sábado, 19 de abril de 2008

Atropelei um carro!


Quem viveu em Trombetas vai ter história de lá pra lembrar a vida inteira... ainda mais se ama fotografia e não saía de casa sem sua câmera, como eu! Essa aí é de um dia em que voluntários se reuniram pra plantar árvores na antiga área industrial, que abriga escritórios de diversas empresas contratadas. Era um sábado, eu acho, e todas as pessoas que compareceram deram sua dose de contribuição. Até mesmo minha pequena, aí na foto de regata preta e bermuda rosa, fez uma força danada pra segurar a pesada pá e jogar terra no buraco. É, minha filha já plantou uma árvore!

Atropelei um carro!

Segunda-feira, 7 de janeiro de 1991: meu dia começou cedo. Eu trabalhava como temporária na Ford Indústria e Comércio, em Cumbica, Guarulhos, no setor de Exportação. E naquela segunda-feira eu tinha prova de vestibular: era a segunda fase da Fuvest que eu estava prestando pra Letras/Alemão. Meu plano era transferir meu curso de Jornalismo da PUC-Campinas para a PUC-São Paulo e, passando na USP, levar os dois cursos ao mesmo tempo. Mas não era pra ser assim...

Pois bem, pra poder sair do trabalho a fim de fazer o vestibular, eu tive que chegar bem cedo e passar o serviço pro pessoal que estava voltando do recesso de fim de ano. Cheguei às 5 da manhã, adiantei meu servico, passei as rotinas pros colegas e saí às 11 horas. Fui de carro, porque meu vestibular seria no Brás, bairro próximo ao centro de São Paulo – de transporte coletivo seria inviável.

Chegar ao Brás não foi problema. Nem encontrar o endereço do local da prova. Complicado foi achar um caminho que desse mão pra chegar na escola... perdi uns preciosos 15 minutos nisso, até que desisti e fiz uma manobra politicamente incorreta: entrei de ré na tal rua. Estacionei o carro bem em frente ao portão de entrada e atravessei (uma rua tranqüila, normalmente pouco movimentada) pra comer algo e comprar água para levar pra prova. Ainda havia uns 10 minutos antes de o portão ser fechado.

Eis que de repente vejo alguém no portão já o fechando! Agarrei meu lanche, deixei o dinheiro no balcão, gritei “depois eu pego o troco!” e atravessei a rua correndo. Mas havia um carro no meio do caminho, no meio do caminho havia um carro... crash! Atropelei o coitadinho!

Foi tudo muito rápido, mas eu não perdi a consciência, graças a Deus. Me vi caída no chão, com a perna visivelmente “torta” pouco acima do joelho, ou seja, quebrada mesmo, mas sem ferimento exposto ou sangue. E quase que na mesma fração de segundo, uma multidão ao meu redor, querendo ajudar.

Queriam me carregar feito saco de batata... ai meu Deus! Eu gritei “não, me deixa aqui”. Se me pegassem de qualquer jeito, eu poderia ter problemas, tipo atingir a artéria femural, expor a fratura... é, eu já tinha alguma noção de primeiros socorros. Mas como Deus está sempre presente, passava por ali naquele momento um bombeiro que, mesmo de folga, jamais abandona seu ofício de ajudar. Ele pegou uma tábua ali por perto, a fim de apoiar e imobilizar minha perna, evitando movimentos bruscos a ela. Logo chegou uma viatura da Polícia Militar, que me levou para o Hospital Municipal do Tatuapé. O calvário estava apenas começando...

Lá fiquei por mais de duas horas gemendo de dor largada sobre um leito... me diziam que não havia maca com rodinhas pra me levar pro raio X. Foi só minha mãe chegar e dar uns gritos que encontraram rapidinho uma... raio X, tração na perna e transferência para o Hospital Bandeirante, na Liberdade. Nessa “longa” viagem (do Tatuapé até a Liberdade) é que senti literalmente na pele como as ruas de São Paulo são esburacadas... ai que dor!

A história é longa... mas vou encurtá-la aqui: foram duas cirurgias, uma placa com nove parafusos (que ainda carrego comigo: sou uma mulher platinada!) e quase dois anos para me recuperar completamente. Meu maior medo era não poder mais jogar vôlei... mas graças a Deus joguei muito depois disso. E ainda vou jogar mais, mesmo com um centímetro a menos na perna esquerda.

Do ponto de vista emocional, muitas dores nesse período. Um dia conto mais...

Tschüß!

PS: escrevendo esse texto é que me dei conta de que nunca peguei o troco na lanchonete... era uma grana razoável na época, algo como dar R$ 50,00 para cobrar um misto quente e um refrigerante nos dias de hoje.

Nenhum comentário: