Massa de modelar é muito legal. Com ela a gente pode inventar mil coisas, ainda mais quando se tem uns acessórios pra fazer formas diferentes. Certa vez a minha criatividade estava em “alta”, e modelei as bandeiras do Brasil e da Alemanha. Em seguida modelei um prato de espagueti com tomate cereja e basílico fresco. Fica a pergunta... eu estava mesmo “criativa” ou estava com fome? Mas que ficou uma gracinha, ah ficou... massas... salve a cozinha italiana!
Dona Nenê, a Bárbara
Ela vinha ao seu terraço e gritava “Clélia, hoje tem macarrão com molho!”. Era a senha para eu subir. Morávamos no Belenzinho, numa casa térra de fundos (a frente era o local de trabalho do meu pai, que vendia pertences de feijoada para restaurantes no centro de São Paulo). E lá do fundo, tínhamos como vizinha a Dona Nenê, que morava na parte assobradada da casa. Ela era viúva, e morava com seu filho Nelson. Tinha um carinho danado por nós e sabia que eu adorava “macarrão com molho” (ela era filha de italianos, creio eu).
Eu subia, tomava banho lá na casa dela e jantava... ah, que delícia aquele macarrão com molho e queijo ralado... rigatone, fusili, espagueti, farfale – nomes que eu nem desconfiava que existiam, pra mim era tudo macarrão. Não fazia a menor diferença o tipo da massa, era sempre muito bom. Mas ela era muito ciosa comigo: me colocava um enorme guardanapo para eu não sujar a roupa com o molho, e fiscalizava meus movimentos, repreendendo quando eu fazia algo “feio”, como falar de boca cheia, por exemplo. Certa ela, eu estava aprendendo, tinhas uns 4 anos.
Nós mudamos do Belenzinho para a Penha, onde ficamos dois anos. Depois para uma chácara no Bonsucesso, em Guarulhos. Lá a Dona Nenê e o Nelson iam quase todo sábado, porque gostavam do contato com a terra, com o nosso pomar. Lembro que uma vez colhi um galho enorme, lindo, com mais de uma dúzia de laranjas-lima, e dei pra ela levar. Ela ficou muito feliz, e disse que ia ter dó de chupar as laranjas, porque como arranjo de mesa era mais bonito! Deu um trabalho danado pra apanhar, porque era um galho de ponta e eu, mesmo criança, já era pesadinha... mas eu consegui. Só que nunca mais vi nascer outro igual!
Dona Nenê era bárbara: uma pessoa amorosa e sempre disposta a dar carinho, amparo. Broncas também, se achasse necessário. Era como uma mãe pra minha mãe. E uma avó pra mim. Só que a gente cresce, vai assumindo novos papéis e responsabilidades... e eu quase não via mais Dona Nenê. Foi em Campinas, quando estava na universidade, que recebi a triste notícia da sua partida. Mas serviu de consolo saber que ela sofreu muito nos últimos tempos, portanto a partida lhe foi um alívio.
Só depois de muitos anos de convivência é que fui saber seu nome de batismo: Bárbara. Pessoas assim marcam a nossa história e vivem sempre no coração da gente, onde quer que estejam.
* Aviso aos navegantes: “Clélia” sou eu mesma. É meu segundo nome, e na esfera familiar só me chamam assim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário