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sábado, 2 de agosto de 2008

A pior semana da minha vida


Um dia desses, lendo um dos blogs que já estão nos meus “favoritos”, me peguei a pensar sobre o medo. O amigo blogueiro escreveu sobre os dele, fazendo uma lista. Refleti muito sobre o medo, e cheguei à conclusão de que o meu maior e talvez único medo seja o de perder a coragem de seguir adiante, de enfrentar as agruras da vida – ao mesmo tempo sinto que isso nunca vai acontecer, portanto, não tenho o que temer. Mas uma experiência eu passei... não me lembro de ter sentido medo propriamente dito, só que a dor foi inenarrável. O texto é bem longo, porém o relato do que vivi nessa semana não caberia em cinco parágrafos.

Procurando uma foto pra ilustrar, me deparei com uma que me lembrou do medo de ser picada por cobra ou aranha, embora eu saiba que a peçonha desses animais não é necessariamente a mais prejudicial ao ser humano. Essa coral apareceu na minha garagem num dia que eu estava voltando do mercado e tinha um monte de coisas no carro pra descarregar. Ela tinha uns 15 centímetros e, segundo o bombeiro que a capturou, era uma “falsa-coral”. Eu é que não ia dar mole para aquela miniatura de serpente em plena selva amazônica!

A pior semana da minha vida

Era um domingo de março de 2001. E como sempre, ela entrava cedo em meu quarto, pois acordava segundo o relógio biológico e queria brincar. E eu queria dormir... e a colocava pra correr. Tantas vezes fiz isso... tantas vezes ela voltou pouco depois com meu café da manhã, arrumado à sua moda, em uma bandeja... mas naquela manhã ela não retornou. E eu nem dei falta, pois dormi novamente.

Quando me levantei, a vi prostrada no sofá, queimando em febre. Havia um leve inchaço avermelhado atrás da orelha... levei-a imediatamente pro hospital. Deram remédio pra baixar febre, disseram “parece caxumba”, mas o estranho é que ela já era imunizada contra parotidite. Como poderia ser? Voltamos pra casa e ficamos de molho o resto do dia.

Na segunda-feira ela já estava melhor e foi pra escola normalmente. E eu fui trabalhar. Porém na hora do almoço ela estava febril de novo, o tal edema atrás da orelha tinha aumentado e a pele ao redor estava enrubescida e quente: sinal de infecção. Retornamos ao hospital. Começou então a pior semana da minha vida.

Decidiram internar, embora não tenham dito exatamente o que era. Só disseram que precisava entrar logo no antibiótico endovenoso, que conteria o avanço da infecção de forma mais eficaz. Mas punçar uma veia nela... ah, ela era avessa à agulha. Ainda é, porém agora é mais “controlável”. Tinha apenas 5 anos, mas foram necessários quatro adultos para segurá-la, além da enfermeira que pegou a veia. Em seguida teve início a terapia antibacteriana de seis em seis horas. A pediatra não deu nenhum diagnóstico, porém o anestesista, Dr. Jorge, tentou me tranqüilizar dizendo “é linfoadenite, fazendo o antibiótico direitinho resolve”. E eu ia lá saber que bicho era esse?

O antibiótico entrava por ali, naquele “caninho”, como a gente falava pra ela. Mas era criança, inquieta... e perdia a veia com muita facilidade. Nos quatro primeiros dias de internação, foi uma veia por dia – e o mesmo drama para pegar uma veia nova. Eu conversava, falava que precisava de um novo “caninho”, ela concordava, mas quando a agulha chegava perto, ela gritava, se debatia e se encolhia. Então eu tinha que endurecer, falar grosso, até gritar com ela... e claro, segurá-la com muita força, com a ajuda de outros adultos. Em seguida, saía do quarto, abraçava o primeiro ser humano que estivesse no corredor e chorava.

Embora ela tenha começado no antibiótico logo no início da internação, a infecção ainda avançou por 3 dias, deformando o rostinho dela de uma forma horrível. A pediatra vinha todos os dias, eu perguntava o que era, e ela não dizia abertamente. Só dizia que estava sob controle. Raios! Com minha filha transformada num monstrinho, como é que a coisa poderia estar “sob controle”? Mas ela estava bem, tagarela, ativa. E quando ia escovar os dentes, eu não podia impedi-la de se olhar no espelho. No auge da infecção, ela olhou no espelho e me perguntou: “mamãe, eu vou ficar feia assim pra sempre?”. “Claro que não filha”, eu respondi.

Linfoadenite... aquele nome ficou na cabeça, e só no quarto dia de internação é que a pediatra confirmou o diagnóstico: linfoadenite aguda, uma infecção nos gânglios linfáticos, responsáveis pela defesa do organismo contra ataques bacterianos (eles situam-se na parte inferior do maxilar, logo abaixo do queixo, bochechas e orelhas). Imagina essa região inchando, inchando até não se ver mais o pescoço... não, não queira imaginar. Era muito feio de se ver.

Nós tínhamos direito a quarto, e eu pude levar videocassete e os diversos filmes dela pro hospital, pra ajudar a passar o tempo. Eu mesma não podia ficar com ela o tempo todo, pois tinha que trabalhar. Durante o dia, havia sempre alguém com ela – ou a nossa empregada/babá, ou a professora dela, que sempre vinha à tarde para visitá-la, e que numa dessas visitas trouxe desenhos feitos pela turma toda, desejando que ela melhorasse logo. Assim que saía do trabalho ia pro hospital, e ficava com ela até o dia seguinte. Também começamos a planejar a festa do 6° aniversário dela, que seria em abril.

Paralelamente, havia naquela semana uma demanda especial para o nosso departamento: o recém-empossado diretor de finanças havia me incumbido de organizar uma festa de despedida para o antigo diretor, que se aposentara depois de 43 anos de trabalho na empresa. Essa demanda me foi passada ANTES da minha filha ficar doente, mas mesmo com ela no hospital eu continuei com a responsabilidade de coordenar a organização – era um trabalho em equipe. Em princípio, eu deveria estar na festa, num sábado à noite, para fazer o cerimonial. Porém eu disse às minhas colegas que só iria se minha filha melhorasse, portanto, seria bom que alguma delas se preparasse para ser a mestre de cerimônia. Mas a resposta que recebi na mesa de reunião não foi nada compreensiva... tipo, “você é que tem que fazer isso (o cerimonial), a gente não sabe”. Apoio e compreensão total, como se vê. Pudera, ali nenhuma delas era mãe, não poderiam jamais imaginar o que eu estava passando.

A partir do quarto dia é que a infecção começou a ceder, e o inchaço no pescoço foi diminuindo lentamente. Com isso, a pediatra decidiu fazer o antibiótico via oral, para poupá-la de ter que achar uma nova veia a cada dia. Ufa... um sufoco a menos. A deformidade foi dando lugar à normalidade, porém uma bolota teimava em não ir embora do pescoço. Segundo a médica, era um abcesso que havia se formado ali porque o corpo não tinha sido capaz de eliminar todo o pus da infecção. E para retirar, tinha que operar. “Um procedimento bem simples”, disse a cirurgiã-geral.

Minha pequena estava sempre ligadíssima nas conversas. “Como assim operar? Tem que cortar o meu pescoço? Eu não quero! Vai doer”. Então teve início outra luta: a de convencê-la que era preciso tirar os “bichinhos” que haviam ficado ali naquela bolota. Fizemos a encenação diversas vezes, começando pelo “cheirinho” que o médico colocaria no nariz dela e que a faria dormir, de modo que ela não sentisse dor. Aí, um cortezinho no pescoço, depois costura e pronto! Mas era só eu colocar a mão bem de leve no pescocinho dela pra ela me dizer “tô sentindo a sua mão, vai doer”.

Chegou o sábado, dia da festa de despedida do diretor. E não teve jeito: tive que ir e fazer o cerimonial. Ninguém abraçou essa tarefa por mim. O próprio homenageado falou comigo: “estou sabendo que sua filha está internada desde segunda-feira. Por que você veio aqui hoje?” Perguntas sem resposta.

A cirurgia estava marcada para o domingo. Vesti a roupa esterilizada, entrei no Centro Cirúrgico e fiquei ao lado dela. Mas ela estava tão tensa que foram necessários quatro adultos para segurá-la a fim de conseguir entubar. Não teria como ser outra anestesia senão a geral, e ainda assim demorou uns 5 minutos até que ela parasse de se debater em nossos braços. Nesse momento eu saí da sala. E fiquei chorando do lado de fora.

Foi realmente rápido. Menos de uma hora depois ela já estava de volta no quarto e já dava sinais de retornar da anestesia. “Eu não disse que ia ser rápido e que não ia doer?” Não tinha jeito: alguma coisa ela sentia, e por isso não concordava comigo. A cirurgiã-geral veio logo depois, comentou que havia muito pus mesmo e que o material seria enviado para análise, mas que provavelmente o bicho era um tal de Stafilococo, uma bactéria muito comum em infecções daquele tipo.

No dia posterior à operação tivemos alta e fomos pra casa, depois de uma semana no hospital. Ainda era preciso continuar com o antibiótico por cinco dias, além de cuidar da ferida operatória no pescoço. A pediatra recomendou Povidine para a assepsia do local. Só não sabíamos que minha pequena era alérgica a iodo... ai meu Deus! No dia seguinte a região do pescoço estava toda vermelha, com aspecto de queimadura, embora sem dor. E lá fomos nós pro hospital de novo... pomada para a alergia, e apenas água e sabão para limpar o corte.
Depois dessa semana difícil, tratamos de nos ocupar com algo bem legal: a organização da festa de aniversário de 6 anos, quando ela ganhou uma bicicleta nova e muitos outros presentes dos amigos.

Eu sempre soube que era forte, mas tinha consciência de que essa força deveria ter um limite. Nessa semana eu descobri esse limite, da maneira mais dolorosa possível. Não tem nada mais cruel do que ver alguém que amamos sofrer. Ainda mais quando esse alguém é indefeso, não tem consciência do que está passando. E o duro é ter que continuar sendo forte nesse momento, porque essa criatura precisa de você firme – se você fraquejar, ela fica mais indefesa ainda.

Nessa semana o que me valeu foi a sabedoria Adoniraniana*: Deus dá o frio conforme o cobertor, e eu sobrevivi, certamente mais forte do que antes.

E vamos em frente!!!

* trecho da música "Saudosa Maloca": "só se conformemo, quando o Joca falou, Deus dá o frio, conforme o cobertor..."


segunda-feira, 2 de junho de 2008

Bicicleta ao mar!


Eis o cenário da história de hoje... na verdade, essa foto foi tirada do alto do morro onde se localiza o Trampolim, logo, ele não aparece. Mas a beleza da praia compensa. A foto é do álbum da minha irmã, mas eu não sei exatamente quem a fez.

Bicicleta ao mar!

Havia pouco tempo que meu pai tinha comprado uma casa na praia, em Barequeçaba, São Sebastião. Tudo era novidade... finais de semana, feriados prolongados, íamos sempre pra lá. A praia é uma delícia... típica para família com crianças e pra quem não gosta de tomar caldo: é quase uma piscina, sem ondas fortes. Isso provavelmente se dá em função da sua localização, meio de frente pra Ilhabela, meio pro mar aberto. É uma pequena enseada, delimitada por dois morros, na entrada sul do canal de São Sebastião.

Estávamos descobrindo o local, quando ficamos sabendo do Trampolim. “Ah, é ali atrás do morro menor”, disse um. “Mas como é lá, o que tem de legal?”, disparamos em tom de curiosidade desbravadora. “É um lugar onde a gente pula das pedras na água, de cabeça, se tiver coragem... e tem várias alturas!”. Ficamos pensando no perigo que seria tal lugar, pular e bater a cabeça em pedras... mas tanta gente falava que era o máximo, que não havia perigo, que só nos restava uma opção: subir o morro por um lado e descer pelo outro, e explorar o Trampolim.

A idéia de pular de cabeça na água me era fascinante e ao mesmo tempo assustadora. A descida até o Trampolim é bem íngreme, se a gente não se cuida direito, pode escorregar e descer “de bunda”. Chegando lá, vimos que era mais legal do que contaram... tinha até escadinha de corais pra subir e pular de novo, e não tinha pedras que ofereciam risco sob as águas, porque ali é um paredão de rocha. Mas e a coragem pra pular, mesmo que do “zerinho”, o nível mais baixo? Sobre o nível mais alto, há controvérsias... uns dizem que é o 5, outros dizem que existe até o oito.

Mas voltando... depois de alguns momentos de “vai-não-vai”, pulei, do nível um. Delícia... subi, pulei mais algumas vezes... e com o tempo, fui ousando mais, mergulhando de cabeça, embora nunca tenha passado do nível três – ali já era adrenalina suficiente.

Meu pai ficou sabendo do Trampolim, que era muito perigoso e coisa e tal, e proibiu meu irmão, na época com 9 anos, de ir lá. Meu irmão saía pelo bairro, às vezes a pé, às vezes de bicicleta, fazendo amigos e, claro, ignorando a determinação paterna, ia no "local proibido" com os colegas. Foi num feriado prolongado que demos falta da bicicleta dele. Perguntamos “cadê sua bicicleta?”, e ele disse que tinha deixado “ali”, que ela talvez tivesse sido roubada. Disse isso sem muita convicção, mas como quem desejava ardentemente que o assunto fosse esquecido. E até foi... ninguém perguntou mais sobre a magrela.

No dia seguinte, quando caminhávamos até a praia, um dos coleguinhas dele o viu e gritou “e aí, conseguiram pescar sua bicicleta? Acho difícil, porque ali é fundo”. Daí entendemos o que tinha acontecido: a bicicleta tinha ido ao mar. Numa escorregada na descida íngreme até o Trampolim, ele perdeu o equilíbrio e soltou a bike, que despencou lá de cima pro fundo das águas azuis do canal de São Sebastião.

Depois desse episódio, meu irmão continuou indo lá, e ousava cada vez mais, pulando dos níveis mais altos. No orkut tem uma comunidade sobre o Trampolim de Barequecaba, com histórias contadas por seus protagonistas no fórum. Lá ele conta que num dos saltos, lascou um dente com o impacto na água. Eu tive perfuração de tímpano uma vez. Pra quem quiser, eis o link:
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=8099614

Que idéia de doido descer até lá levando a bicicleta... mas pelo menos ele desceu desmontado! Antes a bike do que ele!

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Gardenal


A minha ida a Genebra, na Páscoa, rendeu muitas fotos interessantes. Entre elas, a do “Restaurant sans alcool” (Restaurante sem álcool). Ele seria um lugar ideal pra eu ir na época do texto de hoje... Mas voltando, passamos por ele na ida pra cidade alta e na volta. Até estiquei meu pescoço pra ver como era lá dentro... e o comentário do Tim se confirmou: “Restaurante sem álcool e sem clientes!”

Gardenal

A primeira vez que ouvi falar esse nome, nem tinha noção do que era. Só sabia que teria que tomar um comprimido por dia, ao deitar. Após uma convulsão durante o sono, fui parar num pronto-socorro, e o plantonista disse que eu tinha que ir a um neurologista. Minha mãe me levou a um, que pediu eletroencefalograma (EEG) e raio X do crânio. Ao pegar os exames, ele só disse que o raio X da cabeça era normal, não esclareceu coisa alguma sobre o EEG, mandou tomar aquele remédio toda noite e disse pra minha mãe que me trouxesse de volta no mês seguinte – mas que voltasse antes caso acontecesse alguma coisa.

Não aconteceu nada nem antes nem no mês seguinte – tudo na mais perfeita ordem. Então minha mãe pensou que não era mais necessário voltar. Ela não tinha obrigação de saber... o médico é que deveria ter explicado que era imperativo voltar na consulta, porque o tratamento não era coisa de um mês.

