sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Time is money – a “aceleração” da vida


No meu texto de abertura, eu comentei que escreveria histórias da vida aqui... já tenho um arquivo de 3 páginas apenas com tópicos! Mas por enquanto tô a fim de escrever sobre o que venho sentindo há tempos... sobre as reflexões a que alguns recentes acontecimentos têm me levado. Coisas que há tempos são meu modo de pensar e agir, mas que ninguém (ou quase ninguém) sabe a fundo. As histórias virão... inocentes e não tão inocentes assim... mas tudo a seu tempo. Imagem do dia: Guarapari, no Espírito Santo, com um navio de minério da Samarco (quase imperceptível) bem ao fundo.


Time is money – a “aceleração” da vida

“Para unir, é preciso amar.
Para amar, é preciso conhecer.
Para conhecer, é preciso ir ao encontro do outro”
(Cardeal Mercier)

Essa epígrafe estava no meu livro de Educação Moral e Cívica da sexta série. Muitos vão perguntar “que matéria é essa que eu nunca tive?” É resquício dos tempos de ditadura: ensinar na escola como o cidadão tinha que se portar, claro, de acordo com os militares. Tinha também OSPB (Organização Social e Política do Brasil), na oitava série. Sei que não existe mais há um bom tempo. Mas acredito que seria bom que voltasse a existir... não com o foco “linha dura”, mas com o propósito de ensinar um pouco mais de cidadania às crianças, a fim de que elas pudessem ser os maiores multiplicadores das vantagens de se pensar no bem comum e enterrassem, gradativamente, a “Lei de Gérson”.

Voltando, ela me marcou de tal forma que eu nunca a esqueci, nem mesmo o nome do autor. Ela fala de uma forma simples e direta os passos necessários para que duas pessoas se unam. Porém, a “aceleração” da vida, provocada pela famigerada globalização, prega que tudo precisa ser feito de forma rápida – tudo o que por regra demora um pouco mais é logo “encurtado”, para se encaixar aos padrões globalizados. É aí que a união das almas deixa de acontecer. Na maioria das vezes só os corpos se unem.

A indústria do casamento (buffets e suas festas, flores e decorações, roupas de gala, vestidos suntuosos) continua viva, ainda que enfrente altos e baixos. Quem casa sempre faz alguma “coisinha”, nem que seja só um bolo com champanha. A razão principal da união, o amor, é muitas vezes um mero coadjuvante nestes eventos sociais. Tão coadjuvante que às vezes ainda nem amor em essência é, mas os envolvidos estão deveras felizes com o ritual social que deixam pra resolver essa questão (o amor) depois. Impossível não é, claro, mas que é um risco e uma estranha inversão de valores, isso é...

Para amar é preciso conhecer. Conhecer alguém depende de no mínimo três variáveis: tempo, disposição e permissão, não necessariamente nessa ordem e relevância, mas com alguma inter-relação. Ninguém conhece alguém tendo se visto apenas uma vez. À primeira vista, o máximo que se tem são meras impressões superficiais do outro que, dependendo se eu estou a fim ou não, podem virar já um rótulo apenas para estereotipar e “descartar” essa pessoa. Rótulos são em geral negativos.

Pois bem, a disposição, o “estar a fim” de conhecer o outro se mostra forte quando, mesmo com uma primeira impressão não muito bacana, eu insisto em querer ir além, em “dar uma segunda chance”. Isso leva tempo... e tempo é dinheiro... nosso “mundo veloz” nem sempre permite isso. Ainda bem que eu sou teimosa. Além disso, quem está disposto sempre arruma tempo, porque “tempo é uma questão de preferência” (pai da Alessandra).

Terceira variável: permissão. Pra conhecer bem alguém, nada melhor do que longas horas de conversa, olho no olho, coração aberto... sim, aberto. É aí que está a permissão. O outro só vai me conhecer se eu deixar, se eu estiver aberta para que ele possa explorar o meu ser, descobrindo coisas em mim que às vezes nem eu mesma sei. Permitir que alguém nos conheça não acontece assim, num primeiro encontro. Pode leva algum tempo... and time is money... vai encarar?

Para conhecer, é preciso ir ao encontro do outro. “Ok, vamos marcar um chope e a gente se conhece”, diriam alguns. Esses, certamente já contaminados pela aceleração da vida. Nada contra um drinque, barzinho... aliás, tudo a favor, adoro isso. Mas vamos precisar de muito mais que UM chope pra levar isso a cabo – considere UM chope por encontro. Nesse caso, esqueçamos que “tempo é dinheiro” e voltemos a ser humanos dispostos a descobrir as qualidades mais nobres que o outro pode ter.

A propósito, vamos tomar um chope? Eu confesso que prefiro vinho...

Nenhum comentário: