duas fotos, pra ilustrar melhor o que descrevo aqui. Oui, c'est un bel horizon. Au revoir!


O “macho” da minha vida

Há algum tempo li o livro de crônicas do Arnaldo Jabor “Amor é prosa, sexo é poesia”. Entre diversos textos, inclusive o que serviu de inspiração pra Rita Lee compor a música homônima ao título do livro, tem um que se chama “O mundo de hoje é travesti”. Trata-se de uma visão bem realista de como a mulher deseja ser tratada, mas de como o mundo de hoje a obriga a ser. Afirma também que o mundo atual é essencialmente feminino, porém dirigido por homens boçais (essa foi muito boa... melhor ainda por ter sido escrita por um homem!).

Me identifiquei com aquelas palavras... tenho plena consciência de que há 13 anos, logo depois de me tornar mãe, tive que assumir o papel de “macho” da minha vida, por razões óbvias de quem se torna “pãe”. E descuidei completamente da mulher doce e meiga que existe em mim – sem perceber, a ocultei completamente nesse tempo todo. Homens detestam concorrência... têm medo de mulheres fortes. Isso explica o fato de eu ter tido tão poucos relacionamentos nesse tempo. O processo de autoconhecimento é lento... tenho me dedicado a isso nos últimos meses, e demorôôôô... descobri que quero voltar a ser mulher, urgentemente!!! kkkkkkkk

“Querer é poder”... se fosse tão fácil assim, eu já tinha resolvido essa parada. Mas tudo que demanda interação com outras pessoas (ou seja, 99,999999% das coisas da nossa vida) tem o ingrediente complicador de lidar com as emoções, desejos e medos explícitos e ocultos do outro. Se muitas vezes nem os nossos próprios estão bem claros e resolvidos, imaginem como fica o contato com alguém cheio de escudos, alguém que até tá cansado de ser sozinho, mas que se habituou a viver numa redoma e, por mais que queira, não consegue sair dela!

Várias amigas minhas declaram sua admiração por mim por meio de adjetivos como “guerreira”, “batalhadora”, “sensível mas pragmática”, “compreensiva mas às vezes incisiva demais”, “macho-de-saia”... às vezes acho que não sou tudo isso que me dizem... tenho meus medos, minhas dúvidas, meus altos e baixos... mas “macho-de-saia” infelizmente sou sim. E quero deixar de ser, mas já sei que isso não depende apenas de mim... é preciso que eu seja devidamente tocada em minha essência feminina para que a mulher venha à tona (o citado texto do Jabor diz, ainda que forma genérica, como isso pode acontecer).

Aí entra o dilema Tostines*: eu não consigo mudar porque não sou tocada, ou não sou tocada porque continuo sendo “macho-de-saia”? Complicado... mas o fato de eu estar consciente já ajuda um bocado. Verbalizar isso em alto e bom som me mantém firme no caminho da mudança. Mas ninguém é uma ilha... sempre precisamos de outrem para interagir, para corroborar as mudanças.

Paciência... tudo acontece devidamente a seu tempo. Pelo menos eu sei que tenho feito a minha parte.

Fuii!!!

* Dilema Tostines: é de um comercial de biscoitos de mesmo nome, que lançava a pergunta “Tostines vende mais porque é fresquinho, ou é fresquinho porque vende mais?”. Detalhe: essa pergunta nunca foi satisfatoriamente respondida.

sábado, 12 de abril de 2008

Continuidade


Tanto tempo sem escrever... tanta coisa aconteceu... nesse período abriu-se um vazio imenso no meu coração, com a partida do meu pai... mas a vida segue adiante. Da mesma forma que seguiu desde essa foto (em algum lugar bonito do noroeste paulista, à beira de um rio, meu pai abraça suas três meninas, e eu até faço pose!) até os dias atuais. Aliás, é sobre seguir adiante o texto de hoje. É o 13° aniversário da minha filha... há muito tempo venho matutando sobre essa coisa legal que é ter filho. Às vezes acontecem coisas chatas quando o diálogo se esgota, como ter que brigar, falar alto, impor coisas... e eu odeio brigar, me faz mal. Mas no frigir dos ovos, o lado bom sempre prevalece.

Continuidade

Há exatamente treze anos eu entrava pro time das pessoas que recebem a graça de ter continuidade na vida. O dia 12 de abril de 1995 começou bem cedo, e às 9h22 eu virei “nós”. Naquele momento senti que a responsabilidade de receber um ser pra cuidar e orientar era muito maior do que a alegria que ele trazia. Mas ao mesmo tempo, a alegria de ver cada gesto, cada sorriso e cada choro daquela pequena criatura só alimentava mais o meu desejo de fazer valer a confiança que a Divina Providência havia depositado em mim. Eu já sabia que esse ser viria sem manual de instruções, por isso fui construindo a criação da minha filha a partir das experiências que eu vivi e que das coisas que via ao longo do caminho, colhendo as lições boas e descartando as ruins.

Nesse período recebi elogios diversas vezes por ter uma filha tão bem educada, interessada, bastante madura pra idade dela, sempre à frente da sua cronologia. Desde cedo eu procurei dar a ela uma noção de independência, porque sempre trabalhei fora e pensava que ela precisava saber fazer algumas coisas sozinha, como se servir à mesa, se trocar pra ir à escolinha... é, essa noção de independência foi crescendo... e hoje é preciso puxar as rédeas – a mocinha tá “acelerada” demais. Mas ainda assim acho mais fácil pisar no freio do que ter que empurrar!

Mas a continuidade... Ter um filho não é apenas “povoar o mundo”. Ter filho é o começo da própria imortalidade, é ter pra quem passar seus princípios, crenças e valores; é ver-se naquela pessoa, enxergando atitudes que você mesmo tomaria, e se orgulhando dela por isso. É ficar feliz por saber, ver e sentir que aquilo que se recebeu dos pais MAIS o que se aprendeu ao longo da jornada, de outras pessoas igualmente importantes (minha madrinha, amigas, amigos e até mesmo de desafetos, as chamadas “contra-lições”) segue adiante. É construir um ser melhor do que você mesmo, mas não uma cópia fidedigna sua, afinal, a individualidade é essencial para o ser humano. E a formação dessa personalidade única é algo que se molda ao longo do caminho, mas que precisa ter como base os princípios, crenças e valores que aprendemos de nossos pais na mais tenra infância.

Sei que a tarefa é perene... mas infelizmente nem sempre 100% aplicável no dia-a-dia, sobretudo de quem é “pãe” como eu. Eu também sou alguém em construção, que às vezes falha e precisa de apoio. Mas a responsabilidade de ser a continuidade do meu pai e de já ter a minha própria continuidade me dá forças pra seguir adiante. O legal é que às vezes esse apoio vem da minha própria cria... é, entre erros e acertos, sinto que meu saldo tá positivo.


Até breve!

domingo, 2 de dezembro de 2007

Quem sou eu?


Dias e noites brancas... é muito bonita a noite com neve... fica tão claro como se tivesse lua cheia. E ao amanhecer, a luz do sol (quando ele aparece) torna a paisagem ainda mais incrível. A natureza é muito sábia – as árvores não apenas “escondem” a vida dentro de seu tronco e galhos, como os tem fortes pra agüentar o peso da neve, que não derrete assim tão rápido quando as temperaturas permanecem baixas após a nevasca. Nessa época, o melhor lugar pra gelar a cerveja é o quintal! kkkk



Quem sou eu?

“Conhece-te a ti mesmo, e conhecerás o Universo”
(Sócrates, 470-399 a.C.)


Recentemente tenho feito algumas leituras bastante interessantes... não só do ponto de vista intelectual, mas sobretudo espiritual. Na verdade, as duas coisas se fundem, quando devidamente exercitadas na vida.

E com essas leituras tenho praticado mais assiduamente essa máxima de Sócrates. Claro que não é algo do tipo “eureca, descobri!”, mas sim uma percepção lenta e gradual das coisas que já sou e o que preciso melhorar.

Eu que sempre me julguei 100% tapada emocionalmente, percebi que a inteligência emocional é algo tão amplo e complexo... com essa leitura, notei que em alguns aspectos dela sou bastante avançada, sobretudo em empatia, compreensão do outro, gerenciamento de conflitos (e até mesmo como evitá-los), entre outras coisas. Percebi também que tenho plena consciência dos meus sentimentos, muitas vezes na hora em que eles ocorrem, mas sou fraca em lidar com eles de modo a me transformar emocionalmente para melhor.

O desenvolvimento da inteligência emocional começa na mais tenra infância, e suas marcas são levadas pela vida afora. Portanto, se o exemplo tido em família não tiver sido emocionalmente positivo na maior parte do tempo, ficam na criança marcas de falta de confianca em si mesma e nos outros, entre outras. Isso gera uma série de pequenos entraves na vida (todos de origem emocional) que podem se tornar grandes problemas, se não forem percebidos e combatidos. Mas a parte boa é que, o que talvez não tenha sido assim tão bom PODE ser modificado e reaprendido, e as conseqüências desse reaprendizado refletem diretamente na saúde emocional e, em seguida, na saúde física.

Não estou aqui falando nada que EU tenha descoberto... inteligência emocional é algo que pode ser nato, e se não for, pode ser aprendido. Mas demanda constante vigilância de nossos pensamentos, sentimentos, palavras e ações. O legal é que o ser humano é dotado da capacidade ILIMITADA de aprender, e quando está decididamente interessado em seu próprio bem-estar, é capaz de virar o jogo e cultivar apenas bons pensamentos, que conduzem a boas palavras, que por sua vez levam a boas ações.

Um bom começo é observar muito atentamente cada sentimento que se tem, e trabalhar a consciência para combater aqueles que não forem bons, sobretudo a raiva. Aliás, a raiva foi cientificamente constadada como sendo o mais pernicioso dos sentimentos, que tem uma capacidade imensa de influir na saúde física, levando as pessoas a problemas como hipertensão arterial e outros problemas do coração. Nesse ponto sou feliz, porque há muito tempo não sei o que é sentir raiva – para evitá-la, coloco a empatia em ação. Mas repito, não foi da noite pro dia... foi um processo de vigilância constante, que graças a Deus deu resultado.

Respondendo à pergunta do título, eu sou alguém que quanto mais aprende, mais tem consciência da própria ignorância. E quanto mais aprendo, mais desejo compartilhar o que sei, pois se tem feito bem pra mim, pode ser que venha a fazer bem para as pessoas ao meu redor.

Até a próxima!

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

O escudo que virou armadura


Estive em Nürnberg com a Thaís em agosto do ano passado. Esse forte é do século XIII. No museu lá dentro, há várias armaduras em exposição, mas não é permitido fotografar. Muito interessante ver como os guerreiros de protegiam nas batalhas da época – em algumas armaduras, havia uma proteção extra para o escroto, cuidadosamente planejada para proteger a área de lazer... porém em outras, era fácil matar o cara enfiando a lança pela lateral, onde a armadura não era de ferro, mas sim de algo parecido com couro, para emendar a frente com as costas. Coisa de homem mesmo, que só pensa no corpo, esquece que é também sentimento, alma. É, a coisa não é de hoje.


O escudo que virou armadura

Um dia desses, conversando sobre coisas da vida com o namorado de uma amiga, ele disse algo que me fez pensar mais sobre minha forma de ser no tocante à relação com o sexo oposto: “se os homens agem sempre igual com você, o problema não está com eles, mas sim com você mesma”.

Não é segredo pra ninguém, sobretudo para as pessoas mais próximas a mim, que me conhecem a fundo, que eu sou “dura na queda” nessa área: simplesmente não permito que possa existir a possibilidade de alguém pisar na bola comigo.

(In)felizmente a vida fez com que eu me tornasse um ser duro (mas não insensível), determinado (mas não inflexível), que sempre precisou ser forte (mas não imbatível) em todas as circunstâncias. Desde o início da minha vida adulta, não me lembro sequer de uma ocasião em que pude me entregar ao choro e ao colo de alguém. Mesmo machucada, dolorida, sempre tive que me manter altiva e continuar lutando, por mim e por minha filha.

Tenho consciência de muito do que se passa comigo... quase tudo talvez. Em muitos pontos eu sei exatamente qual é o problema e sua origem, porém, não consegui ainda o caminho para resolvê-los. E sei também que mui provavelmente isso me atravanca. Nesse caso, ter consciência dói mais do que não tê-la.

Desde cedo me armei com um escudo para me defender. Nunca fui o modelo de beleza (física) que a sociedade impõe. Na escola recebia inúmeros apelidos desagradáveis, era alvo fácil de brincadeiras de todo tipo. Namorado na escola? Não, nunca tive. E qualquer um que se aproximasse de mim, eu já desconfiava que era pra bagunçar com a minha cara ou pra querer sentar perto de mim no dia da prova – simplesmente não acreditava que alguém pudesse se aproximar de mim com sinceridade e seriedade. Essa forma de agir é resultante do medo de se entregar, do medo de sofrer. Mas gente, quem tem medo de sofrer vive sofrendo de medo!!! kkkkkk É, é melhor rir do que chorar.

Com o passar do tempo, o escudo virou armadura. Está há tanto tempo aí... desconfio que os fechos já enferrujaram, o que dificultaria sua retirada. Mas graças a Deus existe substâncias desenferrujantes pra ajudar nessa tarefa – o lance é encontrá-las.