Eu tinha 12 anos, e era aluna exemplar na escola, só tirava notas máximas, era muito atuante no esporte, jogava vôlei no time mirim... enfim, tinha uma vida absolutamente compatível com alguém da minha idade. Ou melhor, quase compatível... era muito tímida e nunca tinha algum paquera. Mas isso é assunto pra outro texto.

Aproximadamente dois anos se passaram... e aconteceu de novo: convulsão, agora mais intensa do que antes. Susto geral em casa, afinal meus pais pensaram que eu estava “curada” daquilo. Pois é, o tratamento iria começar de novo ali, mas agora com informações corretas sobre o que devia ser tratado.

O meu problema era disritmia cerebral. A melhor explicação a respeito me foi dada por uma médica com quem me tratei dos 14 aos 18 anos. Ela não só explicou a disritmia com a diferenciou da epilepsia: “Imagine que o cérebro é um conjunto de lâmpadas que precisam acender e apagar simultaneamente. A epilepsia é quando uma lâmpada queima – e não tem como trocar, portanto, quem tem isso vai ter que tomar remédio a vida inteira. A disritmia é quando elas acendem e apagam desordenadamente. O remédio atua na reordenação das ondas elétricas do cérebro, reduzindo essa falta de ritmo até um nível em que o medicamento não será mais necessário”.

O interessante é que depois que passei a tomar esse remédio, comecei a ouvir colegas da escola dizendo (não pra mim) que quem tomava Gardenal era doido. Eu é que não iria assumir que tomava aquele remédio de doido... eu me considerava normal! Depois de pouco tempo entendi o motivo: pessoas que NÃO PRECISAVAM do remédio e que queriam “ficar doidonas” tomavam Gardenal com birita em grande quantidade, pra “dar um barato”. Nunca foi o meu caso: eu sabia que não devia tomar nada alcoólico e nem passava perto.

Foram longos anos de tratamento até que o medicamento pudesse ser suspenso. E como eu não podia beber nada alcoólico, aprendi a me divertir sem isso. Nas baladas da faculdade, era comum gente que não me conhecia dizer que eu estava “alegrinha” demais, fazendo alusão à bebida. Mal sabiam eles que a alegria era pura e genuína, do tipo que não precisa do álcool pra se manifestar.

Ah, hoje em dia eu não dispenso um bom coquetel numa balada, uma taça de vinho a dois ou uma cerveja em um biergarten (afinal, estou na Alemanha!), embora eles não sejam imprenscindíveis para a minha diversão!

Alguns que me conhecem pouco vão ler esse texto e dizer “bem que eu sempre desconfiei que ela tinha algo de anormal”... Fiquem tranqüilos... eu sou normal. De longe, porque de perto ninguém é!

kkkk

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Vôlei


Mexendo nas poucas fotos que tenho aqui comigo, encontrei algumas interessantes... já digitalizei várias. E hoje vai aqui uma de... vôlei! É, o vôlei me rendeu muitas histórias na vida. Essa foto é de 2000, ao final de um torneio-relâmpago entre Trombetas e Oriximiná. E espero que ainda renda muitas outras... quero virar “vovó” na quadra. Que fique claro que não sou nenhuma super jogadora, mas quando entro na quadra não é pra brincar, e sim jogar direito, mesmo que só por lazer. Não gosto de jogar onde o povo nem sabe dar manchete. Pena que aqui na Alemanha não tenho onde praticar... na verdade, não procurei direito ainda, porque certamente tem!

Vôlei

Eu estava na quinta série, e a educação física era fora do horário da aula. Morávamos bem longe da escola, e eu tinha que me levantar às 5h30 da madrugada, pegar dois ônibus lotados e ainda andar alguns quarteirões pra chegar lá às 7 horas – e eu não perdia uma! Só que terminava às 8h30, logo tinha tempo de sobra pra ir pra casa, tomar banho, almoçar e voltar antes da uma da tarde, horário de início das aulas.

Minhas irmãs também tinham que ir, mas em dias e horários diferentes. E o horário da educação física delas era mais tarde, então justificava que elas viessem pra escola e ficassem direto, almoçando por ali mesmo. Elas começaram a jogar vôlei, e logo foram chamadas pro time da escola. Ah... eu também queria! Mas como eu tinha que voltar pra casa, praticamente não tinha chance de treinar e jogar, de “aparecer” para os professores.

Eventualmente havia trabalho em grupo pra fazer, e combinávamos de encontrar na escola, mais cedo. Nesses casos, eu ficava direto: tomava um banho de gato no vestiário e comia na cantina. Foi aí que eu percebi qual era o caminho pra poder ficar mais vezes, e me “misturar” no treino dos times mirim e infantil: “mãe, tem trabalho em grupo pra fazer”... hehehe... É, nem sempre era um trabalho acadêmico de fato, mas que era sempre trabalho em grupo, isso era!

No ano seguinte, nos mudamos para mais perto da escola – ou seja, menos justificativa ainda para ficar direto, e o argumento de “tem trabalho de grupo” já não colava tanto como antes. Terminada minha aula de educação física eu ficava por ali, treinando os fundamentos sozinha no paredão. De tanto me meter a besta de ficar completando time no treino, fui chamada pra seleção mirim da escola. Depois disso eu passei a ter um motivo oficial pra ficar direto: não precisei mais inventar trabalho pra fazer.

Da sexta até a oitava série eu fiz parte do time do Brotero. Me dediquei muito ao vôlei... foi a época da “geração de prata”, quando o esporte ganhou notoriedade no Brasil graças à medalha de prata conquistada pela seleção masculina nas Olimpíadas de Los Angeles. Durante esses três anos participamos de muitos campeonatos, sobretudo as Olimpíadas Colegiais Guarulhenses. Mas nunca chegamos muito longe. Nosso maior rival era o Conselheiro Crispiniano, era quem normalmente nos tirava no mata-mata, em quartas-de-final ou semi.

Mas houve um campeonato em que as derrotamos... era a semi-final dos Jogos Escolares do Estado de São Paulo (JEESP), mas eu acho que só tinha escola de Guarulhos no torneio. Foi uma delícia ganhar delas... sentimento melhor só o meu Timão ganhando do porco de virada e goleada. Porém perdemos na final, ficando com a prata. Da fase escolar, essa é a minha única medalha do esporte que mais me dediquei.

É, jogue a primeira pedra quem nunca contou uma mentirinha qualquer pra própria mãe... sobretudo com propósitos nobres como eu!

domingo, 20 de abril de 2008

Viajando de carona


"Minha vida é andar por esse país,
pra ver se um dia descanso feliz,
guardando as recordações, das terras onde passei,
andando pelos sertões e dos amigos que lá deixei"
(Vida de Viajante – Luiz Gonzaga)

Olha eu aí, pedindo carona pra ir até Gravatá e Caruaru, em Pernambuco. É, mas dessa vez foi só pose pra foto... foi em julho de 2007, quando eu estava com amigos em Recife e fomos passear por lá. Gravatá fica a cerca de 75 km da capital pernambucana e 540m acima do nível do mar. Tem um clima bem agradável, com temperatura média de 22 graus, considerado pela Organização Mundial de Saúde como um dos cinco melhores climas para a saúde (fonte: Wikipédia). Não é a toa que o turismo e o setor imobiliário crescem bastante por lá: Gravatá tem o metro quadrado mais caro de Pernambuco e nos finais de semana em que ocorrem eventos, a população da cidade, de aproximadamente 70 mil habitantes, praticamente dobra.


Viajando de carona

Carona aqui na Alemanha é uma coisa normal e bem organizada... mas não gratuita. A gente entra no site, vê quem tá oferecendo carona pro destino que se quer, entra em contato por email ou telefone e combina. O preco é bem amigo, normalmente bem menos da metade do valor da passagem do trem. No Brasil não é assim... seria muito arriscado tanto pra quem oferece quando pra quem pega a carona.

Eu já fui chamada de doida várias vezes por diversos motivos. Mas uma vez ouvi de uma conhecida o seguinte: “levar fama sem proveito não tem graça!” Aí passou a fazer sentido, porque eu realmente fiz umas coisas muito na confiança mesmo. Confiança em Deus, ninguém mais, mas mesmo assim, doideira...

Por exemplo, em 1992 dedici que ia de carona de Belo Horizonte para Ponte Nova, um trecho de aproximadamente 240 km, passando por Ouro Preto. Até tinha o dinheiro pra passagem, mas queria viver essa aventura. Não consegui uma carona direta, foi um pinga-pinga, mas cheguei, sã e salva. Depois dessa que deu certo, outras vieram... repeti a dose no mesmo trecho mais uma vez, só que o destino final não foi Ponte Nova, mas sim Jequeri, a cidade do meu pai, que fica a 40 km além. Também cheguei tranqüila, depois de umas cinco caronas diferentes... é, a aventura foi também extenuante, mas valeu.

Depois que passei a ter carro, ficava pensando nas pessoas que pediam carona. E decidi retribuir algumas vezes, também no caminho da casa dos meus avós, em Minas Gerais. Levei estudantes de Juiz de Fora até Ubá. E outra estudante de Ervália até Viçosa.

Só que chegou um tempo que minha situação financeira estava bem ruim... minha filha estava morando com minha mãe em Guarulhos e eu só a via nos fins de semana, porque trabalhava em Campinas. Mas eu ia pra Guarulhos quando tinha dinheiro pra gasolina... o que nem sempre era certo. Então decidi que iria pra Rodoviária de Campinas e abordaria pessoas que se dirigiam ao guichê da Cometa, para São Paulo. Muitas agiam com desconfiança e se desviavam de mim, mas algumas me ouviam e aceitavam vir comigo, pagando a mim o valor que pagariam pela passagem. A gente saía dali e ia direto pro posto abastecer, e o dinheiro deles nem parava na minha mão – eles viam que era pra gasolina mesmo.

Precisei fazer isso muitas vezes, e sempre tive como companhia de viagem pessoas sérias e de boa índole – nunca tive problema. Sei que entre cidades grandes como Campinas e São Paulo isso é meio arriscado e perigoso, mas a necessidade falava mais alto. Mas Deus é bom demais... e sempre está por perto a proteger as pessoas que têm bons propósitos e reais necessidades.

Depois de conhecer o sistema de carona daqui da Alemanha, vi que sem querer pratiquei isso lá no Brasil... em 1996, há 12 anos!

sábado, 19 de abril de 2008

Atropelei um carro!


Quem viveu em Trombetas vai ter história de lá pra lembrar a vida inteira... ainda mais se ama fotografia e não saía de casa sem sua câmera, como eu! Essa aí é de um dia em que voluntários se reuniram pra plantar árvores na antiga área industrial, que abriga escritórios de diversas empresas contratadas. Era um sábado, eu acho, e todas as pessoas que compareceram deram sua dose de contribuição. Até mesmo minha pequena, aí na foto de regata preta e bermuda rosa, fez uma força danada pra segurar a pesada pá e jogar terra no buraco. É, minha filha já plantou uma árvore!

Atropelei um carro!

Segunda-feira, 7 de janeiro de 1991: meu dia começou cedo. Eu trabalhava como temporária na Ford Indústria e Comércio, em Cumbica, Guarulhos, no setor de Exportação. E naquela segunda-feira eu tinha prova de vestibular: era a segunda fase da Fuvest que eu estava prestando pra Letras/Alemão. Meu plano era transferir meu curso de Jornalismo da PUC-Campinas para a PUC-São Paulo e, passando na USP, levar os dois cursos ao mesmo tempo. Mas não era pra ser assim...

Pois bem, pra poder sair do trabalho a fim de fazer o vestibular, eu tive que chegar bem cedo e passar o serviço pro pessoal que estava voltando do recesso de fim de ano. Cheguei às 5 da manhã, adiantei meu servico, passei as rotinas pros colegas e saí às 11 horas. Fui de carro, porque meu vestibular seria no Brás, bairro próximo ao centro de São Paulo – de transporte coletivo seria inviável.

Chegar ao Brás não foi problema. Nem encontrar o endereço do local da prova. Complicado foi achar um caminho que desse mão pra chegar na escola... perdi uns preciosos 15 minutos nisso, até que desisti e fiz uma manobra politicamente incorreta: entrei de ré na tal rua. Estacionei o carro bem em frente ao portão de entrada e atravessei (uma rua tranqüila, normalmente pouco movimentada) pra comer algo e comprar água para levar pra prova. Ainda havia uns 10 minutos antes de o portão ser fechado.

Eis que de repente vejo alguém no portão já o fechando! Agarrei meu lanche, deixei o dinheiro no balcão, gritei “depois eu pego o troco!” e atravessei a rua correndo. Mas havia um carro no meio do caminho, no meio do caminho havia um carro... crash! Atropelei o coitadinho!

Foi tudo muito rápido, mas eu não perdi a consciência, graças a Deus. Me vi caída no chão, com a perna visivelmente “torta” pouco acima do joelho, ou seja, quebrada mesmo, mas sem ferimento exposto ou sangue. E quase que na mesma fração de segundo, uma multidão ao meu redor, querendo ajudar.

Queriam me carregar feito saco de batata... ai meu Deus! Eu gritei “não, me deixa aqui”. Se me pegassem de qualquer jeito, eu poderia ter problemas, tipo atingir a artéria femural, expor a fratura... é, eu já tinha alguma noção de primeiros socorros. Mas como Deus está sempre presente, passava por ali naquele momento um bombeiro que, mesmo de folga, jamais abandona seu ofício de ajudar. Ele pegou uma tábua ali por perto, a fim de apoiar e imobilizar minha perna, evitando movimentos bruscos a ela. Logo chegou uma viatura da Polícia Militar, que me levou para o Hospital Municipal do Tatuapé. O calvário estava apenas começando...

Lá fiquei por mais de duas horas gemendo de dor largada sobre um leito... me diziam que não havia maca com rodinhas pra me levar pro raio X. Foi só minha mãe chegar e dar uns gritos que encontraram rapidinho uma... raio X, tração na perna e transferência para o Hospital Bandeirante, na Liberdade. Nessa “longa” viagem (do Tatuapé até a Liberdade) é que senti literalmente na pele como as ruas de São Paulo são esburacadas... ai que dor!

A história é longa... mas vou encurtá-la aqui: foram duas cirurgias, uma placa com nove parafusos (que ainda carrego comigo: sou uma mulher platinada!) e quase dois anos para me recuperar completamente. Meu maior medo era não poder mais jogar vôlei... mas graças a Deus joguei muito depois disso. E ainda vou jogar mais, mesmo com um centímetro a menos na perna esquerda.

Do ponto de vista emocional, muitas dores nesse período. Um dia conto mais...

Tschüß!

PS: escrevendo esse texto é que me dei conta de que nunca peguei o troco na lanchonete... era uma grana razoável na época, algo como dar R$ 50,00 para cobrar um misto quente e um refrigerante nos dias de hoje.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Festas juninas e quadrilhas


A foto de hoje ilustra pontualmente o texto: eu dançando quadrilha na festa junina do pré na Penha.
Fizemos sucesso com essa dança: apresentamos na própria escola, no Clube Esportivo da Penha e na Praça de Eventos da Estação São Bento do metrô. Saiu até na Folha da Tarde... adivinha quem estava bem no meio da foto que foi publicada??? Euzinha... hehehe

Festas Juninas e quadrilhas

Sempre que se aproximava o mês de junho começavam os preparativos para a festa junina da escola. E dançar quadrilha era básico. Primeira etapa era a definição do casalzinho que seriam os noivinhos, em seguida definiam-se os pares. Eu nunca fui noivinha, mas sempre me divertia muito dançando.

Minha mãe não é costureira profissional, mas sempre se ocupou pessoalmente das nossas roupas caipiras. Me lembro que eu chorei e fiquei emburrada quando ela me mostrou o tecido que havia comprado pra fazer o meu vestido, porque achei ele simplesmente feio e sem graça: azul com pequenas bolinhas brancas. Mas depois do vestido pronto, com rendas e borda no chapéu, ficou bonito mesmo (vamos falar sério... Dona Irma é caprichosa).

Nessa mesma época também era comum que houvessem na vizinhança festas com fogueira, pipoca, quentão e outras comidas típicas. E na véspera da minha apresentação de quadrilha foi na casa da Dona Rosa, que tinha um cão pastor alemão muito bravo, sempre preso na corrente.

A festa transcorria normalmente. Quando soltaram o balão* eu fui acompanhando-o no céu. Distraída, dei alguns passos pra trás pra ver melhor. E entrei no raio de ataque do cachorro, que me derrubou com uma patada, furando minha perna atrás do joelho com uma de suas unhas.

Passado o susto, minha preocupação era como fazer pra dançar! Fomos pra casa, fizemos curativo e no dia seguinte bem cedo, minha mãe foi comprar uma meia mais comprida a fim de não deixar o esparadrapo aparecer. Ainda bem que não ficou doendo e pude dançar normalmente.

Essa cicatriz tá lá, atrás do joelho direito, pra quem quiser ver!

* na época não era crime fazer isso, embora as consequências sempre pudessem ser desastrosas.

Meu primeiro namorado


Depois de viver em alguns rincões brasileiros, como Norte e Nordeste, parti pra explorar o Velho Mundo. Primeira parada: República Federal da Alemanha. É sábia a frase que diz “o mundo é muito grande e a vida é muito curta para que se fique muito tempo parado em um único lugar”. Só uma coisa deve permanecer com a gente o tempo todo, onde quer que se vá: o amor. O resto a gente conquista.

Meu primeiro namorado

Nos mudamos para Penha, Zona Leste de são Paulo, quando eu tinha 5 anos. Vizinhança, escola e amigos... tudo era novidade. Minhas irmãs já estavam na escola, eu ainda ia ao pré-primário.

As escolas (pré e primeiro grau, onde minhas irmãs estudavam) ficavam lado a lado, porém um pouco distante da nossa casa. Na vizinhança, as crianças estudavam praticamente no mesmo local, porém em horários diferentes. Então, as mães se organizaram de forma que apenas uma precisasse ir levar ou buscar a trupe na escola em cada horário.

O que interessa é que a gente sempre ia junto: eu, o Fábio e mais um monte de crianças. Ele tinha uma irmã e dois irmãos, e era um ano mais velho que eu. E dizia pra todos que eu era namorada dele... eu morria de vergonha!

Nossas mães sabiam disso, e a mãe dele fazia o maior gosto nesse namorico. Era uma coisa super inocente, mas altamente emocionante! Ele pegava na minha mão, a beijava, olhava nos meus olhos e dizia que gostava de mim... olha que coisa mais abusada para crianças de 5 e 6 anos!!!

A coisa era séria, pelo menos pro meu inocente coraçãozinho, tanto que no ano seguinte ele foi pra primeira série e eu ainda fiquei no pré, e chorava sozinha pelos cantos no pátio porque ele não estava mais lá pra brincar comigo. Mas eu pensava que quando fosse pra primeira série, estaríamos na mesma escola de novo. Engano meu. No início do ano seguinte minha família se mudou pra Guarulhos. E aí perdemos o contato. Ou melhor, perdemos o encanto, pois nossas mães mantinham contato.

Alguns anos depois nos encontramos novamente, eu já na faculdade. A mãe dele ainda fazia gosto daquele namorico de criança... mas a vida tinha dado tantas voltas e meu caminho já se apresentava à minha frente: o mundo por explorar.

Depois que Dona Marinalva virou estrela nunca mais tive notícias. Mas sempre lembro dele e dos irmãos com carinho. Espero sinceramente que estejam bem e felizes.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Pizza em São Paulo


Pizza aqui na Alemanha é carente de queijo... aquele queijo amarelo, mussarela mesmo, derretendo que dá água na boca... aqui a gente compra a pizza congelada ou se o bolso puder telefona e pede, ou então compra a massa e faz em casa, como a dessa foto, feita pela Ale no aniversário do Fidelis – vale ressaltar que estavam muito boas, não apenas bonitas. Mas... continuo preferindo a pizza em SP. (Foto do Fidelis).

Pizza em São Paulo

Lá no Pará a pizza era simplesmente horrível: já vinha da cozinha do restaurante cheia de catchup por cima. Eu chamo isso de “crime inafiançável contra a tradição pizzaiola”. Mas naquela região faz parte do paladar comer pizza com catchup e maionese... argh!!!

Bem, estávamos eu, o meu então namorado (hoje devidamente “falecido”) e o nosso “peixe” num bar lá no meio da selva amazônica. E essa história de criticar o modo de comer pizza (com catchup e maionese) não era nova: nosso “peixe”, carioca da gema, também não achava aquilo normal. Mas eis que naquele dia ele pediu pizza e, para o meu horror, pegou a bisnaga de catchup e espalhou aquela meleca vermelha sobre o disco fumegante. Foi automático – eu e o “falecido” falamos ao mesmo tempo “pizza com catchup... argh!” e o nosso “peixe” imediatamente retrucou “quem disse que isso aqui é pizza?”

Entramos numa discussão sobre onde a pizza era melhor, mais gostosa. Eu disse enfaticamente: “pizza é em São Paulo!” e o meu namorado emendou “pizza é na Itália” (obs: ele era alemão). Achei melhor não retrucar, afinal eu nunca estive na Itália, mas que a pizza de São Paulo é muito boa, isso é inquestionável. E a conversa morreu aí.

Ele voltou pra Alemanha e comprou um carro novo. E para estrear o carro, convidou a mãe e a irmã para irem “ali” na Itália comer pizza: cinco horas de viagem. Tudo bem, para o debut do carro, valeu. Segundo ele, a pizza também estava muito boa.

Pouco tempo depois ele veio a São Paulo me visitar. Lembrou da história e foi logo falando: “quero ver se a pizza de São Paulo é boa mesmo”. Então peguei dica com uma amiga e o levei no Bixiga, na Pizzaria Esperanza. Depois de comer, eis que ele diz “é, você não precisa digirir 5 horas pra comer uma boa pizza”. Mas achei que era pouco, e resolvi levá-lo também a uma cantina italiana, essa bem mais perto da casa da minha mãe: menos de 10 minutos de carro. Ele fez cara de “Oh! Que delícia” e disse que realmente era muito mais fácil pra mim ter boa comida italiana por perto do que pra ele.

Resolvi escrever essa história porque já a contei pra tanta gente... aconteceu novamente nessa semana – um amigo me disse que gosta muito de pizza de salame. Mas convenhamos, aquilo que eles chamam de pizza aqui tá muito aquém do que o meu paladar entende como tal. Não que seja ruim, mas na hora da pressa, eu prefiro comer pão torrado com margarina do que pedir pra entregar uma pizza – não é barato e o sabor não me convence – acho que falta queijo!!! O mesmo vale para as congeladas do mercado: até são mais baratas, mas não é algo que eu tenha no freezer como opção para o momento da preguiça. Só compro quando dá vontade, e isso é raro de acontecer.

Ah, já comi uma pizza caseira feita por italianos aqui, mas a de São Paulo ainda é melhor. Vamos ver se minha opinião vai mudar depois que eu tiver a oportunidade de comer pizza na “bota”.

bjsss

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Xadrez


Esse é meu novo tabuleiro... continua faltando com quem jogar!!!

Xadrez

Nunca havia cogitado em aprender a jogar xadrez. Nem tinha noção de que cada peça tinha função diferente... na verdade, nunca tinha tido oportunidade nem curiosidade.

Tudo começou na quinta série. Escola nova, colegas novos... entre eles, um menino de óculos com uma armação enorme de um formato que mais parecia olho de mosca, e lentes fotocromáticas que escondiam os olhos azuis dele. Até a quarta série, eu sempre tinha sido a melhor aluna da classe – minhas notas eram habitualmente as mais altas, e até então não havia tido alguém que “emparelhasse” comigo nesse quesito. E enquanto não viessem as provas do primeiro bimestre não teria como saber se havia ali naquela turma “concorrência” pra mim. Na verdade, isso não tinha a menor importância... desde que as minhas notas continuassem boas, não havia problema se alguém mais se destacasse (na verdade a única vantagem disso era ter um pouco mais de simpatia dos professores, porque ser chamada de CDF não tinha a menor graça).

