segunda-feira, 16 de junho de 2008

Quando as palavras são desnecessárias


O texto de hoje não tem introdução, pois há ocasiões em que as palavras são dispensáveis... mas a ilustração é bem colorida, porque a vida é mais feliz quando tem muitas cores. A artista? Minha filha Luísa.

Quando as palavras são desnecessárias

Um encontro... olhares se cruzam... afinidades afloram... sentimentos nascem e crescem... e foram se conhecendo tão intensa e profundamente, que para saber como o outro estava, não era mais preciso perguntar: bastava olhar nos olhos. E se não estivessem por perto, seria suficiente dois minutos de conversa pra sentir na respiração ou no tom de voz. Havia total transparência ali entre eles, ninguém escondia nada um do outro. Até porque com aquela sintonia, nem era possível.

Distância... eles nem sempre podiam estar fisicamente perto. Havia outras variáveis nessa história, mas nada que pudesse abalar verdadeiramente aquele sentimento que os unia. Apesar de um oceano estar no meio deles, não havia no mundo dois seres que estivessem mais próximos um do outro. Pelo menos, era o que eles sentiam, era o que parecia ser.

Relacionamento... ele aprendeu tanta coisa legal com ela, cresceu como pessoa, conheceu diferentes formas de encarar a vida, família, trabalho... ao lado dele ela pôde constatar que suas utopias sobre convivência com homens eram plenamente realizáveis, ao lado dele ela teve a coisa mais importante que uma mulher precisa de um relacionamento: sentir-se amada.

Experiência... porém chegou um dia em que ele sentiu-se pressionado de alguma forma (não por ela), por circunstâncias ou coisa parecida e, por falta de maturidade, fez a escolha mais fácil: decidiu terminar aquela história, uma decisão unilateral, por telefone, sem dar chance ao diálogo, ao olho no olho.

Dor... é claro que ela sofreu, mas pouco depois escolheu não mais chorar nem sofrer, afinal, uma história tão linda como aquela só poderia deixar lembranças bonitas. Só que a dor fez com que ela se tornasse mais exigente consigo mesma e com os homens com quem viesse a se relacionar. E a vida seguiu adiante, mas ela sempre sentiu falta de olhar nos olhos dele uma última vez, pra poder ter certeza do que a voz entregava: de que aquela decisão de terminar não havia vindo do coração.

Tempo... senhor soberano, cura todas as dores. Na verdade, não é de fato uma cura, mas ele faz com que as pessoas se acostumem com suas novas realidades. E elas passam a doer menos. Ela nunca mais ouviu falar dele, só sabia que ele já tinha outra pessoa. Que fosse feliz assim, desejava ela sinceramente, sem mágoas ou ressentimentos.

Acaso... eis que um dia, nesse mundo virtual, alguém que o conhecia a encontrou, fez contato e contou algo que abalou o coração dessa mulher: ele havia ficado viúvo. Um sentimento estranho a perturbou por alguns dias, e ela não entendia porque, afinal, tinha certeza de que não o amava mais, de que ele tinha se tornado apenas “uma história bonita” na vida dela, que pertencia ao passado. Mesmo assim, decidiu procurá-lo, a fim de conversar olho no olho e fechar aquela porta que havia ficado entreaberta.

Reencontro... demorou mas aconteceu. Depois de tantos anos, era muito estranho rever alguém que havia sido tão importante. Ela simplesmente não sabia o que esperar, como ele reagiria, o que conversariam. Mas quando se viram, havia um brilho tão radiante no rosto de ambos, mas que porém era muito mais evidente, realmente indisfarçável, no sorriso dele.

Palavras... conversaram horas sobre o que se passou com cada um. Ela se preparou para esse encontro de forma a não querer falar do passado, ainda que fosse de coisas bonitas e alegres que ambos viveram. E realmente não fez isso, mas ele a todo instante evocava algo que haviam vivido. Enquanto ela contava de seu processo de autoconhecimento, de como isso estava lhe fazendo bem, ele dizia apenas “eu sei”, como a confirmar que a conhecia muito bem. “A essência não muda”, disse ela, e ele disse “estou percebendo”.

Não falaram nada sobre o fim do relacionamento. E acho que ela conseguiu o que queria: teve certeza do que a voz dele entregou naquele fatídico telefonema. E o sentimento que ficou no ar, depois de muita conversa sobre amenidades, é de que na verdade aquela história nunca acabou, pois parecia que tinham se encontrado no dia anterior (e não há quatro anos e meio), tamanha era a sintonia.