Minha filha sempre me fala que queria ser como eu, calma e tranquila, pois ela é “esquentadinha” e não consegue ficar sem revidar algo que a incomode. A vida me ensinou que a gente é melhor ouvida (e até compreendida) quando fala baixo, porque assim consegue falar direto ao coração. Portanto, mui dificilmente alguém vai me ver brigando, discutindo, falando alto para me impor. Esse não é o meu modo de agir, nem mesmo quando provocada.

Eu realmente sou uma pessoa fácil de lidar, desde que seja respeitada em todos os sentidos. A vida é como um espelho: eu faço com os outros da forma que eu gostaria que fizessem comigo. Mas não pise no meu pé... porque eu realmente sou muito boa, mas quando sou má, sou melhor ainda! As pessoas que experimentaram esse meu lado perceberam, tardiamente, a mulher de valor que existe em mim. O meu “ser má” consiste apenas em me fazer entender, normalmente em palavras escritas e MUITO assertivas, de forma que o outro perceba o quanto estava equivocado em relação à minha pessoa.

Reconheço que sou muito dura mesmo. Mas também sou muito suave, e gosto mais de mim assim. É só saber como lidar.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

O certo e o errado




O certo e o errado

É sempre interessante como as pessoas querem impor suas próprias verdades, sem ao menos se perceber que cada um tem a sua. O que é certo pra um pode não ser pra outro. Porém isso não siginifica abrir mão de seus credos e pontos de vista, mas sim uma criar uma abertura para que se estabeleça a comunicação e o respeito entre as partes. Essa tira do Hagar é perfeita pra ilustrar o que tô dizendo.

Eu duvido sempre de quem diz saber tudo e quer estar sempre com a razão. Normamente esses são o que menos sabem da essência das coisas. Quanto mais eu aprendo, mais consciente fico sobre o tamanho da minha ignorância.

Até mesmo as verdades de cada um precisam ser constantemente colocadas à prova, porque todas têm seu prazo de validade. Afinal, a única coisa constante no mundo é a mudança. E olha que quem falou isso foi Heráclito, uns 500 anos antes de Cristo.

Quem fica parado é poste!

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Festas juninas e quadrilhas


A foto de hoje ilustra pontualmente o texto: eu dançando quadrilha na festa junina do pré na Penha.
Fizemos sucesso com essa dança: apresentamos na própria escola, no Clube Esportivo da Penha e na Praça de Eventos da Estação São Bento do metrô. Saiu até na Folha da Tarde... adivinha quem estava bem no meio da foto que foi publicada??? Euzinha... hehehe

Festas Juninas e quadrilhas

Sempre que se aproximava o mês de junho começavam os preparativos para a festa junina da escola. E dançar quadrilha era básico. Primeira etapa era a definição do casalzinho que seriam os noivinhos, em seguida definiam-se os pares. Eu nunca fui noivinha, mas sempre me divertia muito dançando.

Minha mãe não é costureira profissional, mas sempre se ocupou pessoalmente das nossas roupas caipiras. Me lembro que eu chorei e fiquei emburrada quando ela me mostrou o tecido que havia comprado pra fazer o meu vestido, porque achei ele simplesmente feio e sem graça: azul com pequenas bolinhas brancas. Mas depois do vestido pronto, com rendas e borda no chapéu, ficou bonito mesmo (vamos falar sério... Dona Irma é caprichosa).

Nessa mesma época também era comum que houvessem na vizinhança festas com fogueira, pipoca, quentão e outras comidas típicas. E na véspera da minha apresentação de quadrilha foi na casa da Dona Rosa, que tinha um cão pastor alemão muito bravo, sempre preso na corrente.

A festa transcorria normalmente. Quando soltaram o balão* eu fui acompanhando-o no céu. Distraída, dei alguns passos pra trás pra ver melhor. E entrei no raio de ataque do cachorro, que me derrubou com uma patada, furando minha perna atrás do joelho com uma de suas unhas.

Passado o susto, minha preocupação era como fazer pra dançar! Fomos pra casa, fizemos curativo e no dia seguinte bem cedo, minha mãe foi comprar uma meia mais comprida a fim de não deixar o esparadrapo aparecer. Ainda bem que não ficou doendo e pude dançar normalmente.

Essa cicatriz tá lá, atrás do joelho direito, pra quem quiser ver!

* na época não era crime fazer isso, embora as consequências sempre pudessem ser desastrosas.

Meu primeiro namorado


Depois de viver em alguns rincões brasileiros, como Norte e Nordeste, parti pra explorar o Velho Mundo. Primeira parada: República Federal da Alemanha. É sábia a frase que diz “o mundo é muito grande e a vida é muito curta para que se fique muito tempo parado em um único lugar”. Só uma coisa deve permanecer com a gente o tempo todo, onde quer que se vá: o amor. O resto a gente conquista.

Meu primeiro namorado

Nos mudamos para Penha, Zona Leste de são Paulo, quando eu tinha 5 anos. Vizinhança, escola e amigos... tudo era novidade. Minhas irmãs já estavam na escola, eu ainda ia ao pré-primário.

As escolas (pré e primeiro grau, onde minhas irmãs estudavam) ficavam lado a lado, porém um pouco distante da nossa casa. Na vizinhança, as crianças estudavam praticamente no mesmo local, porém em horários diferentes. Então, as mães se organizaram de forma que apenas uma precisasse ir levar ou buscar a trupe na escola em cada horário.

O que interessa é que a gente sempre ia junto: eu, o Fábio e mais um monte de crianças. Ele tinha uma irmã e dois irmãos, e era um ano mais velho que eu. E dizia pra todos que eu era namorada dele... eu morria de vergonha!

Nossas mães sabiam disso, e a mãe dele fazia o maior gosto nesse namorico. Era uma coisa super inocente, mas altamente emocionante! Ele pegava na minha mão, a beijava, olhava nos meus olhos e dizia que gostava de mim... olha que coisa mais abusada para crianças de 5 e 6 anos!!!

A coisa era séria, pelo menos pro meu inocente coraçãozinho, tanto que no ano seguinte ele foi pra primeira série e eu ainda fiquei no pré, e chorava sozinha pelos cantos no pátio porque ele não estava mais lá pra brincar comigo. Mas eu pensava que quando fosse pra primeira série, estaríamos na mesma escola de novo. Engano meu. No início do ano seguinte minha família se mudou pra Guarulhos. E aí perdemos o contato. Ou melhor, perdemos o encanto, pois nossas mães mantinham contato.

Alguns anos depois nos encontramos novamente, eu já na faculdade. A mãe dele ainda fazia gosto daquele namorico de criança... mas a vida tinha dado tantas voltas e meu caminho já se apresentava à minha frente: o mundo por explorar.

Depois que Dona Marinalva virou estrela nunca mais tive notícias. Mas sempre lembro dele e dos irmãos com carinho. Espero sinceramente que estejam bem e felizes.

sábado, 27 de outubro de 2007

E porque as mulheres acreditam?


Hoje tô blue... coisas da vida. Tenho como conduta sempre acreditar que as pessoas são boas, até que se prove em contrário. Acreditar é preciso! A própria natureza sempre se renova e se modifica, mesmo depois de tormentas... por que não também o ser humano? Vejam que obra de arte da natureza na beira no rio, em processo de transformação. Na natureza eu confio plenamente... Deus permita que eu não perca a capacidade de acreditar também no bicho homem.


Ah, Nonô, obrigada pela visita. Eu sabia que você estava bem... tenho me esforçado pra seguir seus conselhos. E tenho fé que vou conseguir.

E porque as mulheres acreditam?

Pois é, uma pergunta puxou a outra. Outro dia reli um texto que recebi pela internet há tempos... o encontrei em velhos arquivos pessoais. O texto foi escrito por um homem, que falava sobre o maior defeito da mulher.

Segundo ele, o homem nasce, vive e morre uma existência infanto-juvenil, enquanto que a mulher, desde cedo, se prepara para a vida. Ele exemplifica isso com as brincadeiras de criança: meninas brincam de casinha e com isso aprendem a organizar as coisas, brincam de boneca e criam a atmosfera de serem mães cuidando dos bebês (brincadeiras de ordem prática, não?).

Você já viu um menino brincando de ir ao banco pagar contas? Ou brincando de ficar estressado com o imposto de renda? Meninos brincam de carrinho, lutas e armas, sempre num clima de competição e fantasia (“o meu é melhor, mais potente, mais caro”). Então entra aí um ditado corretíssimo: “the difference between men and boys is the price of their toys” (a diferença entre homens e meninos é o preço de seus brinquedos). Ou seja, desde cedo o homem aprende a competir, a querer estar em posição de destaque diante dos amigos e da sociedade.

Entre os alvos dessa “competição” está a mulher, de uma forma invariavelmente nada louvável... muitas vezes ela é para o homem um objeto de desejo cuja conquista pode trazer uma satisfação semelhante a da compra do carro dos sonhos – mesmo que ele a AME de verdade. Ainda mais se for um tipo top model... os amigos vão ficar de queixo caído! hehehe...

Mas voltando ao texto do cara. Para ele, o maior defeito da mulher é acreditar firmemente na possibilidade do homem ideal. Concordo em gênero, número e grau. É por isso que a mulher acredita nas histórias que os homens contam, mesmo sabendo que as chances de ser mentira beiram os 99,9%. Ela acredita porque DESEJA FIRMEMENTE que seja verdade. Infelizmente nem todas estão devidamente preparadas para as decepções... ficam mal, choram etc. Nessa hora o que vale é a sabedoria “nelson-nediana”, que canta “mas tudo passa, tudo passará...” E passa mesmo, Deus é Pai!

Porém, viver duvidando de tudo e todos deve ser muito cruel... ainda tô tentando descobrir essa linha tênue entre acreditar ou não, porque nem sempre se consegue captar a mentira no brilho dos olhos (muitos homens são PhD em disfarçar algumas evidências). Em todos os casos, ainda acho que o melhor é duvidar. Se porventura o camarada estiver sendo realmente sincero, vai insistir. E nós mulheres vamos perceber a verdade, mais cedo ou mais tarde. O problema é que às vezes pode ser tarde demais... eita complicação!


Porque os homens mentem?


Aqui as estações do ano são lindamente bem definidas. Agora, por exemplo, tenho me deliciado com as cores do outono. Até então, eu achava que era predominantemente amarelo, pois as folhas secam e caem. Só que voltando da Uni outro dia, passei por um prédio que é coberto em parte por uma trepadeira, cujas folhas normalmente são verdes. E as suas folhas estavam... vermelhas! Depois ficam amarelas e caem. Parei e fotografei, é claro. Cenas de outono...


Porque os homens mentem?

Pois é, agora a pergunta que ficou martelando, e em mim, foi essa.
Bom, fiz uma humilde listinha de motivos que levam os homens a mentir (a partir da minha experiência e a de algumas amigas). Claro que não são todos que mentem... só 99% deles. Aceito contribuições!

  • por necessidade de auto-afirmação
  • para seduzir e conseguir o que quer (sexo)
  • para conquistar
  • pelo desejo de possuir algo que está fora do alcance
  • acha que todo mundo mente então faz o mesmo
  • para se mostrar melhor do que é e fazer imagem do que não é
  • para tentar encontrar o ponto G de cada mulher (tolinhos... nunca sabem onde é!)
  • complexos (Édipo, por exemplo)
  • por medo de rejeição
  • por imaturidade
  • para administrar “projetos paralelos”
  • ...

E porque, mesmo depois de evidenciada a mentira, eles continuam mentindo:

  • para JAMAIS admitir que já mentiram antes.

Na verdade, a lista pode se alongar mais e até se tornar repetitiva. Mas penso que a raiz de todos os motivos está na criação divina, que fez o homem dotado de uma capacidade emocional LIMITADÍSSIMA, pois nos primórdios da humanidade a função do macho era apenas a de procriar, caçar e prover – não tinha a menor necessidade de sentir emoção.

Por outro lado, o Criador fez o ser humano dotado de inteligência, a fim de que ele fosse se melhorando com o passar dos tempos, quando as necessidades pudessem ser supridas de forma menos complicada. Só que os homens não souberam e ainda não sabem desenvolver seu lado emocional. Alguns ficam a vida inteira ligados na figura materna... outros trocam de mulher como trocam de roupa... e ainda há os que conseguem levar várias paralelamente – troféu “cara-de-pau” pra esses.

Acreditar em homem? Eu ultimamente não tô dando crédito nem pro meu pai...

A pergunta que ficou martelando


Esse é o resultado da “operação caneca” desse ano: duas Maß (Paulaner e Löwenbräu) e uma de meio litro (Spaten). Faltou uma Maß da Augustiner... mas a Ale conseguiu e vai me dar. Saibam os leitores que é proibido sair dos pavilhões com a caneca, eles até revistam a mochila se for o caso. Mas quem disse que foi na mochila que eu coloquei?


Ah, falta também uma do Hofbräu, mas essa a gente “compra” por 1 Euro no Englischen Garten. Explico: lá a gente paga 1 Euro de depósito quando pega a cerveja e vai se sentar ao ar livre no Biergarten. Depois, em tese, vai devolver a caneca e recebe de volta € 1,00. É o souvernir mais barato que tem pra comprar por aqui... kkkkk


A pergunta que ficou martelando

Há tempos venho pensando em escrever sobre homens e suas mentiras. Material não tem me faltado ultimamente (infelizmente). E quanto mais mentira deles eu ouço, mais me sinto insultada em minha inteligência e capacidade de observar as coisas. Mas eles não estão nem aí... e se ofendem se porventura a gente os confronta com fatos, deixando-os numa sinuca de bico, sem ter como refutar. Mas pra sair bem na foto, mentem mais um pouco. E eu finjo que acredito, porque é melhor não contrariar... kkkkk

Um dia desse, na Oktoberfest, estávamos num grupo bem heterogêneo, em se tratando de nacionalidade. Um dos homens me chamou a atenção: bastante charmoso, um tipo aparentemente “maduro”, realmente interessante. E bastante espirituoso, brincalhão. Quando ainda estávamos indo pra festa, no trem, ele comentou: “eu não bebo e não fumo”. Certamente era brincadeira.

Ao chegar lá, ele foi logo pedindo cerveja e riu de mim que pedi Radler (sempre misturada com limo). Aí lembrei do que ele havia dito e falei: “pois bem, você não fuma e não bebe. Provavelmente também não mente, né?”, perguntei devolvendo a brincadeira do trem. Precisam ver a cara do cidadão olhando pra mim... ficou atônito alguns segundos antes de responder que não, e ainda de forma hesitante.

Durante nossa permanência naquele pavilhão, rolou muito papo entre todos os presentes. Ele foi falando um monte de coisa da vida dele pra mim. Eu não perguntei nada a respeito – só ouvi. Não tava nem aí pro fato de ser verdade ou não, apesar do charme... afinal, ele estava “distribuindo” charme para várias direções (homens e seu instinto de preservar a espécie... afff).

Algum tempo depois ele veio a mim novamente e disse que havia mentido algumas coisas, e que queria dizer a verdade. Eu continuei ouvindo. E no final das contas, não me arrisco a afirmar se houve alguma verdade ali: a primeira, a segunda ou nenhuma.

Sinceramente, não entendi o motivo de ele querer “contar a verdade”, mas provavelmente a minha pergunta deve ter ficado martelando e ele deve ter percebido que eu era esperta o suficiente pra captar algo além das palavras. Ah, realmente ele não fuma: sobre isso ele não mentiu. Sobre o resto, só Deus sabe!

Mas fica aí a pergunta: por que os homens mentem?

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Pizza em São Paulo


Pizza aqui na Alemanha é carente de queijo... aquele queijo amarelo, mussarela mesmo, derretendo que dá água na boca... aqui a gente compra a pizza congelada ou se o bolso puder telefona e pede, ou então compra a massa e faz em casa, como a dessa foto, feita pela Ale no aniversário do Fidelis – vale ressaltar que estavam muito boas, não apenas bonitas. Mas... continuo preferindo a pizza em SP. (Foto do Fidelis).

Pizza em São Paulo

Lá no Pará a pizza era simplesmente horrível: já vinha da cozinha do restaurante cheia de catchup por cima. Eu chamo isso de “crime inafiançável contra a tradição pizzaiola”. Mas naquela região faz parte do paladar comer pizza com catchup e maionese... argh!!!

Bem, estávamos eu, o meu então namorado (hoje devidamente “falecido”) e o nosso “peixe” num bar lá no meio da selva amazônica. E essa história de criticar o modo de comer pizza (com catchup e maionese) não era nova: nosso “peixe”, carioca da gema, também não achava aquilo normal. Mas eis que naquele dia ele pediu pizza e, para o meu horror, pegou a bisnaga de catchup e espalhou aquela meleca vermelha sobre o disco fumegante. Foi automático – eu e o “falecido” falamos ao mesmo tempo “pizza com catchup... argh!” e o nosso “peixe” imediatamente retrucou “quem disse que isso aqui é pizza?”

Entramos numa discussão sobre onde a pizza era melhor, mais gostosa. Eu disse enfaticamente: “pizza é em São Paulo!” e o meu namorado emendou “pizza é na Itália” (obs: ele era alemão). Achei melhor não retrucar, afinal eu nunca estive na Itália, mas que a pizza de São Paulo é muito boa, isso é inquestionável. E a conversa morreu aí.

Ele voltou pra Alemanha e comprou um carro novo. E para estrear o carro, convidou a mãe e a irmã para irem “ali” na Itália comer pizza: cinco horas de viagem. Tudo bem, para o debut do carro, valeu. Segundo ele, a pizza também estava muito boa.

Pouco tempo depois ele veio a São Paulo me visitar. Lembrou da história e foi logo falando: “quero ver se a pizza de São Paulo é boa mesmo”. Então peguei dica com uma amiga e o levei no Bixiga, na Pizzaria Esperanza. Depois de comer, eis que ele diz “é, você não precisa digirir 5 horas pra comer uma boa pizza”. Mas achei que era pouco, e resolvi levá-lo também a uma cantina italiana, essa bem mais perto da casa da minha mãe: menos de 10 minutos de carro. Ele fez cara de “Oh! Que delícia” e disse que realmente era muito mais fácil pra mim ter boa comida italiana por perto do que pra ele.

Resolvi escrever essa história porque já a contei pra tanta gente... aconteceu novamente nessa semana – um amigo me disse que gosta muito de pizza de salame. Mas convenhamos, aquilo que eles chamam de pizza aqui tá muito aquém do que o meu paladar entende como tal. Não que seja ruim, mas na hora da pressa, eu prefiro comer pão torrado com margarina do que pedir pra entregar uma pizza – não é barato e o sabor não me convence – acho que falta queijo!!! O mesmo vale para as congeladas do mercado: até são mais baratas, mas não é algo que eu tenha no freezer como opção para o momento da preguiça. Só compro quando dá vontade, e isso é raro de acontecer.

Ah, já comi uma pizza caseira feita por italianos aqui, mas a de São Paulo ainda é melhor. Vamos ver se minha opinião vai mudar depois que eu tiver a oportunidade de comer pizza na “bota”.

bjsss

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Xadrez


Esse é meu novo tabuleiro... continua faltando com quem jogar!!!

Xadrez

Nunca havia cogitado em aprender a jogar xadrez. Nem tinha noção de que cada peça tinha função diferente... na verdade, nunca tinha tido oportunidade nem curiosidade.

Tudo começou na quinta série. Escola nova, colegas novos... entre eles, um menino de óculos com uma armação enorme de um formato que mais parecia olho de mosca, e lentes fotocromáticas que escondiam os olhos azuis dele. Até a quarta série, eu sempre tinha sido a melhor aluna da classe – minhas notas eram habitualmente as mais altas, e até então não havia tido alguém que “emparelhasse” comigo nesse quesito. E enquanto não viessem as provas do primeiro bimestre não teria como saber se havia ali naquela turma “concorrência” pra mim. Na verdade, isso não tinha a menor importância... desde que as minhas notas continuassem boas, não havia problema se alguém mais se destacasse (na verdade a única vantagem disso era ter um pouco mais de simpatia dos professores, porque ser chamada de CDF não tinha a menor graça).

Pois esse menino dos óculos grandes e olhos azuis era o cara. Inteligente e com um humor a toda prova – aliás, às vezes muito ácido, o que com o tempo vim a perceber que era essa uma das suas mais fortes marcas (estudamos juntos até o segundo colegial). Era o tipo do cara que perdia o amigo mas jamais perdia a piada.

No último bimestre da quinta série houve a feira de ciências. A turma se dividiu em grupos e cada um escolheu sobre o que gostaria de expor. E esse colega escolheu como tema o xadrez. O que eu não sabia é que ele era fera no assunto, fazia aulas com o mestre Herman Claudius em São Paulo e já possuía inúmeras medalhas e títulos dos campeonatos que participara.

Ao visitar os estandes da feira de ciências, parei no xadrez. E ali tive a minha primeira aula sobre o jogo. Me interessei tanto que não muito tempo depois já jogava, claro que como aprendiz, ou seja, jogando e ele comentando minhas jogadas (fazia cada besteira... mas estava aprendendo).

No inicio da sexta série, participei do meu primeiro torneio: Campeonato Paulista Escolar, no Clube Esperia, em São Paulo. O interessante é que eu nem sabia que ia participar: meu colega e “mestre” me avisou na sexta-feira que haveria competição no sábado e domingo e que eu JÁ estava inscrita. Fazer o que... lá fomos nós. Até que pra uma estréia fui bem, ficando em quarto lugar. E a soma dos pontos dele (campeão, é claro) com a minha humilde quarta posição (entre sete participantes) rendeu o troféu de primeiro lugar pra nossa escola.

Depois disso participei de outros torneios e fui campeã de Guarulhos duas vezes. Mas infelizmente não tenho com quem jogar... e sem praticar o cérebro fica preguiçoso. Da última vez que tive um parceiro de jogo foi interessante: as primeiras partidas eu perdi feio, só fazendo besteira. Mas depois de uns quatro, cinco jogos, o cérebro engatou e o coitado teve muito trabalho comigo – perdeu muito mais do que ganhou.

Xadrez é uma batalha: não adianta ir à guerra sem uma estratégia. E qualquer movimento errado pode colocar todo o exército em risco ou mesmo provocar mais rapidamente a morte do rei. E rei morto, fim de jogo.

Quem aí souber jogar e estiver a fim, faça contato!