Pois esse menino dos óculos grandes e olhos azuis era o cara. Inteligente e com um humor a toda prova – aliás, às vezes muito ácido, o que com o tempo vim a perceber que era essa uma das suas mais fortes marcas (estudamos juntos até o segundo colegial). Era o tipo do cara que perdia o amigo mas jamais perdia a piada.

No último bimestre da quinta série houve a feira de ciências. A turma se dividiu em grupos e cada um escolheu sobre o que gostaria de expor. E esse colega escolheu como tema o xadrez. O que eu não sabia é que ele era fera no assunto, fazia aulas com o mestre Herman Claudius em São Paulo e já possuía inúmeras medalhas e títulos dos campeonatos que participara.

Ao visitar os estandes da feira de ciências, parei no xadrez. E ali tive a minha primeira aula sobre o jogo. Me interessei tanto que não muito tempo depois já jogava, claro que como aprendiz, ou seja, jogando e ele comentando minhas jogadas (fazia cada besteira... mas estava aprendendo).

No inicio da sexta série, participei do meu primeiro torneio: Campeonato Paulista Escolar, no Clube Esperia, em São Paulo. O interessante é que eu nem sabia que ia participar: meu colega e “mestre” me avisou na sexta-feira que haveria competição no sábado e domingo e que eu JÁ estava inscrita. Fazer o que... lá fomos nós. Até que pra uma estréia fui bem, ficando em quarto lugar. E a soma dos pontos dele (campeão, é claro) com a minha humilde quarta posição (entre sete participantes) rendeu o troféu de primeiro lugar pra nossa escola.

Depois disso participei de outros torneios e fui campeã de Guarulhos duas vezes. Mas infelizmente não tenho com quem jogar... e sem praticar o cérebro fica preguiçoso. Da última vez que tive um parceiro de jogo foi interessante: as primeiras partidas eu perdi feio, só fazendo besteira. Mas depois de uns quatro, cinco jogos, o cérebro engatou e o coitado teve muito trabalho comigo – perdeu muito mais do que ganhou.

Xadrez é uma batalha: não adianta ir à guerra sem uma estratégia. E qualquer movimento errado pode colocar todo o exército em risco ou mesmo provocar mais rapidamente a morte do rei. E rei morto, fim de jogo.

Quem aí souber jogar e estiver a fim, faça contato!


terça-feira, 25 de setembro de 2007

Mais sobre a Anda Nenê...


Gente!!!! Olha que fofa a boneca dos meus sonhos!!!

Um amigo leu aqui e foi procurar na internet... achou a imagem no Google e me mandou... fiquei emocionada!!!

Valeu Rolf!!!

Beijinhossssssssss
Beijinhossss

Mais sobre a Anda Nenê...

Perto do Natal de quando eu tinha meus 5 anos, me contaram que a carta pro Papai Noel tinha que ser deixada na janela, dentro de um sapatinho da gente. Eu já sabia escrever (metidez pouca é bobagem!) e fiz a minha missiva para o Bom Velhinho pedindo o quê... claro, a Anda Nenê.

Deixei escurecer para a minha mãe não ver o que eu ia fazer – me disseram também que como os adultos não acreditavam em Papai Noel, era melhor que não soubessem da nossa comunicação com ele. Pois bem, abri a janela e coloquei minha botinha no parapeito com a cartinha dentro.

No dia seguinte, saímos cedo com minha mãe – nem lembrei de olhar na janela pra ver se os emissários dele tinham vindo ao menos buscar a carta, para que ele pudesse trazer o meu pedido no Natal. E quando voltamos, minha botinha não estava lá! Minha mãe havia tirado da janela ainda à noite, porque se chovesse, iria molhar – adultos, afff!!! E nem me disse o que fez com a carta que era pro Papai Noel, mas provavelmente na mão dela é que os duendes não vieram pegar.

É por isso que eu não ganhei a Anda Nenê: o Bom Velhinho certamente traria o presente para uma boa menina como eu, que se comportara o ano inteiro, não brigara com as irmãs nem com os coleguinhas na escola blá blá blá, mas o problema é que nem ficou sabendo o que eu queria!!!

Culpa da minha mãe!!!

kkkkkkk

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Suzi Cozinha


Não sei se meus ávidos leitores já perceberam, mas até agora a única foto de gente que entrou aqui foi a do texto de abertura. Mas encontrei umas mais ou menos da época da história de hoje e o de ontem... acho que vale a pena colocar, pra vocês verem a cara da menina que queria a Anda Nenê. Mas pra isso, terão que adivinhar onde eu estou nela - eu devia ter uns 4 anos aí. Na foto estão eu, minhas duas irmãs, uma coleguinha do prezinho e duas professoras. Estávamos em excursão na Cidade da Criança, em São Bernardo do Campo (nem sei se ainda existe!). Pro tanto de tempo que faz, até que lembrei bem dos fatos!


Suzi Cozinha

Morávamos no Cangaíba, eu tinha pelo menos 6 anos. O Natal se aproximava, e pela primeira vez, pela minha memória, teríamos boneca de presente. Eu entendi que as bonecas (uma pra cada irmã) seriam compradas com um dinheiro dado de presente pelo meu avô Pedro – um valor de trezentos cruzeiros pra cada neta. Meu sonho ainda era a Anda Nenê, mas eu sabia que ela custava mais do que isso, e meus pais não tinham dinheiro sobrando para esses tipos de “luxo”.

Pois bem, nos foi falado que podíamos escolher que boneca a gente quisesse. E eu com aquela limitação na cabeça: trezentos cruzeiros, ou seja, não seria ainda daquela vez que eu teria a Anda Nenê. Minha irmã mais velha escolheu uma boneca grande e mais cara... depois eu soube que era porque a madrinha dela que ia pagar a diferença.

Bem, com aquele “orçamento” na mente, saí pela loja procurando uma boneca que me agradasse e que coubesse nos trezentos cruzeiros. A Selmã, irma número 2, também tinha a missão de encontrar sua boneca. Até que não foi difícil... achei a Suzi Cozinha: uma boneca estilo mocinha (não existia Barbie no Brasil ainda), que vinha com mesinha, cadeirinha, pratinho, copinho, lanchinho etc. e um biombo de papelão, simulando o ambiente da cozinha. Ao lado dela, estava a Suzi Salinha: a busca da Selma terminou ali. A salinha tinha um sofá, mesinha de centro, algumas almofadinhas e outro biombo de papelão com cara de living-room.

A boneca da Celinha, irmã número 1, era grande... mas eu nem lembro direito dela. Lembro bem da minha Suzi loira e da Suzi morena da Selma. Certamente porque o tamanho das bonecas era o mesmo, e a interação na hora de brincar era total. Só ficou faltando a Suzi Quarto pra casa ficar completa.

Mas a Anda Nenê... o sonho não morreu, porém nunca foi realizado. E eu garanto que não fiquei traumatizada por causa disso!!!

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Anda Nenê


A Oktoberfest começa no próximo sábado, e como boa alemã, ops, italiana, ops... como boa “turista bem informada”, vou de roupa típica. No ano passado, vestida à caráter, teve gente que teimou que eu era alemã, que falava muito bem o idioma tedesco, que tinha cara de européia... que eu seria tudo, menos brasileira. Quase que tive que mostrar o passaporte pra convencer o camarada, mas depois de tanto ouvir eu e minhas amigas conversando (em portugês, é claro) ele deve ter pensado que uma alemã não falaria um idioma “latino” tão fluentemente (obs: nosso português não é europeu!). Bem, na semana da abertura da Oktoberfest, foto da festa tiradas no ano passado: hoje, o pavilhão de festa da Hacker-Pschorr. E a história de hoje, uma que aprontei na tenra infância...


Anda Nenê

Anda Nenê... era meu sonho de criança... uma boneca que andava quando a gente apertava as mãozinhas dela.

Eu devia ter uns 3, no máximo 4 anos. A Silvinha, prima-irmã do meu pai, estava passando uns dias conosco no Belenzinho, onde morávamos – na ocasião ela devia ter uns 15 anos. Minha mãe não estava, e nem lembro onde estavam minhas irmãs naquela hora – certamente estavam por perto, a casa era pequena. Mas só lembro dessa história.

Eu pedi à Silvinha para pegar a minha boneca Anda Nenê que estava na parte alta do guarda-roupa. E a Silvinha, com todo amor e paciência, pegou uma cadeira pra subir e alcançar o maleiro. E começou a caçada à boneca.

Ela tirou cobertores, caixas de sapato... e me perguntou como era a caixa da boneca. Eu disse que era “grande assim”, mostrando com as mãos o tamanho. Foi tirando coisas até esvaziar aquela parte do maleiro, e nada da minha boneca. Mas ainda havia duas portas de maleiro onde procurar... “será que está aqui mesmo?”, ela me perguntou, e eu respondi prontamente: “sim!”.

Então fomos para a outra parte do maleiro, a de duas portas. Dá-lhe tirar coisas de lá... e nada de achar minha boneca. A Silvinha, com a maior boa vontade, procurou minuciosamente, creio que comovida pela minha cara de criança “aguada” de vontade de brincar com sua boneca. Mas mesmo com duas portas, o maleiro não era tão grande assim, e a boneca não foi encontrada.

“Que pena, mas quando a sua mãe chegar, você pergunta onde foi que ela guardou”, tentou me consolar a Silvinha.

A verdade é que essa boneca nunca existiu... eu nunca tive a Anda Nenê. Claro que não foi maldade minha fazer a Silvinha procurar por algo que eu sabia não existir, mas eu queria tanto... que talvez inconscientemente achei que poderia materializá-la na procura. Não sei se ela vai lembrar dessa história, mas eu nunca esqueci.

Coisas de criança...

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Olhares e sorrisos


Queridos fãs (quem vê pensa...), me desculpem a ausência de textos por tanto tempo... nem é tanto a inspiração que faltou... faltou disposição pra escrever, e além disso não tenho acesso à internet em casa. Não vou dizer que faltou tempo – como já disse aqui mesmo, tempo é uma questão de preferência, e eu tenho preferido dormir mais cedo nesses dias. Por outro lado, eu já imaginava que não conseguiria manter por tanto tempo o pique inicial de um texto atrás do outro... mas seguirei “blogando” firme e forte! Nesses dias não escrevi, mas escaneei algumas fotos que tenho aqui comigo. E vou inaugurar hoje a minha série “pôr-do-sol amazônico”. Sou apaixonada por fazer foto do sol na hora que ele tá indo “dormir”. E no período que morei na Amazônia aproveitei o máximo essa paixão, porque o cenário invariavelmente colaborava demais. Haja pilha, filme e revelação de fotografia... minha Minolta, inseparável companheira nas minhas idas e vindas naquele pedaço de mundo – sempre valeu a pena carregar o peso da câmera e suas nada leves lentes. Vocês verão nas fotos que colocarei aqui. A de hoje é no Rio Trombetas – a maioria delas foi nesse que é o maior afluente da margem esquerda do Rio Amazonas.

Olhares e sorrisos

Um tempo atrás li no site do UOL uma matéria da Revista Cláudia intitulada “Sexo refresco” – o título despertou a curiosidade e o conteúdo me fez lembrar uma história que vivi. E já que agora tenho onde contar minhas histórias, aqui vai. Só pra situar, o tal “sexo-refresco” da matéria fala sobre encontros casuais e que normalmente não se repetem, porém esses encontros ficam apenas nos olhares e sorrisos, e à distância, sem qualquer contato físico.

Eu havia chegado ali na nova empresa há pouco tempo, portanto ainda estava me ambientando, conhecendo as pessoas, as relações entre a minha área e as empresas fornecedoras, minhas responsabilidades no novo cargo etc. E logo na primeira semana aquele sorriso me chamou a atenção.

Ele era casado, todos sabiam – a aliança reluzia no dedo anelar da mão esquerda, e a esposa havia trabalhado no mesmo local por algum tempo, mas naquela ocasião não estava mais lá – estava beeeem longe, diga-se de passagem. Ele era um tipo muito charmoso, com seus trinta e tantos anos: grisalho, moreno, simpático, sorridente, de bom relacionamento com todas as pessoas. Sua posição na empresa colaborava – ele tinha uma equipe enorme sob sua batuta, e era muito respeitado e admirado como pessoa e gestor.

Ele trabalhava no mesmo lugar que eu, mas não na mesma empresa. De qualquer maneira, nos encontrávamos todos os dias pelo menos na hora do almoço. E foi no restaurante que eu comecei a perceber os olhares e os sorrisos... no começo achei que fosse normal dele com todos, afinal, o cara era casado, e eu não queria encrenca pro meu lado. Porém as (más) línguas já foram passando relatório... corria conversa de que ele já havia tido um caso ali, e que era bem galanteador. Conversas que pra mim era indiferentes, afinal eu não tinha nada a ver com a vida dele – cada um faz da sua o que a consciência lhe permite.

Mas os olhares e sorrisos continuaram com cada vez mais intensidade, ao ponto do cara sempre vir se sentar à mesa onde eu estava e, quando não havia mais lugar, dava um jeito de se sentar em outra mesa desde que pudesse olhar pra mim sem ter que virar o pescoço, ou seja, discretamente. Eu sei que sou tapada, mas minha “toupeirice” tinha que ter limite, e eu passei a “retribuir” os olhares e sorrisos.

Aquilo passou a fazer parte da minha refeição. Quando por algum motivo eu não podia ir no horário “habitual”, ou ele não aparecia, parecia que faltava algum sabor na minha comida. Quando ele estava ali, me olhando daquele jeito que (creio) só eu percebia, eu me sentia a refeição dele, sendo devorada com os olhos a cada piscadela e a cada sorriso.

Algumas vezes conversamos ao telefone sobre essa coisa que acontecia. Ele não sabia explicar nem tampouco eu, mas era de uma intensidade tamanha, que só sentindo mesmo pra entender. Não muito tempo depois ele saiu da empresa e foi embora dali, mas o que ficou foi a lembrança da sensação maravilhosa que cada encontro de olhares provocava em mim. Sei não, mas creio que se tivesse acontecido algo além disso, talvez não tivesse sido tão bom quanto ficar na energia da troca de olhares.

A música que marcou essa história é do Tom Jobim, “Pela luz dos olhos teus”, sobretudo a primeira estrofe:

“Quando a luz dos olhos meus e a luz dos olhos teus resolvem se encontrar
Ai que bom que isso é meu Deus, que frio que me dá o encontro desse olhar
Mas se a luz dos olhos teus resiste aos olhos meus só pra me provocar
Meu amor, juro por Deus, me sinto incendiar”

Esse foi meu “sexo-refresco”, para ser lembrado por toda a vida. Recentemente ele me encontrou nesse mundo virtual, e restabelecemos contato. E um dia, teclando no Messenger, vi a foto dele e comentei que o cabelo tinha ficado mais branco, mas que o sorriso continuava o mesmo. Para minha surpresa, a palavra “sorriso” provocou nele lembranças do nosso “caso”, o que me leva a crer que foi bom pra ele também... hehehe...

Eis o link da matéria, para quem se interessar.
http://claudia.abril.uol.com.br/edicoes/542/fechado/amor_sexo/conteudo_182603.shtml

bjsssss

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Amores platônicos


No último domingo eu e a Alessandra fomos andar... no mesmo caminho que eu fiz com a Bárbara na semana anterior. Mas não fomos tão longe, até porque ambas tinham compromisso mais tarde. Ao longo do caminho está o Rio Würm, de águas rasas e cristalinas. E em determinado ponto, havia uma ilhota, com acesso possibilitado por troncos que ligavam as margens. Vale ressaltar que tem chovido regularmente, portanto esses troncos estavam cheios de limo, extremamente escorregadios, mas a despeito disso, resolvemos fazer nosso pique-nique lá. Na ida, tudo beleza. Na volta, eu caí e molhei meu pé direito, mas isso porque a Ale já tinha terminado a travessia e, ao fazer uma foto minha, acabou me fazendo rir – perdi minha concentração. Ainda bem que era raso, mas de qualquer maneira fiquei sentindo o tênis encharcado na caminhada de volta. A foto, um olhar para o alto a partir da ilhota onde estávamos.

