domingo, 2 de novembro de 2008

Certezas


Um dia desses ganhei uma sacola de nozes frescas, colhidas no quintal de uma amiga da pessoa que as ofertou a mim. Eram muitas, então decidi fazer um bolo. Só que a maioria das receitas de bolo de nozes são complicadas, e eu queria algo simples. Encontrei uma bem fácil, e o resultado ficou maravilhoso e delicioso (foto). O sabor das nozes picadas espalhou-se por toda massa fofinha do bolo. Nessa semana repeti a receita, mas fiz com avelãs moídas. Também ficou maravilhoso!

PS: Feliz aniversário, Cláudia!


Certezas


Te tenho com a certeza de que você pode ir

Te amo com a certeza de que irá voltar
Pra gente ser feliz...“
(Jota Quest)
Estou numa fase espiritualmente tão boa na minha vida, que nunca dantes minhas

certezas
foram tão plenas, tão tranqüilizadores e condutoras de uma paz interior inigualável.

Certezas que vão desde o que sinto, o que escolhi pra mim, o que tenho feito e o que ainda planejo fazer. Certezas que, ainda que não expressem exatamente o que eu um dia desejei, têm me conduzido a uma ratificação constante da minha crença no bom, no belo e no verdadeiro. Estou vivendo, mais do que nunca, a máxima “quem planta colhe”. E isso me estimula ainda mais a continuar semeando coisas boas pelo caminho.

Algumas pessoas ao meu redor não conseguem compreender a extensão do meu bem-estar, acham que eu posso estar me enganando e chegam a temer que eu sofra em função de uma dessas certezas. Mas a coisa é tão bela, tão pura e tão liberta de sentimentos mundanos que não tem como sofrer por conta dela. Sem chance mesmo. O Grande Pai tá no comando. Não há porque ter receio.

Ontem passei por uma prova que confirmou ainda mais tudo isso. Embora os olhos dissessem enfática e continuamente uma coisa (que vem totalmente ao encontro da minha certeza), as palavras disseram outra (o que me é completamente compreensível, em função dos últimos acontecimentos). Isso porém, sem fechar a porta. Logo, o tempo fará sua parte.

É claro que eu continuarei a fazer a minha, que é simplesmente permanecer em constante contato cósmico. Não dá pra simplesmente sentar e esperar, pois a vida segue seu rumo, avançando a cada amanhecer. Há que se confiar, mas para isso, é preciso agir. Não há como acreditar em conseguir algo se não agir na direção desse objetivo. Só que as ações nem sempre são visíveis e/ou palpáveis. Aliás, as ações mais poderosas não são mesmo.

No final, uma resposta que não mais era esperada e o convite a uma leitura instigante: isso já deve estar causando algum abalo. Mas pra fazer efeito, só com o tempo mesmo.

Eu espero por você, o tempo que for, pra ficarmos juntos mais uma vez” (Jota Quest)

É isso aí.


terça-feira, 21 de outubro de 2008

Was willst du? / O que você quer?

O auge do outono já foi... as árvores já estão mais peladas do que com folhas, e as poucas que ainda se seguram nos galhos semi-expostos já não têm as cores firmes. Mas ainda assim vale colocar aqui essa foto linda tirada ao lado da estação daqui de Germering, no início desse outubro dourado.


“Was willst du?” / “O que você quer?”

E a pergunta me persegue...

Ouvi essa pergunta novamente há alguns dias. Refletindo bastante sobre os contextos, cheguei à conclusão de que a objetivo dessa pergunta não é necessariamente saber o que o outro quer, mas sim projetar o que se quer na intenção do outro.

Explicando melhor: eu quero alguma coisa, mas não sei bem o que é. Então eu jogo essa pergunta, na (inconsciente) esperança de que a resposta da outra parte me ajude a saber o que eu quero.

Outra possibilidade é que você já sabe o que quer, mas tem um medo (também inconsciente) de assumir pra si mesmo isso. Então joga essa pergunta pro outro, de forma que se ele não quiser o mesmo que você, não vai doer tanto... afinal, a pergunta funciona como escudo!

Ah, na verdade, é tudo balela... se os dois sentarem-se frente a frente, olho no olho, a coisa se resolve em cinco minutos. Mas pra quem usa uma pergunta desse tipo (feita por conversa no telefone ou via mensagem no celular) pra se proteger... olho no olho pode ser algo muito perturbador!!!

E mais: penso que só se deve fazer essa pergunta a alguém DEPOIS que ela estiver devidamente respondida pra si mesmo.

Olha o divã aí, gente! A psicóloga aqui em mim vai entrar em ação!!!

hehehehe...


sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Julgamento x compreensão


Começou em Blumenau, Santa Catarina, a 25° Oktoberfest, a brasileira. Aqui, terminou no domingo passado, dia 5. E agora eu posso dizer como a festa começa (estive lá no dia 20 de setembro, às 9 da manhã) e como termina (no último domingo, fiquei até apagarem as luzes). Existem várias pequenas festas populares por aqui, mas o clima da Oktoberfest (a original) é ÚNICO. E olha que eu achava muito nada a ver ir pra um lugar pra beber cerveja e ouvir umas músicas que quase não se entende, pelo idioma e pelo imenso barulho. Paguei a língua. Aliás, pago há 3 anos... 2006, 2007 e 2008. Espero poder pagar mais... pois só vivendo isso aqui pra entender. A foto, Ochsen mit Kartoffelnsalat (carne com salada de batata) e uma Radler da Spaten, na Ochsenbraterei.

Julgamento x compreensão
Se você vive julgando as pessoas, não tem tempo para amá-las (Madre Tereza de Calcutá)
Li essa frase no orkut de um contato meu. Verdade mais pura não há.
Cresci vendo as pessoas ao redor criticando, julgando, falando da vida alheia. Buscando uma perfeição que não existe, a não ser na forma de ver delas próprias. E qualquer coisa que seja diferente dessa forma de pensar é “errada”, portanto, passível de julgamento. Quando li essa frase me lembrei do tempo de amor que essas pessoas já perderam e de quanto (infelizmente) ainda vão perder.
Eu tive a felicidade de conhecer pessoas que me alertaram que essa forma de ser não era legal. E a partir daí comecei meu processo de “desintoxicação” desse hábito. Faz tempo, e sinto que nesse período semeei coisas boas pra mim. Portanto, continuo semeando.
Não sou perfeita – longe de mim almejar isso. Sou apenas alguém que se observa (e muito) para se melhorar a cada dia. Ainda cometo erros, claro. Ainda faço julgamentos... mas a vigilância é boa, pois muitas vezes ainda em pensamento um possível julgamento é cortado pela raiz. E transformado em alguma forma de compreensão.
Um exemplo? Um cara te fecha no trânsito logo cedo, te dando um susto danado. Você pode xingá-lo, chamá-lo de barbeiro e outras denominações pouco amistosas, que ao serem pronunciadas injetam “toxinas” no seu sangue, afetando seu humor (pro lado ruim, claro). Ou você pode escolher imaginar “puxa, ele tá com pressa, deve estar com algum problema. Tomara que consiga resolver logo” - respira fundo e vai em frente, com uma boa injeção de tolerância e compreensão que vao tornar seu dia mais leve.
Se quem julga instintiva e incessantemente soubesse o bem que faz ver a vida com olhos de compaixão e compreensão... provavelmente faria um último julgamento, de si mesmo: “como fui idiota, quanto tempo perdi... agora quero apenas amar”.
Beijos compreensivos!!!


domingo, 28 de setembro de 2008

Sensações "inexplicáveis" / “Unerklärliche” Sensationen


Um pequeno pingente no meu pescoço... de ouro, praticamente sem as cores que chamam atenção... mas o que ele representa é tão forte, que quem por ele tem amor, consegue enxergar a quilômetros de distância.

Assim foi na Oktoberfest esses dias. Um grupo chegou perto de nós para perguntar como tínhamos conseguido cerveja, pois estávamos de pé, e normalmente servem apenas para quem está sentado a uma mesa. Só que antes que eu respondesse (em alemão, porque nesse idioma me perguntaram), um dos homens do grupo apontou pro meu pescoço e disse “olha, o brasão do Corinthians... você é brasileira?”

Resumo: o cara é diretor de futebol de 11 a 13 anos do Timão. E me deu uma camisa oficial novinha, que fui buscar no hotel dele no dia seguinte.

Salve o Corinthians!

PS: o outro pingente é minha menina, já grandinha, Luísa.

PS2: hoje é curtinho o post... com tradução lá embaixo.


Unerklärliche” Sensationen

Sie waren zusammen seit kurzer Zeit, und es war das erste Mal, dass sie gemeinsam flogen. Kurz nach dem Abflug hielt er ihre Hand fest und sagte:

- Ich habe den Eindruck, dass ich das mit dir schon erlebt habe...

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Und das Lied, wie immer:

... und wenn die Zeit kommt, kehrst du zurück, da unsere Liebe über allen Sachen dieser Welt steht” (Noch einmal - Jota Quest)

http://www.youtube.com/watch?v=kvFjaxdpKY4


Sensações “inexplicáveis”

Estavam se relacionando há bem pouco tempo, e era a primeira vez que voavam juntos. Logo após a decolagem, ele segurou forte a mão dela e disse:

- Tenho a impressão de que já vivi isso com você...

**********

A música, sempre uma música:

... e quando a hora chegar, volta... que o nosso amor está acima das coisas desse mundo” (Mais uma vez - Jota Quest)

http://www.youtube.com/watch?v=kvFjaxdpKY4


sábado, 2 de agosto de 2008

A pior semana da minha vida


Um dia desses, lendo um dos blogs que já estão nos meus “favoritos”, me peguei a pensar sobre o medo. O amigo blogueiro escreveu sobre os dele, fazendo uma lista. Refleti muito sobre o medo, e cheguei à conclusão de que o meu maior e talvez único medo seja o de perder a coragem de seguir adiante, de enfrentar as agruras da vida – ao mesmo tempo sinto que isso nunca vai acontecer, portanto, não tenho o que temer. Mas uma experiência eu passei... não me lembro de ter sentido medo propriamente dito, só que a dor foi inenarrável. O texto é bem longo, porém o relato do que vivi nessa semana não caberia em cinco parágrafos.

Procurando uma foto pra ilustrar, me deparei com uma que me lembrou do medo de ser picada por cobra ou aranha, embora eu saiba que a peçonha desses animais não é necessariamente a mais prejudicial ao ser humano. Essa coral apareceu na minha garagem num dia que eu estava voltando do mercado e tinha um monte de coisas no carro pra descarregar. Ela tinha uns 15 centímetros e, segundo o bombeiro que a capturou, era uma “falsa-coral”. Eu é que não ia dar mole para aquela miniatura de serpente em plena selva amazônica!

A pior semana da minha vida

Era um domingo de março de 2001. E como sempre, ela entrava cedo em meu quarto, pois acordava segundo o relógio biológico e queria brincar. E eu queria dormir... e a colocava pra correr. Tantas vezes fiz isso... tantas vezes ela voltou pouco depois com meu café da manhã, arrumado à sua moda, em uma bandeja... mas naquela manhã ela não retornou. E eu nem dei falta, pois dormi novamente.

Quando me levantei, a vi prostrada no sofá, queimando em febre. Havia um leve inchaço avermelhado atrás da orelha... levei-a imediatamente pro hospital. Deram remédio pra baixar febre, disseram “parece caxumba”, mas o estranho é que ela já era imunizada contra parotidite. Como poderia ser? Voltamos pra casa e ficamos de molho o resto do dia.

Na segunda-feira ela já estava melhor e foi pra escola normalmente. E eu fui trabalhar. Porém na hora do almoço ela estava febril de novo, o tal edema atrás da orelha tinha aumentado e a pele ao redor estava enrubescida e quente: sinal de infecção. Retornamos ao hospital. Começou então a pior semana da minha vida.

Decidiram internar, embora não tenham dito exatamente o que era. Só disseram que precisava entrar logo no antibiótico endovenoso, que conteria o avanço da infecção de forma mais eficaz. Mas punçar uma veia nela... ah, ela era avessa à agulha. Ainda é, porém agora é mais “controlável”. Tinha apenas 5 anos, mas foram necessários quatro adultos para segurá-la, além da enfermeira que pegou a veia. Em seguida teve início a terapia antibacteriana de seis em seis horas. A pediatra não deu nenhum diagnóstico, porém o anestesista, Dr. Jorge, tentou me tranqüilizar dizendo “é linfoadenite, fazendo o antibiótico direitinho resolve”. E eu ia lá saber que bicho era esse?

O antibiótico entrava por ali, naquele “caninho”, como a gente falava pra ela. Mas era criança, inquieta... e perdia a veia com muita facilidade. Nos quatro primeiros dias de internação, foi uma veia por dia – e o mesmo drama para pegar uma veia nova. Eu conversava, falava que precisava de um novo “caninho”, ela concordava, mas quando a agulha chegava perto, ela gritava, se debatia e se encolhia. Então eu tinha que endurecer, falar grosso, até gritar com ela... e claro, segurá-la com muita força, com a ajuda de outros adultos. Em seguida, saía do quarto, abraçava o primeiro ser humano que estivesse no corredor e chorava.

Embora ela tenha começado no antibiótico logo no início da internação, a infecção ainda avançou por 3 dias, deformando o rostinho dela de uma forma horrível. A pediatra vinha todos os dias, eu perguntava o que era, e ela não dizia abertamente. Só dizia que estava sob controle. Raios! Com minha filha transformada num monstrinho, como é que a coisa poderia estar “sob controle”? Mas ela estava bem, tagarela, ativa. E quando ia escovar os dentes, eu não podia impedi-la de se olhar no espelho. No auge da infecção, ela olhou no espelho e me perguntou: “mamãe, eu vou ficar feia assim pra sempre?”. “Claro que não filha”, eu respondi.

Linfoadenite... aquele nome ficou na cabeça, e só no quarto dia de internação é que a pediatra confirmou o diagnóstico: linfoadenite aguda, uma infecção nos gânglios linfáticos, responsáveis pela defesa do organismo contra ataques bacterianos (eles situam-se na parte inferior do maxilar, logo abaixo do queixo, bochechas e orelhas). Imagina essa região inchando, inchando até não se ver mais o pescoço... não, não queira imaginar. Era muito feio de se ver.

Nós tínhamos direito a quarto, e eu pude levar videocassete e os diversos filmes dela pro hospital, pra ajudar a passar o tempo. Eu mesma não podia ficar com ela o tempo todo, pois tinha que trabalhar. Durante o dia, havia sempre alguém com ela – ou a nossa empregada/babá, ou a professora dela, que sempre vinha à tarde para visitá-la, e que numa dessas visitas trouxe desenhos feitos pela turma toda, desejando que ela melhorasse logo. Assim que saía do trabalho ia pro hospital, e ficava com ela até o dia seguinte. Também começamos a planejar a festa do 6° aniversário dela, que seria em abril.

Paralelamente, havia naquela semana uma demanda especial para o nosso departamento: o recém-empossado diretor de finanças havia me incumbido de organizar uma festa de despedida para o antigo diretor, que se aposentara depois de 43 anos de trabalho na empresa. Essa demanda me foi passada ANTES da minha filha ficar doente, mas mesmo com ela no hospital eu continuei com a responsabilidade de coordenar a organização – era um trabalho em equipe. Em princípio, eu deveria estar na festa, num sábado à noite, para fazer o cerimonial. Porém eu disse às minhas colegas que só iria se minha filha melhorasse, portanto, seria bom que alguma delas se preparasse para ser a mestre de cerimônia. Mas a resposta que recebi na mesa de reunião não foi nada compreensiva... tipo, “você é que tem que fazer isso (o cerimonial), a gente não sabe”. Apoio e compreensão total, como se vê. Pudera, ali nenhuma delas era mãe, não poderiam jamais imaginar o que eu estava passando.

A partir do quarto dia é que a infecção começou a ceder, e o inchaço no pescoço foi diminuindo lentamente. Com isso, a pediatra decidiu fazer o antibiótico via oral, para poupá-la de ter que achar uma nova veia a cada dia. Ufa... um sufoco a menos. A deformidade foi dando lugar à normalidade, porém uma bolota teimava em não ir embora do pescoço. Segundo a médica, era um abcesso que havia se formado ali porque o corpo não tinha sido capaz de eliminar todo o pus da infecção. E para retirar, tinha que operar. “Um procedimento bem simples”, disse a cirurgiã-geral.

Minha pequena estava sempre ligadíssima nas conversas. “Como assim operar? Tem que cortar o meu pescoço? Eu não quero! Vai doer”. Então teve início outra luta: a de convencê-la que era preciso tirar os “bichinhos” que haviam ficado ali naquela bolota. Fizemos a encenação diversas vezes, começando pelo “cheirinho” que o médico colocaria no nariz dela e que a faria dormir, de modo que ela não sentisse dor. Aí, um cortezinho no pescoço, depois costura e pronto! Mas era só eu colocar a mão bem de leve no pescocinho dela pra ela me dizer “tô sentindo a sua mão, vai doer”.

Chegou o sábado, dia da festa de despedida do diretor. E não teve jeito: tive que ir e fazer o cerimonial. Ninguém abraçou essa tarefa por mim. O próprio homenageado falou comigo: “estou sabendo que sua filha está internada desde segunda-feira. Por que você veio aqui hoje?” Perguntas sem resposta.

A cirurgia estava marcada para o domingo. Vesti a roupa esterilizada, entrei no Centro Cirúrgico e fiquei ao lado dela. Mas ela estava tão tensa que foram necessários quatro adultos para segurá-la a fim de conseguir entubar. Não teria como ser outra anestesia senão a geral, e ainda assim demorou uns 5 minutos até que ela parasse de se debater em nossos braços. Nesse momento eu saí da sala. E fiquei chorando do lado de fora.

Foi realmente rápido. Menos de uma hora depois ela já estava de volta no quarto e já dava sinais de retornar da anestesia. “Eu não disse que ia ser rápido e que não ia doer?” Não tinha jeito: alguma coisa ela sentia, e por isso não concordava comigo. A cirurgiã-geral veio logo depois, comentou que havia muito pus mesmo e que o material seria enviado para análise, mas que provavelmente o bicho era um tal de Stafilococo, uma bactéria muito comum em infecções daquele tipo.

No dia posterior à operação tivemos alta e fomos pra casa, depois de uma semana no hospital. Ainda era preciso continuar com o antibiótico por cinco dias, além de cuidar da ferida operatória no pescoço. A pediatra recomendou Povidine para a assepsia do local. Só não sabíamos que minha pequena era alérgica a iodo... ai meu Deus! No dia seguinte a região do pescoço estava toda vermelha, com aspecto de queimadura, embora sem dor. E lá fomos nós pro hospital de novo... pomada para a alergia, e apenas água e sabão para limpar o corte.
Depois dessa semana difícil, tratamos de nos ocupar com algo bem legal: a organização da festa de aniversário de 6 anos, quando ela ganhou uma bicicleta nova e muitos outros presentes dos amigos.

Eu sempre soube que era forte, mas tinha consciência de que essa força deveria ter um limite. Nessa semana eu descobri esse limite, da maneira mais dolorosa possível. Não tem nada mais cruel do que ver alguém que amamos sofrer. Ainda mais quando esse alguém é indefeso, não tem consciência do que está passando. E o duro é ter que continuar sendo forte nesse momento, porque essa criatura precisa de você firme – se você fraquejar, ela fica mais indefesa ainda.

Nessa semana o que me valeu foi a sabedoria Adoniraniana*: Deus dá o frio conforme o cobertor, e eu sobrevivi, certamente mais forte do que antes.

E vamos em frente!!!

* trecho da música "Saudosa Maloca": "só se conformemo, quando o Joca falou, Deus dá o frio, conforme o cobertor..."


domingo, 27 de julho de 2008

Construir pontes


A foto de hoje é do local onde Barak Obama fez seu discurso em Berlim: o Obelisco da Vitória. Não, ainda não da vitória dele. O
Siegessäule (Sieg = vitória, Säule = coluna/pilar, e pronuncia-se "zigues-zóile") foi concluído em 1873 para comemorar as vitórias militares da Prússia sobre a Áustria, Dinamarca e França, entre 1864 e 1871.
O monumento tem 66,89 metros, e no seu topo fica uma estátua de bronze de 5 metros de Vitória, deusa da vitória militar. Uma escadaria de 285 degraus leva ao topo da coluna, onde há uma plataforma de observação a 45 metros acima do nível térreo (informações da Wikipédia). Depois do Brandenburger Tor, é um dos pontos turísticos mais conhecidos de Berlim. Pudera, dessa plataforma de observação tem-se uma vista muito legal da cidade (veja nesse link várias fotos do local: http://pt.wikipedia.org/wiki/Siegess%C3%A4ule. Ah, a foto aí ao lado também foi retirada da Wikipédia. Eu ainda não visitei Berlim.

Construir pontes

“É tempo de construir pontes”, bradou em Berlin o candidato à presidência da República dos Estados Unidos, o senador Barak Obama. Um discurso bem ao estilo “falar o que o mundo quer ouvir”, para uma platéia de mais de cem mil pessoas (outras fontes mencionam mais de 200 mil), que o aplaudiram calorosamente.

Não estou aqui para julgar se o cara é bom ou não, mas sou partidária da esperança. Só que vou mais além: esse discurso de construir pontes, para dar certo de verdade, precisa ser desvinculado dos interesses materiais. Essa é a parte utópica, eu sei...

Quando adolescente, colecionava textos e poesias num caderno. Tudo o que encontrava de legal, copiava lá. E uma vez copiei um texto chamado “Quero ser ponte”. Falava da importância de ser um elo na corrente da vida, de servir de ligação entre pessoas e sentimentos. Trocando em miúdos, seria viver sem rótulos de raça, credo ou nacionalidade, viver aberto ao próximo em sua mais sublime forma: a de ser humano, que compartilha iguais necessidades de abrigo, alimento, afeto e sonho.

Por mais partidária da esperança que eu seja, tenho os pés no chão: o discurso do provável futuro ocupante da Casa Branca está muito, muito longe de estar livre de interesses mundanos, capitalistas. Pode ser que a humanidade melhore, porém será muito mais pela sensibilização e mobilização de alguns poucos do que pela escolha de um ou outro novo comandante em países mundo afora.

Para verdadeiramente servir ao propósito de unir, a construção de pontes deve começar no coração de cada um. E por mais insensibilidade que o capital imponha ao homem, eu acredito que a essência humana é boa e tende sempre a esperar por dias melhores. Só que não pode esperar sentada: tem que se mover nessa direção, ou corre o risco de ser levada pelo fluxo. Nesse caso, não tem como assegurar que o destino será o que se desejou.

Barak Obama protagonizou em Berlin uma cena inédita na política internacional: um candidato a presidência de outro país mobilizar tantos cidadãos para um discurso de campanha em solo estrangeiro – e olha que não foram mexicanos ou outros hispânicos! É, de alguma forma pontes já começaram a ser construídas no coração de muitas pessoas, sobretudo as que foram ao Tiergarten em Berlim e esperaram horas pelo discurso do homem que, só por ser quem é, já está fazendo história.