Se encontraram mais uma vez... e não houve como adiar mais o encontro dos lábios. Era claro como a luz do dia que apenas lábios e olhos estiveram longe uns dos outros durante aquele tempo todo. Só sei que naquele reencontro, olho no olho, as palavras foram absolutamente desnecessárias para falar sobre coisas do coração.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Bicicleta ao mar!


Eis o cenário da história de hoje... na verdade, essa foto foi tirada do alto do morro onde se localiza o Trampolim, logo, ele não aparece. Mas a beleza da praia compensa. A foto é do álbum da minha irmã, mas eu não sei exatamente quem a fez.

Bicicleta ao mar!

Havia pouco tempo que meu pai tinha comprado uma casa na praia, em Barequeçaba, São Sebastião. Tudo era novidade... finais de semana, feriados prolongados, íamos sempre pra lá. A praia é uma delícia... típica para família com crianças e pra quem não gosta de tomar caldo: é quase uma piscina, sem ondas fortes. Isso provavelmente se dá em função da sua localização, meio de frente pra Ilhabela, meio pro mar aberto. É uma pequena enseada, delimitada por dois morros, na entrada sul do canal de São Sebastião.

Estávamos descobrindo o local, quando ficamos sabendo do Trampolim. “Ah, é ali atrás do morro menor”, disse um. “Mas como é lá, o que tem de legal?”, disparamos em tom de curiosidade desbravadora. “É um lugar onde a gente pula das pedras na água, de cabeça, se tiver coragem... e tem várias alturas!”. Ficamos pensando no perigo que seria tal lugar, pular e bater a cabeça em pedras... mas tanta gente falava que era o máximo, que não havia perigo, que só nos restava uma opção: subir o morro por um lado e descer pelo outro, e explorar o Trampolim.

A idéia de pular de cabeça na água me era fascinante e ao mesmo tempo assustadora. A descida até o Trampolim é bem íngreme, se a gente não se cuida direito, pode escorregar e descer “de bunda”. Chegando lá, vimos que era mais legal do que contaram... tinha até escadinha de corais pra subir e pular de novo, e não tinha pedras que ofereciam risco sob as águas, porque ali é um paredão de rocha. Mas e a coragem pra pular, mesmo que do “zerinho”, o nível mais baixo? Sobre o nível mais alto, há controvérsias... uns dizem que é o 5, outros dizem que existe até o oito.

Mas voltando... depois de alguns momentos de “vai-não-vai”, pulei, do nível um. Delícia... subi, pulei mais algumas vezes... e com o tempo, fui ousando mais, mergulhando de cabeça, embora nunca tenha passado do nível três – ali já era adrenalina suficiente.

Meu pai ficou sabendo do Trampolim, que era muito perigoso e coisa e tal, e proibiu meu irmão, na época com 9 anos, de ir lá. Meu irmão saía pelo bairro, às vezes a pé, às vezes de bicicleta, fazendo amigos e, claro, ignorando a determinação paterna, ia no "local proibido" com os colegas. Foi num feriado prolongado que demos falta da bicicleta dele. Perguntamos “cadê sua bicicleta?”, e ele disse que tinha deixado “ali”, que ela talvez tivesse sido roubada. Disse isso sem muita convicção, mas como quem desejava ardentemente que o assunto fosse esquecido. E até foi... ninguém perguntou mais sobre a magrela.

No dia seguinte, quando caminhávamos até a praia, um dos coleguinhas dele o viu e gritou “e aí, conseguiram pescar sua bicicleta? Acho difícil, porque ali é fundo”. Daí entendemos o que tinha acontecido: a bicicleta tinha ido ao mar. Numa escorregada na descida íngreme até o Trampolim, ele perdeu o equilíbrio e soltou a bike, que despencou lá de cima pro fundo das águas azuis do canal de São Sebastião.

Depois desse episódio, meu irmão continuou indo lá, e ousava cada vez mais, pulando dos níveis mais altos. No orkut tem uma comunidade sobre o Trampolim de Barequecaba, com histórias contadas por seus protagonistas no fórum. Lá ele conta que num dos saltos, lascou um dente com o impacto na água. Eu tive perfuração de tímpano uma vez. Pra quem quiser, eis o link:
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=8099614

Que idéia de doido descer até lá levando a bicicleta... mas pelo menos ele desceu desmontado! Antes a bike do que ele!