Amores platônicos

A origem da expressão vem de Platão, filósofo seguidor de Sócrates. Na verdade, Platão dedicou-se a escrever as idéias de Sócrates para a posteridade, porque esse nada deixou escrito – seus ensinamentos eram transmitidos apenas oralmente. A teoria de Platão sobre o amor universal como lei natural era de que o amor devia unir a humanidade por laços fraternos, ou seja, amor platônico = amor fraterno. Mas não é essa a definição que se vê por aí.

Entende-se “amor platônico” como aquele não realizado no corpo, seja por um simples abraço ou beijo, embora exista o desejo latente do contato, do calor do outro. É provavelmente uma expressão criada por poetas românticos a fim de atenuar a dor do amor não correspondido, tornando-o algo bonito e perfeitamente realizável dentro de suas próprias fantasias. O amor perfeito, sem queixas, desajustes. Mas, ah como dói...

Eu tinha 12 anos quando conheci o primeiro amor da minha vida. Estava de férias em uma pequena cidade do interior de Minas Gerais, onde meu pai nasceu e meus avós moravam. Cidade pequena, onde todos se conhecem, lá podíamos sair à noite, o que pra mim e minhas irmãs (de 14 e 15 anos) era o máximo. E foi numa dessas “noitadas” que o conheci: 17 anos, olhos esverdeados, cílios longos e curvos e um olhar pra cima de mim que me fez sentir, pela primeira vez, o tal frio na barriga. Isso sem ao menos tocar a mão... sim, foi amor à primeira vista.

Mas como todas as coisas boas de uma viagem normalmente acontecem na véspera da volta, dessa vez não foi diferente. Eu voltei pra São Paulo ele ficou lá, soltinho. Claro que logo arrumou uma namorada e nem lembrava mais daquela menina tímida da cidade grande que sequer tinha beijado na boca (isso certamente ele não sabia). Quer dizer, lembrava forçosamente, porque eu escrevia cartas, mandava recados etc. Eu nutri esse amor, que não deu em nada, por mais de um ano e meio – que loucura! Todas as vezes que íamos pra Minas eu ficava cercando, passando pelos caminhos que ele fazia, andando de bicicleta em frente à casa e ao trabalho dele – coitado, deve ter ficado de saco cheio das minhas atitudes infantis. Isso só parou quando ele se mudou de lá para a capital, Belo Horizonte. E só fui reencontrá-lo uns 10 anos depois: eu já na faculdade, com uma infinidade de descobertas a fazer... é, não tinha absolutamente mais nada a ver, foi apenas por curiosidade de rever o meu “primeiro amor”.

Houve um segundo amor platônico na minha vida, aos 16 anos. Nessa época já tínhamos permissão de sair à noite (mas meia-noite tinha que estar em casa), e costumávamos ir a um bar-karaokê, onde nos divertíamos cantando e dançando. Lá havia um cara que era super bem relacionado, conhecido de todos, simpático, charmoso e que cantava bem. A gente se encontrava todos os sábados, sem combinar. E sempre havia aquele clima amistoso, de pessoas que gostam de algo em comum – cantar. Às vezes ele oferecia a música que ia cantar a alguém que estivesse aniversariando ou por qualquer outro motivo, sempre de forma gentil e amigável.

Um dia, não era meu aniversário nem nada, ele ofereceu pra mim Something, dos Beatles: “something in the way she moves, attracts me like no other lover... I don't wanna leave her now, you know, I believe and how” assim, cantada olhando nos meus olhos. O friozinho na barriga subiu... estava apaixonada de novo. Mas era (ainda sou um pouco) tapada demais pra tomar uma iniciativa, que fosse apenas de sentar-se à mesa para conversar com ele – porcaria de timidez! E a coisa ficou assim, no ar, tanto que algum tempo depois ele apareceu com uma namorada... que golpe! Fiquei uns dois meses sem dar as caras no local.

Depois do meu “retiro voluntário”, voltei a bater o cartão no karaokê. Tinha que me divertir um pouco... a vida não poderia ser só estudar e trabalhar – eu trabalhava no comércio do meu pai. Eis que quando cheguei, ao me ver, ele veio ao meu encontro... “você sumiu, senti sua ausência”. Ele não estava mais namorando, e a barriga gelou de novo. Mas que coisa! Continuou não dando em nada... foi só mais um amor platônico. O segundo e último.

Dali em diante resolvi que ia ser pé no chão em assuntos relacionados ao coração: não me permiti mais apaixonar-se assim, logo de cara. Não queria mais sofrer. “Oh, doce sofrimento do amor não correspondido”, diriam os poetas românticos... Falando sério, doeu sim, e eu não queria isso de novo. Creio que foi naquele momento que brotou em mim, ainda que de forma inconsciente, o esquema “um dia de cada vez”. Não vivi grandes paixões, como algumas amigas, mas também não sofri como elas. Isso não quer dizer que minha vida foi insossa nessa esfera, mas confesso que também não foi nada excepcional. Eu diria que foi até boa para alguém que se acreditava feia (coisas da vida, já superadas). Explorei muito bem os terrenos antes de me sentir segura pra pisar neles.

Resumindo: paixão é necessária à vida sim. Mas o essencial é o amor. Sem ele, não há paixão que resista muito tempo. Legal é se apaixonar diversas vezes em diferentes momentos e intensidades por aquele alguém que se está amando. Utopia? Eu digo por experiência própria que não.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

“Como vocês estão?”


Hoje a foto é da rua onde morei na Bahia: no fim da Rua Namorado, a praia. Não pensem que eu morava sobre as areias: essa foto eu fiz do portão da minha casa (com zoom, é claro). Na verdade eu pouco ia à praia, pois saía cedo pro trabalho e nem sempre tinha horário pra voltar – coisas de quem “veste a camisa” (ah se eu soubesse antes o que sei agora...) O nome da rua é bem sugestivo, porém é apenas o nome de um peixe. Todas as ruas do bairro tinham nome de peixes: pargo, badejo, xaréu, corvina etc. Pelo menos o meu peixe permitia um alegre duplo sentido.


“Como vocês estão?”

Um dia desses, conversando com uma amiga, falávamos de relacionamentos. Especulávamos sobre outra pessoa que conhecemos (especulações construtivas, é claro), sobre como ela e o camarada com quem ela tem se encontrado estavam – se já havia algo mais sério, ou mesmo expectativas de um em relação ao outro.

Achei interessante a pergunta “Como será que eles estão?” feita assim, solta. Bem, se essa pergunta fosse dirigida a mim, eu daria uma de desentendida e responderia “eu estou bem, com saúde, em paz... creio que ele esteja bem também nesse momento”. É a tal ansiedade de obter respostas pra perguntas que ainda nem foram formuladas...

Creio ser muito provável que nem mesmo nossa amiga saberia responder essa pergunta a contento pra si mesma, quanto mais para outros. A não ser que ela também padecesse dessa ânsia desmedida que, no meu modo de ver e viver, pode ser extremamente perniciosa ao futuro de qualquer coisa, quanto mais de relacionamentos. E se fosse do time dos ansiosos, já “saberia”, assim, mui rapidamente, se aquele era o “homem da sua vida” ou não.

Tô me sentindo repetitiva... mas, depois de dar uma de “João-sem-braço”, eu completaria a resposta com o que já disse aqui em outro texto: viver um dia de cada vez. Aproveitar o máximo cada dia, porque quando a gente deposita muitas expectativas no que ainda está por vir, acaba esquecendo de curtir o agora. E é no agora que se constrói o que virá. Antes ser repetitiva (nesse tema) do que quebrar a cara.

Conheci uma história interessante sobre como esse modus vivendi “um dia de cada vez” foi transmitido a alguém. Ao que parece, o caso tornou-se uma “utopia possível”. Qualquer dia desse eu conto aqui.