Em tempo: ele falou em “construir pontes” para uma platéia européia. Será que vai fazer um discurso igual a esse na Cidade do México, por exemplo???

Em tempo 2: ainda tenho o tal “caderno de poesias”, encaixotado entre meus livros lá no Brasil.

domingo, 20 de julho de 2008

Uma analogia interessante


Quando estive aqui em 2005, fui a um “orkontro”, onde conheci diversas pessoas, entre elas o Stefan, um engenheiro que trabalha na BMW. No segundo “orkontro” ele estava lá de novo, e na hora de ir embora fez questão de me levar pra casa, embora a direção fosse diametralmente oposta à dele. É que ele estava passando uns dias com um carro da empresa a fim de fazer testes e, ao final do período, um relatório. Antes de partir, ele colocou o meu endereço no sistema de navegação. No caminho, foi apertando botão lá e cá, mostrando confortos que eu nem imaginava que poderiam existir e pedindo minha opinião a respeito. Dias depois escrevi pra ele e perguntei se o relatório tinha ficado bom. Eis que ele me respondeu: “Marina, sobre nossos carros só é possível fazer ÓTIMOS relatórios”. É, BMW é outra história... e o carro dá pra ilustrar, colocando a foto de um modelo aqui. O X5, por exemplo. A foto não está lá muito boa... mas o carro é tão tchan, que ainda assim consegue se mostrar imponente.


Uma analogia interessante

Já escrevi alguns textos aqui sobre relacionamentos, sobre algumas experiências e acima de tudo, sobre minha maneira de pensar e viver essas coisas. E justamente por isso que tenho sido considerada utópica, com diversas pessoas me dizendo “o que você busca não existe”. No texto "Utopia concretizada cria jurisprudência?" (
http://marinanoar.blogspot.com/2008/04/utopia-concretizada-cria-jurisprudncia.html) fui bem clara nessa minha posição.

Pois bem, sempre insisti e continuarei insistindo que, se uma coisa já aconteceu, pode sim se repetir, não 100% idêntica em formas e cheiros, mas em essência é possível chegar bem perto disso. Eu vivi uma relação porreta de legal e depois dela, nada do que apareceu na minha vida me serviu – me tornei exigente demais, diriam alguns. Mas eu é que não iria me contentar com algo inferior ao que já tinha tido.

A melhor analogia que eu pude encontrar para explicar minha postura nesse caso foi dizer que, em termos de relacionamentos, eu já dirigi um BMW, portanto, depois disso não dá pra acostumar com um “carro qualquer”.

Reconheço que ter mais que um “relacionamento-BMW” na vida pode não ser uma coisa assim fácil de se conquistar, mas sei dos meus predicados e sei o que quero. Indo um pouco além na analogia, pode-se dizer que se a Bayerischer Motor Werk (ao pé da letra, Fábrica de Motores da Baviera), situada aqui em Munique, oferece diversos modelos (compactos, esportivos, familiares, conversíveis, minivan etc.), o mesmo deve ser com os “relacionamentos-BMW”: a vida pode oferecer outros. Claro que não tem como ser exatamente igual, afinal eu mesma não sou igual ao que era ontem, mas tem que ter os mesmos padrões de qualidade.

Insanidade minha? Ah... acho que não. E já estou de olho no próximo modelo...

Em tempo: a BMW até poderia me pagar por essa propaganda gratuita!!!


sábado, 19 de julho de 2008

Über das Süß-sein / Sobre ser doce


Uma das coisas mais engraçadas do aniversário de uma amiga foi ver alguns convidados jogando pingue-pongue. Acho que eles inventaram algumas regras novas, tipo a bolinha ter que passar entre as garrafas junto à rede, e a cada raquetada, tinham que tomar um gole de cerveja. Pode ter certeza que não houve vencedor nesse jogo... kkkk... E outra: quase houve banho de ovo. Alguém pegou os ovos na geladeira e saiu distribuindo um pra cada, meio que escondido, pra que pudéssemos pegar a aniversariante de surpresa. Ele só não sabia que os ovos já estavam cozidos... que gafe! E a festa terminou em volta de uma fogueira, com violão e cantoria. Muito legal! Ah, tem tradução do texto de hoje lá embaixo.


Über das Süß-sein
Noch eine kurze Geschichte... Auch dieser Dialog stammt ursprünglich aus dem Englischen.

Sie lebte am Meer... es war super schön, aber die Insekten waren für sie immer ein Problem, weil wenn sie gestochen wurde (und es passierte sehr oft), hatte sie eine Allergie, und es juckte sie sehr.

Sie schlug ein Insekt auf ihrem Bein und sagte:
- It's unbelievable how these insects love me... I may be sweet!
Er schaute sie mit einem listigen Blick an und antwortete:
- Yes, you are. I know that.

Und ein Teil eines Liedes, um diese Geschichte zu ilustrieren:

“Komm und küss mich, mein süßer Vampir...”
http://www.youtube.com/watch?v=3mymIrWrWPI
(Rita Lee)

Sobre ser doce

Morava junto ao mar... muito legal, mas os insetos eram um problema, porque sempre que ela era picada por um (e isso acontecia muito freqüentemente), tinha alergia local e coçava muito.

Ela matou um mosquito que estava sobre sua perna e exclamou:
- É inacreditável como esses insetos me amam... eu devo ser doce!
Ele a fitou com malícia no olhar e replicou:
- Sim, você é. Eu sei disso.

E um trecho de uma canção, pra ilustrar essa historinha:

“Venha me beijar, meu doce vampiro...”
http://www.youtube.com/watch?v=3mymIrWrWPI
(Rita Lee)



quarta-feira, 16 de julho de 2008

A cama nova


Gostei desse negócio de histórias curtinhas com “trilha sonora”... aí vai mais uma. E pra “descer redondo”, uma Weißbier a fim de deixar meus leitores com sede... com a tábua de asinhas e costelinhas ao fundo... ai, desculpe, é jogo baixo, eu sei... kkkkk


A cama nova

Depois de engolir muito “sapo cururu“ com as companheiras de república, ela colocou todas pra correr e estava morando sozinha – com o aluguel em fim de contrato, dava pra encarar. Só que não tinha uma cama decente... a dela era de rodinhas, daquelas que ia embaixo do beliche pra formar treliche. Então decidiu comprar uma.

Entregaram rapidinho, e o namorado estava em casa quando a cama chegou. Ela estava ansiosa pra vê-la montada, e foi logo na casa do zelador pedir ferramentas emprestadas.

Quando voltou, o namorado, que estava assistindo TV, falou pra deixar que ele montaria depois, ignorando completamente a ansiedade dela. Por sua vez, ela ignorou o que ele disse e passou direto pro quarto. Menos de 15 minutos depois, foi saindo com as ferramentas para devolver ao zelador.

Ele: onde você vai?
Ela: vou devolver as ferramentas.
Ele: mas e a cama?
Ela: já montei. Pra essas coisas não preciso de homem na minha casa.

E a música:
“As coisas não precisam de você
quem disse que eu tinha que precisar...”

http://www.youtube.com/watch?v=EZmes76uNqA
(Virgem, Marina Lima)




terça-feira, 15 de julho de 2008

Conflitos e convicções


No último sábado, 12 de julho, houve um jogo beneficente na Arena de Munique. Foi anunciado como sendo um jogo com as maiores estrelas do futebol atual, embora os mais esperados (Ronaldinho, Cristiano Ronaldo e Kaká) não tenham dado o ar da graça. Mas um que nada tem a ver com futebol compareceu, “jogou” pra caramba e até marcou um gol: Michael Schumacher (na verdade, o cara corria feito barata-tonta, meio que pra marcar presença no campo – foi engraçado ver como ele corre sem as quatro rodas!). O evento foi parte das comemorações dos 90 anos de Nelson Mandela, e a renda foi revertida para sua fundação, cujo objetivo é dar um futuro melhor às crianças da África. A pelada teve gol pra caramba, claro que tudo devidamente ensaiado. Na foto percebe-se que o estádio poderia comportar muito mais gente... meu ingresso foi na faixa, claro. Aí vale a máxima "não precisa ser o rei, basta ser o melhor amigo do rei"... hehehe


Conflitos e convicções

Um dia desses recebi por email um filme de gestão empresarial sobre conflitos. Interessante ver que, na opinião do Prof. Alexandre Freire, da FGV, não há ninguém errado em um conflito, que é na verdade um choque de valores, e cada um dos envolvidos está ali defendendo o seu ponto de vista.

Desde a minha entrada no mundo corporativo, aprendi muito sobre trabalho em equipe, feedback, saber ouvir... aprendi que a melhor forma de manter o emprego era colocá-lo em risco diariamente, sob a forma de assumir riscos que pudessem trazer bons resultados para a empresa e, além disso, nunca fui acomodada, sempre busquei contribuir com a minha opinião. Com o tempo, fui aprendendo a fazê-lo de forma mais suave, mais compartilhativa, para que não soasse como imposição ou arrogância.

Só que o mundo corporativo está cheio de pessoas, e essas são carregadas dos mais diversos tipos de sentimentos. E nesse meio, os mais comuns são a inveja, a ambição e o comodismo. O comodismo gera uma falsa sensação de que “está tudo bem”. Conheci gente assim, e que sobreviveu anos a fio na mesma posição, fazendo “sempre tudo igual”, porque o importante era manter o emprego. Engolia sapos de todos os tamanhos, puxava saco de todo e qualquer colega de trabalho que tivesse um cargo acima do seu, algumas vezes apertava o botão do “foda-se”, e ainda assim ia adiante. Gente assim é meio sem valores, eu acho, porque literalmente “dança conforme a música”.

Já a inveja e a ambição são altamente perniciosas, sobretudo porque invariavelmente andam juntas. E uma pessoa movida por essa dupla é capaz de qualquer coisa pra conseguir o que quer. Qualquer coisa inclui até mesmo puxar o tapete de alguém a ponto de deixar um pai de família desempregado. Falo com conhecimento de causa: sou “pãe-de-família” e já passei por isso.

De tudo que aprendi, o que sempre cultivei com muita força foi o saber ouvir e o feedback, dois valiosíssimos meios de crescimento pessoal, quando bem conduzidos. Praticar feedback é muitas vezes complicado, porque exige que as partes envolvidas tenham uma abertura para ouvir coisas que às vezes não agradam, pois é por meio dessas observações que a gente tem como se auto-avaliar, mudar posturas e melhorar como profissional e ser humano.

O problema é que muita gente pode estar mentindo quando diz que está aberta a ouvir uma crítica ou que vai sempre dar um toque a você quando perceber algo que não foi legal, que pode ser melhorado. Você se abre pra essa pessoa, acreditando que ela vai lhe ajudar assim como você está disposto a ajudá-la, mas a recíproca não é verdadeira, e ela se aproveita das informações que você lhe dá para usá-las de alguma forma contra você mesmo. Falo também com conhecimento de causa.

Apesar desses acontecimentos, eu continuo acreditando que as pessoas são confiáveis, que a melhor forma de crescimento é o diálogo aberto e franco e que o melhor caminho para crescer profissionalmente é arriscar-se e ousar sempre. E depois de assistir a esse filme, vi que me encaixo nos dois exemplos citados: o diretor e o capitão do navio. Ambos prefiriram não abrir mão de seus valores pessoais, ainda que esses fossem contra valores corporativos (coisa muitas vezes extremamente subjetiva) e que tenham lhes custado o emprego.

Portanto, diante da mediocridade da pessoas no mundo corporativo, a lição que fica é: nunca traia suas convicções. Trabalho nunca vai faltar pra pessoas de alto valor com sólidos valores pessoais.

Para quem se interessar, segue o filme.


sábado, 5 de julho de 2008

“Sejam realistas, exijam o impossível”


O que inspirou o texto de hoje foi essa frase, que li no orkut de uma amiga... e acabei encontrando uma conexão interessante entre essa frase e minhas andanças vida afora. Pra ilustrar, um dos cartões-postais mais visitados de Munique, a Frauenkirche (ao pé da letra, Igreja da Mulher). Em dias claros, suas duas imponentes torres de quase cem metros de altura com abóbadas esverdeadas podem ser vistas de praticamente qualquer ponto da cidade. Ela foi severamente bombardeada na Segunda Guerra, mas quem a vê atualmente não imagina que ali havia praticamente escombros em 1945. Lá dentro há uma exposição permanente das fotos do pós-guerra, nas quais só se reconhece a construção pelo esqueleto – é impressionante ver o estado em que ela ficou. Pra mim ela é um cartão-postal que já faz parte da paisagem. Mas que continua imponente, ah, continua...


“Sejam realistas, exijam o impossível”
(Soyez réalistes, demandez l'impossible)

Li essa frase no perfil do orkut de uma amiga (não sei o autor) e adorei, por um simples motivo: na ótica da maioria dos meus amigos e amigas, eu sou uma utopia ambulante, que vive querendo “o que não existe”. Pois bem, é por querer “o que não existe” que eu me coloco a trilhar caminhos novos, diferentes, e muitas vezes acabo conseguindo aquilo que todos diziam ser impossível.

Uma amiga fez um comentário aqui no meu blog, nos textos sobre a boneca dos meus sonhos (a Anda Nenê) que no fundo, a minha admiração era justamente por ela andar... algo que eu ainda faria muito na vida – e de fato, é só o que tenho feito. Achei muito procedente o comentário... ainda não tinha pensado dessa forma.

Mas esse instinto “andarilho” tá no sangue. Meu pai nasceu no interior de Minas Gerais, na década de 40 do século passado, onde mal havia rádio e as notícias demoravam horrores pra chegar. São Paulo era algo tão distante não apenas geograficamente, pois a distância era relativamente muito maior que hoje em dia, em função da precariedade do transporte existente, como também psicologicamente: para muitos ali, São Paulo era algo “impossível” de se alcançar. Sabia-se apenas que era uma cidade grande e cheia de oportunidades, mas poucos ali daquela região haviam ousado desbravá-la.

Meu pai foi um deles: deixou aquele interior pra trás, aos 17 anos, encarou três dias de uma “sacolejante” viagem de trem, passando pelo Rio de Janeiro, até chegar no seu destino. Como ele sempre contou, no dia seguinte à sua chegada, já estava trabalhando: não tinha tempo ruim pra ele. Trabalhou muito, constituiu família, deu aos filhos condições melhores de trilharem seus próprios caminhos... em diversas ocasiões foi muito cabeça dura sim, mas no frigir dos ovos, há muito mais o que reverenciar do que o que criticar. É, esse homem foi realista, sempre exigiu dele mesmo e da vida apenas o impossível.

Ser sagitariana como ele certamente deu algum impulso a esse espírito desbravador, essa mania de querer sempre mais, de estar em constante busca pelo novo. Não que eu seja uma eterna insatisfeita – muito pelo contrário, agradeço a Deus por tudo que sou e tenho, e faço isso a qualquer momento do dia, o tempo todo. Mas estou sempre de olho lá na frente, em o que há por descobrir, por conquistar.

Isso posto, vejo que pretendo continuar sendo realista, ou seja, exigindo de mim e do mundo que me cerca nada além do impossível, afinal, ele só existe na cabeça das pessoas de pouca visão. Só que para exigir o impossível, é preciso estar disposto a andar. Porque a vida é movimento, e só avança verdadeiramente quem tem os olhos cravados no horizonte e segue em direção a ele, porém bem atento a onde pisa, para garantir que vai alcançá-lo sem problemas no percurso.

Beijosssss

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Der erste Kuschelabend / O primeiro aconchego


Hoje vou postar em alemão e inglês uma história bem curtinha (com tradução no final). Tenho estado meio preguiçosa pra escrever, embora as idéias não parem de fervilhar na cabeça, só que sempre quando estou longe do computador... quero escrever... só preciso me concentrar para isso quando estou diante dele! Tempo nunca falta, é só planejá-lo adequadamente, o que eu não tenho feito... pronto, assumi minha atual desorganização pessoal! Pra ilustrar, uma foto de um pôr-do-sol amazônico, tirada na cidade de Terra Santa, Estado do Pará, na divisa com o Estado do Amazonas.

Der erste Kuschelabend
Das ist eine Geschichte von einem ersten Kuschelabend. Der Dialog stammt ursprünglich aus dem Englischen:

Nach einem normalen Montag haben die zwei sich zum ersten Kuschelabend getroffen, in ihrer Wohnung. Die beide waren echt müde, und mussten am folgenden Tag wieder arbeiten. Aber er lag auf ihrem Schoss als ob es nichts mehr wichtiges im Leben gäbe... wie ein kleiner Junge verloren im Urwald, der endlich eine Zuflucht gefunden hatte.

Sie: it's late, I have to work tomorrow, and so do you. I need to go to sleep.
Er: but I don't wanna go away...

Um diese Geschichte zu ilustrieren, ein Teil eines Liedes:
“and
when you find yourself lying helpless in her arms
you know you really love a woman”

http://www.youtube.com/watch?v=3pJoMeEg8cM
(Bryan Adams)

traduzindo...

O primeiro aconchego

Depois de uma segunda-feira normal de trabalho, os dois se encontraram no apartamento dela, e ficaram por um longo tempo juntos, abraçados, no que foi o primeiro momento de aconchego deles. Ambos estavam cansados, e tinham que trabalhar normalmente no dia seguinte. Mas ele havia se aninhado nos braços dela como se nada mais na vida tivesse importância, como um pequeno menino perdido na floresta, que finalmente encontrara um abrigo.

Ela: é tarde, eu tenho que trabalhar amanhã, e você também. Preciso ir dormir.
Ele: mas eu não quero ir embora...

E o trecho de uma canção, para ilustrar essa história:
e quando você se vir repousando indefeso nos braços dela
você saberá que realmente ama uma mulher”

http://www.youtube.com/watch?v=3pJoMeEg8cM
(Bryan Adams)

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Quando as palavras são desnecessárias


O texto de hoje não tem introdução, pois há ocasiões em que as palavras são dispensáveis... mas a ilustração é bem colorida, porque a vida é mais feliz quando tem muitas cores. A artista? Minha filha Luísa.

Quando as palavras são desnecessárias

Um encontro... olhares se cruzam... afinidades afloram... sentimentos nascem e crescem... e foram se conhecendo tão intensa e profundamente, que para saber como o outro estava, não era mais preciso perguntar: bastava olhar nos olhos. E se não estivessem por perto, seria suficiente dois minutos de conversa pra sentir na respiração ou no tom de voz. Havia total transparência ali entre eles, ninguém escondia nada um do outro. Até porque com aquela sintonia, nem era possível.

Distância... eles nem sempre podiam estar fisicamente perto. Havia outras variáveis nessa história, mas nada que pudesse abalar verdadeiramente aquele sentimento que os unia. Apesar de um oceano estar no meio deles, não havia no mundo dois seres que estivessem mais próximos um do outro. Pelo menos, era o que eles sentiam, era o que parecia ser.

Relacionamento... ele aprendeu tanta coisa legal com ela, cresceu como pessoa, conheceu diferentes formas de encarar a vida, família, trabalho... ao lado dele ela pôde constatar que suas utopias sobre convivência com homens eram plenamente realizáveis, ao lado dele ela teve a coisa mais importante que uma mulher precisa de um relacionamento: sentir-se amada.

Experiência... porém chegou um dia em que ele sentiu-se pressionado de alguma forma (não por ela), por circunstâncias ou coisa parecida e, por falta de maturidade, fez a escolha mais fácil: decidiu terminar aquela história, uma decisão unilateral, por telefone, sem dar chance ao diálogo, ao olho no olho.

Dor... é claro que ela sofreu, mas pouco depois escolheu não mais chorar nem sofrer, afinal, uma história tão linda como aquela só poderia deixar lembranças bonitas. Só que a dor fez com que ela se tornasse mais exigente consigo mesma e com os homens com quem viesse a se relacionar. E a vida seguiu adiante, mas ela sempre sentiu falta de olhar nos olhos dele uma última vez, pra poder ter certeza do que a voz entregava: de que aquela decisão de terminar não havia vindo do coração.

Tempo... senhor soberano, cura todas as dores. Na verdade, não é de fato uma cura, mas ele faz com que as pessoas se acostumem com suas novas realidades. E elas passam a doer menos. Ela nunca mais ouviu falar dele, só sabia que ele já tinha outra pessoa. Que fosse feliz assim, desejava ela sinceramente, sem mágoas ou ressentimentos.

Acaso... eis que um dia, nesse mundo virtual, alguém que o conhecia a encontrou, fez contato e contou algo que abalou o coração dessa mulher: ele havia ficado viúvo. Um sentimento estranho a perturbou por alguns dias, e ela não entendia porque, afinal, tinha certeza de que não o amava mais, de que ele tinha se tornado apenas “uma história bonita” na vida dela, que pertencia ao passado. Mesmo assim, decidiu procurá-lo, a fim de conversar olho no olho e fechar aquela porta que havia ficado entreaberta.

Reencontro... demorou mas aconteceu. Depois de tantos anos, era muito estranho rever alguém que havia sido tão importante. Ela simplesmente não sabia o que esperar, como ele reagiria, o que conversariam. Mas quando se viram, havia um brilho tão radiante no rosto de ambos, mas que porém era muito mais evidente, realmente indisfarçável, no sorriso dele.

Palavras... conversaram horas sobre o que se passou com cada um. Ela se preparou para esse encontro de forma a não querer falar do passado, ainda que fosse de coisas bonitas e alegres que ambos viveram. E realmente não fez isso, mas ele a todo instante evocava algo que haviam vivido. Enquanto ela contava de seu processo de autoconhecimento, de como isso estava lhe fazendo bem, ele dizia apenas “eu sei”, como a confirmar que a conhecia muito bem. “A essência não muda”, disse ela, e ele disse “estou percebendo”.

Não falaram nada sobre o fim do relacionamento. E acho que ela conseguiu o que queria: teve certeza do que a voz dele entregou naquele fatídico telefonema. E o sentimento que ficou no ar, depois de muita conversa sobre amenidades, é de que na verdade aquela história nunca acabou, pois parecia que tinham se encontrado no dia anterior (e não há quatro anos e meio), tamanha era a sintonia.

Se encontraram mais uma vez... e não houve como adiar mais o encontro dos lábios. Era claro como a luz do dia que apenas lábios e olhos estiveram longe uns dos outros durante aquele tempo todo. Só sei que naquele reencontro, olho no olho, as palavras foram absolutamente desnecessárias para falar sobre coisas do coração.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Bicicleta ao mar!


Eis o cenário da história de hoje... na verdade, essa foto foi tirada do alto do morro onde se localiza o Trampolim, logo, ele não aparece. Mas a beleza da praia compensa. A foto é do álbum da minha irmã, mas eu não sei exatamente quem a fez.

Bicicleta ao mar!

Havia pouco tempo que meu pai tinha comprado uma casa na praia, em Barequeçaba, São Sebastião. Tudo era novidade... finais de semana, feriados prolongados, íamos sempre pra lá. A praia é uma delícia... típica para família com crianças e pra quem não gosta de tomar caldo: é quase uma piscina, sem ondas fortes. Isso provavelmente se dá em função da sua localização, meio de frente pra Ilhabela, meio pro mar aberto. É uma pequena enseada, delimitada por dois morros, na entrada sul do canal de São Sebastião.

Estávamos descobrindo o local, quando ficamos sabendo do Trampolim. “Ah, é ali atrás do morro menor”, disse um. “Mas como é lá, o que tem de legal?”, disparamos em tom de curiosidade desbravadora. “É um lugar onde a gente pula das pedras na água, de cabeça, se tiver coragem... e tem várias alturas!”. Ficamos pensando no perigo que seria tal lugar, pular e bater a cabeça em pedras... mas tanta gente falava que era o máximo, que não havia perigo, que só nos restava uma opção: subir o morro por um lado e descer pelo outro, e explorar o Trampolim.

A idéia de pular de cabeça na água me era fascinante e ao mesmo tempo assustadora. A descida até o Trampolim é bem íngreme, se a gente não se cuida direito, pode escorregar e descer “de bunda”. Chegando lá, vimos que era mais legal do que contaram... tinha até escadinha de corais pra subir e pular de novo, e não tinha pedras que ofereciam risco sob as águas, porque ali é um paredão de rocha. Mas e a coragem pra pular, mesmo que do “zerinho”, o nível mais baixo? Sobre o nível mais alto, há controvérsias... uns dizem que é o 5, outros dizem que existe até o oito.

Mas voltando... depois de alguns momentos de “vai-não-vai”, pulei, do nível um. Delícia... subi, pulei mais algumas vezes... e com o tempo, fui ousando mais, mergulhando de cabeça, embora nunca tenha passado do nível três – ali já era adrenalina suficiente.

Meu pai ficou sabendo do Trampolim, que era muito perigoso e coisa e tal, e proibiu meu irmão, na época com 9 anos, de ir lá. Meu irmão saía pelo bairro, às vezes a pé, às vezes de bicicleta, fazendo amigos e, claro, ignorando a determinação paterna, ia no "local proibido" com os colegas. Foi num feriado prolongado que demos falta da bicicleta dele. Perguntamos “cadê sua bicicleta?”, e ele disse que tinha deixado “ali”, que ela talvez tivesse sido roubada. Disse isso sem muita convicção, mas como quem desejava ardentemente que o assunto fosse esquecido. E até foi... ninguém perguntou mais sobre a magrela.

No dia seguinte, quando caminhávamos até a praia, um dos coleguinhas dele o viu e gritou “e aí, conseguiram pescar sua bicicleta? Acho difícil, porque ali é fundo”. Daí entendemos o que tinha acontecido: a bicicleta tinha ido ao mar. Numa escorregada na descida íngreme até o Trampolim, ele perdeu o equilíbrio e soltou a bike, que despencou lá de cima pro fundo das águas azuis do canal de São Sebastião.

Depois desse episódio, meu irmão continuou indo lá, e ousava cada vez mais, pulando dos níveis mais altos. No orkut tem uma comunidade sobre o Trampolim de Barequecaba, com histórias contadas por seus protagonistas no fórum. Lá ele conta que num dos saltos, lascou um dente com o impacto na água. Eu tive perfuração de tímpano uma vez. Pra quem quiser, eis o link:
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=8099614

Que idéia de doido descer até lá levando a bicicleta... mas pelo menos ele desceu desmontado! Antes a bike do que ele!

domingo, 11 de maio de 2008

Maria, Maria

“Maria, Maria é um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta
Uma mulher que merece viver e amar
Como outra qualquer no planeta
Maria, Maria é o som, é a cor, é o suor
É a dose mais forte e lenta
De uma gente que ri quando deve chorar
E não vive, apenas agüenta
Mas é preciso ter força, é preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo essa marca
Maria, Maria mistura a dor e a alegria
Mas é preciso ter manha, é preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania de ter fé na vida”
(Milton Nascimento e Fernando Brant)

O texto de hoje está há muito incubado em minhas idéias. E hoje é dia das mães no mundo inteiro, o que me deu a motivação que eu precisava para escrevê-lo. Talvez como homenagem, mas dificilmente a homenageada vai lê-lo – onde ela vive o máximo de tecnologia disponível é rádio e TV a cores com antena parabólica. Sem problema, pois nossa comunicação é de coração pra coração. Pra ilustrar, uma foto com minha Maria, ao lado de seu filho Geraldo e suas três netas. Estávamos em uma gruta de Santa Maria à beira de alguma estrada em Minas Gerais, lá nos remotos anos 70. Minha mãe também estava presente nessa cena: foi ela quem fez a foto.

Maria, Maria

Todo mundo conhece pelo menos uma Maria, ainda que seja apenas a Maria mãe de Jesus. Quem é cristão/católico é de alguma forma íntimo dela, certamente. Marias... na minha família existem algumas. Porém a mais marcante, mais sábia, mais compreensiva, mais humana de todas é a minha avó: Maria dos Anjos, quase 87 anos, 3 filhos, 12 netos, 8 bisnetos.

Mulher da roça, onde vive e de onde não quer sair, sempre levou (e ainda leva) uma vida simples: ali cresceu, casou, teve vários filhos (mas apenas 3 viveram). Desde 1921, quando ela nasceu sagitariana, em 21 de dezembro, o mundo passou por muitas coisas, boas e ruins. Nesses tempos remotos, mal havia rádio – ficava-se sabendo das coisas pelos tais caixeiros viajantes, que passavam ocasionalmente vendendo coisas.

O progresso foi chegando. Da casa de pau-a-pique e luz com lamparina de querosene passou a uma de alvenaria no início dos anos 80, com luz elétrica. Aí já era possível ter televisão: foi um acontecimento na roça. A casa dela ficava sempre cheia de gente querendo ver aquele tubo com imagens em preto e branco. A imagem era ruim, chiava muito porque o sinal era fraco e a antena não fazia milagres naquele rincão, mas mesmo assim era algo digno de “roupa de festa”. E a Maria dos Anjos sempre recebia com carinho e café a todos os que vinham assistir televisão em sua casa. Até hoje ainda há pessoas que aparecem por lá pra ver TV, que já há algum tempo é a cores – não porque não há luz elétrica em suas casas, mas porque não possuem uma televisão (a região ainda é bem carente).

Em algumas ocasiões, vi Maria ser afrontada, até insultada, ofendida... mas nunca, nunca mesmo a vi revidando a esses ultrajes. A palavra e o comportamento dela nessas situações sempre foram invariavelmente de perdão e compaixão. Até mesmo na partida de alguns de seus mais queridos ela foi serena: meu bisavô/seu pai, meu avô/seu marido, meu pai/seu primogênito... “é, tô enterrando um filho, mas é a vontade de Deus”, disse ela, certamente com dor no coração, mas de alguma maneira conformada com a separação, porque inconscientemente sabe que é temporária.

Maria dos Anjos tem uma força que ultrapassa a lógica dessa vida que ela vive. Sua sabedoria é infinitamente maior do que o pequeno mundo (geograficamente falando) em que ela viveu até hoje. Nunca foi à escola, mas aprendeu a ler e a escrever riscando o chão com gravetos. Nunca leu livros de auto-ajuda, mas foi capaz de suportar sozinha vários reveses na sua vida. Não sabe nada de psicologia, mas sua terapia do amor curou muitos. Não conhece os segredos da medicina, mas com sua fé benzeu muitas crianças e lhes tirou o incômodo que sentiam. Não entende de negociação, mas não conheço melhor conciliadora.

Acho que o Milton e o Brandt se inspiraram nela pra compor a música que leva seu nome... eu a reconheço em cada verso da canção, e já cantei pra ela. Mulher de papéis multiplos, cumpriu todos com maestria. E ainda cumpre. Não sei por quanto tempo ainda, nem sei se ainda a verei nessa vida, pois atualmente há um oceano (literalmente) entre nós. Mas onde quer que nos encontremos, vou sempre reverenciá-la como o melhor exemplo de mulher que conheci nessa vida, de quem muito aprendi e a quem muito admiro.

Bis bald!



quarta-feira, 7 de maio de 2008

Gardenal


A minha ida a Genebra, na Páscoa, rendeu muitas fotos interessantes. Entre elas, a do “Restaurant sans alcool” (Restaurante sem álcool). Ele seria um lugar ideal pra eu ir na época do texto de hoje... Mas voltando, passamos por ele na ida pra cidade alta e na volta. Até estiquei meu pescoço pra ver como era lá dentro... e o comentário do Tim se confirmou: “Restaurante sem álcool e sem clientes!”

Gardenal

A primeira vez que ouvi falar esse nome, nem tinha noção do que era. Só sabia que teria que tomar um comprimido por dia, ao deitar. Após uma convulsão durante o sono, fui parar num pronto-socorro, e o plantonista disse que eu tinha que ir a um neurologista. Minha mãe me levou a um, que pediu eletroencefalograma (EEG) e raio X do crânio. Ao pegar os exames, ele só disse que o raio X da cabeça era normal, não esclareceu coisa alguma sobre o EEG, mandou tomar aquele remédio toda noite e disse pra minha mãe que me trouxesse de volta no mês seguinte – mas que voltasse antes caso acontecesse alguma coisa.

Não aconteceu nada nem antes nem no mês seguinte – tudo na mais perfeita ordem. Então minha mãe pensou que não era mais necessário voltar. Ela não tinha obrigação de saber... o médico é que deveria ter explicado que era imperativo voltar na consulta, porque o tratamento não era coisa de um mês.

Eu tinha 12 anos, e era aluna exemplar na escola, só tirava notas máximas, era muito atuante no esporte, jogava vôlei no time mirim... enfim, tinha uma vida absolutamente compatível com alguém da minha idade. Ou melhor, quase compatível... era muito tímida e nunca tinha algum paquera. Mas isso é assunto pra outro texto.

Aproximadamente dois anos se passaram... e aconteceu de novo: convulsão, agora mais intensa do que antes. Susto geral em casa, afinal meus pais pensaram que eu estava “curada” daquilo. Pois é, o tratamento iria começar de novo ali, mas agora com informações corretas sobre o que devia ser tratado.

O meu problema era disritmia cerebral. A melhor explicação a respeito me foi dada por uma médica com quem me tratei dos 14 aos 18 anos. Ela não só explicou a disritmia com a diferenciou da epilepsia: “Imagine que o cérebro é um conjunto de lâmpadas que precisam acender e apagar simultaneamente. A epilepsia é quando uma lâmpada queima – e não tem como trocar, portanto, quem tem isso vai ter que tomar remédio a vida inteira. A disritmia é quando elas acendem e apagam desordenadamente. O remédio atua na reordenação das ondas elétricas do cérebro, reduzindo essa falta de ritmo até um nível em que o medicamento não será mais necessário”.

O interessante é que depois que passei a tomar esse remédio, comecei a ouvir colegas da escola dizendo (não pra mim) que quem tomava Gardenal era doido. Eu é que não iria assumir que tomava aquele remédio de doido... eu me considerava normal! Depois de pouco tempo entendi o motivo: pessoas que NÃO PRECISAVAM do remédio e que queriam “ficar doidonas” tomavam Gardenal com birita em grande quantidade, pra “dar um barato”. Nunca foi o meu caso: eu sabia que não devia tomar nada alcoólico e nem passava perto.

Foram longos anos de tratamento até que o medicamento pudesse ser suspenso. E como eu não podia beber nada alcoólico, aprendi a me divertir sem isso. Nas baladas da faculdade, era comum gente que não me conhecia dizer que eu estava “alegrinha” demais, fazendo alusão à bebida. Mal sabiam eles que a alegria era pura e genuína, do tipo que não precisa do álcool pra se manifestar.

Ah, hoje em dia eu não dispenso um bom coquetel numa balada, uma taça de vinho a dois ou uma cerveja em um biergarten (afinal, estou na Alemanha!), embora eles não sejam imprenscindíveis para a minha diversão!

Alguns que me conhecem pouco vão ler esse texto e dizer “bem que eu sempre desconfiei que ela tinha algo de anormal”... Fiquem tranqüilos... eu sou normal. De longe, porque de perto ninguém é!

kkkk

terça-feira, 29 de abril de 2008

A banalização do “eu te amo”


Adoro escrever... e comecei nessa vida muito antes de pensar em cursar Jornalismo. Escrevia cartas, ia ao correio postar e ficar contando os dias para chegar a resposta... e sempre recebia! Hoje em dia eu só mando... ninguém mais me responde. Porém isso não me abate: continuo escrevendo.
Esse envelope é de uma carta recebida de Israel em 1989, no meu primeiro ano em Campinas. A remetente, uma pessoa muito especial... muitas cartas nossas cruzaram o oceano nessa época. O interessante é que atualmente as cartas entre nós continuam cruzando o oceano (eu aqui, ela no Brasil), apesar de em mão única.
PS: o selo eu tirava e dava pra um amigo colecionador...


A banalização do “eu te amo”

Há um tempo, no início da popularização da internet, recebi diversas vezes emails com conteúdo do tipo “não deixe pra amanhã o que você pode fazer hoje”, “diga 'eu te amo' antes que seja tarde demais”, “o dia especial da sua vida é hoje”, entre outros que, na época, me serviram de base para um texto que escrevi pro jornal da empresa – e que já publiquei aqui.

Depois dessa onda toda, eu passei a me expressar mais, disse diversas vezes a meu pai que o amava, assim como para minha mãe... coisa que nunca tinha feito antes. Não que não houvesse amor, mas simplesmente não era parte da minha criação expressar dessa forma. Falei e falo também para algumas poucas amigas, que são mais do que irmãs... enfim, acho que me melhorei um pouco nessa mudança de postura.

De lá pra cá, com a massificação da internet, cada vez mais o privado está presente na esfera pública. No orkut, que eu chamo de “o paraíso da devassidão”, virou moda declarar amor. O que se vê é “eu te amo” escrito das formas mais diferentes e explícitas possíveis, em recados, depoimentos e afins. É tanto “te amo” que os amigos ficam disputando o “topo” na lista de depoimentos, como se isso significasse ser mais ou menos amado. Quanta besteira...

Eu sinceramente questiono a essência desse tipo de “eu te amo”. Acho que essa gente toda tá confundindo o nome dos sentimentos... ou querendo supervalorizar... ou até mesmo escrevendo no mundo virtual o que não teria coragem de dizer olho-no-olho. Ou então quer só aparecer. Santa incoerência... pode ser que se diga tímido pra dizer cara a cara, mas coloca no orkut, atualmente o mais popular site de relacionamentos no Brasil.

Dizer que ama alguém, quando o sentimento é genuíno, é algo que vem tão das entranhas, que muitas vezes demora a sair, a ser verbalizado. E quando sai, pode ser numa fala meio embargada... com a voz sumindo... algo dito no fim da conversa, que a gente diz e “sai correndo”. Correndo pra um abraço ou beijo, pra dizer tchau na conversa ao telefone, pra acalmar alguém que tá triste ou com problemas, dar colo... mas é normalmente algo que se diz no fim de um papo. Porque o “eu te amo” verdadeiro dispensa palavras depois.

Apesar de eu estar “alyways connected” – estou no orkut, uso MSN, skype e outros – a minha forma de expressar o meu amor não é necessariamente dizendo “eu te amo” para todos os lados... eu amo muitas pessoas, e cada uma delas sabe do meu apreço. E exatamente por saberem é que não preciso ficar “disputando topo” na lista de depoimentos, por exemplo. Isso não signfica que eu nunca diga a elas que as amo, mas quando o faço, tento buscar uma forma diferente da coisa massificada que se vê por aí. Por exemplo, adoro escrever cartas ou postais de próprio punho, ir ao correio, comprar selo... é tudo tão mais humano, e não passível da tecla “delete”. Não é o máximo?

Escrevam pra mim! Amo receber postais!