terça-feira, 29 de abril de 2008

A banalização do “eu te amo”


Adoro escrever... e comecei nessa vida muito antes de pensar em cursar Jornalismo. Escrevia cartas, ia ao correio postar e ficar contando os dias para chegar a resposta... e sempre recebia! Hoje em dia eu só mando... ninguém mais me responde. Porém isso não me abate: continuo escrevendo.
Esse envelope é de uma carta recebida de Israel em 1989, no meu primeiro ano em Campinas. A remetente, uma pessoa muito especial... muitas cartas nossas cruzaram o oceano nessa época. O interessante é que atualmente as cartas entre nós continuam cruzando o oceano (eu aqui, ela no Brasil), apesar de em mão única.
PS: o selo eu tirava e dava pra um amigo colecionador...


A banalização do “eu te amo”

Há um tempo, no início da popularização da internet, recebi diversas vezes emails com conteúdo do tipo “não deixe pra amanhã o que você pode fazer hoje”, “diga 'eu te amo' antes que seja tarde demais”, “o dia especial da sua vida é hoje”, entre outros que, na época, me serviram de base para um texto que escrevi pro jornal da empresa – e que já publiquei aqui.

Depois dessa onda toda, eu passei a me expressar mais, disse diversas vezes a meu pai que o amava, assim como para minha mãe... coisa que nunca tinha feito antes. Não que não houvesse amor, mas simplesmente não era parte da minha criação expressar dessa forma. Falei e falo também para algumas poucas amigas, que são mais do que irmãs... enfim, acho que me melhorei um pouco nessa mudança de postura.

De lá pra cá, com a massificação da internet, cada vez mais o privado está presente na esfera pública. No orkut, que eu chamo de “o paraíso da devassidão”, virou moda declarar amor. O que se vê é “eu te amo” escrito das formas mais diferentes e explícitas possíveis, em recados, depoimentos e afins. É tanto “te amo” que os amigos ficam disputando o “topo” na lista de depoimentos, como se isso significasse ser mais ou menos amado. Quanta besteira...

Eu sinceramente questiono a essência desse tipo de “eu te amo”. Acho que essa gente toda tá confundindo o nome dos sentimentos... ou querendo supervalorizar... ou até mesmo escrevendo no mundo virtual o que não teria coragem de dizer olho-no-olho. Ou então quer só aparecer. Santa incoerência... pode ser que se diga tímido pra dizer cara a cara, mas coloca no orkut, atualmente o mais popular site de relacionamentos no Brasil.

Dizer que ama alguém, quando o sentimento é genuíno, é algo que vem tão das entranhas, que muitas vezes demora a sair, a ser verbalizado. E quando sai, pode ser numa fala meio embargada... com a voz sumindo... algo dito no fim da conversa, que a gente diz e “sai correndo”. Correndo pra um abraço ou beijo, pra dizer tchau na conversa ao telefone, pra acalmar alguém que tá triste ou com problemas, dar colo... mas é normalmente algo que se diz no fim de um papo. Porque o “eu te amo” verdadeiro dispensa palavras depois.

Apesar de eu estar “alyways connected” – estou no orkut, uso MSN, skype e outros – a minha forma de expressar o meu amor não é necessariamente dizendo “eu te amo” para todos os lados... eu amo muitas pessoas, e cada uma delas sabe do meu apreço. E exatamente por saberem é que não preciso ficar “disputando topo” na lista de depoimentos, por exemplo. Isso não signfica que eu nunca diga a elas que as amo, mas quando o faço, tento buscar uma forma diferente da coisa massificada que se vê por aí. Por exemplo, adoro escrever cartas ou postais de próprio punho, ir ao correio, comprar selo... é tudo tão mais humano, e não passível da tecla “delete”. Não é o máximo?

Escrevam pra mim! Amo receber postais!

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Indignação


Eu falei que o tucano estava comendo de boca, ops, bico aberto, que a gente até via o mamão lá no meio... mas na outra foto não dá pra ver direito. Fiz um recorte e ampliei... desculpe a repetição, mas eu adoro essa imagem, tenho o maior orgulho de tê-la feito. Aliás, o assunto de hoje também é repetição...

Indignação

“As coisas não precisam de você
quem disse que eu tinha que precisar?”
(Virgem, Marina Lima)

Minha xará mandou muito bem nessa música... “Quem disse que eu tinha que precisar?” Achei que minha história de vida já diria algo de forma clara que sou uma pessoa que se vira sozinha, com excelente formação acadêmica, profissionalmente ativa e independente financeiramente. Não fui criada pra ser apenas mulher de “cama-e-mesa”, embora tenha total capacidade de exercer TAMBÉM esse papel.

Pois é, o texto “Sentimento entra na DRE?” não foi suficiente pra extravasar toda a minha indignação com a espécie masculina. Não quero aqui generalizar... mas tá difícil encontrar alguém em quem valha a pena investir, alguém que se digne a ir além das aparências, que ouse querer conhecer mais do que os olhos podem ver e que se comunique clara e abertamente sobre isso.

Uma amiga deu uma de “advogada do diabo” e me disse “ah, mas tem a comunicação do corpo, dos gestos... ele fez essa leitura em você e concluiu as coisas”. Pois é, não vou aqui negar a existência dessa comunicação não-verbal, até porque já falei sobre ela anteriormente. O problema é que ela é invariavelmente unilateral e definitivamente não serve como parâmetro para pessoas que praticamente não se conhecem, se o objetivo for algo além de apenas uma “noche caliente”. Nesse caso, a comunicação sem palavras se torna uma fonte inesgotável de mal-entendidos. Aí já viu, né...

O tipo de coisa que esse cidadão fez mexe profundamente com meu orgulho, e não tem nada que me doa mais do que isso. Pode me trair, me deixar na beira do altar, até me agredir fisicamente (coitado daquele que um dia ousar isso!), que não me dói tanto quanto me atingir naquilo que mais prezo: meu caráter.

Mas eu só tenho que agradecer... ele se mostrou bem rápido. “Meno male” ferir apenas o meu orgulho agora, que eu curo rapidinho escrevendo aqui, do que me fazer perder tempo com alguém que não merece minha atenção. Gente assim merece viver sozinha. Mas ele não precisa se preocupar... vida de velho solitário aqui na Alemanha é top de linha: tá cheio de asilos cinco estrelas por aí. Barato não é, claro, mas os aposentados aqui ganham relativamente bem.

Pensando bem... ele tá certo em evitar mulheres “caras” agora... tem que economizar pra pagar a casa de idosos logo, logo... afinal, já está nos “enta e tantos”. É, o tempo é carrasco, e quem não morre cedo, envelhece!

kkkkkkkk

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Vôlei


Mexendo nas poucas fotos que tenho aqui comigo, encontrei algumas interessantes... já digitalizei várias. E hoje vai aqui uma de... vôlei! É, o vôlei me rendeu muitas histórias na vida. Essa foto é de 2000, ao final de um torneio-relâmpago entre Trombetas e Oriximiná. E espero que ainda renda muitas outras... quero virar “vovó” na quadra. Que fique claro que não sou nenhuma super jogadora, mas quando entro na quadra não é pra brincar, e sim jogar direito, mesmo que só por lazer. Não gosto de jogar onde o povo nem sabe dar manchete. Pena que aqui na Alemanha não tenho onde praticar... na verdade, não procurei direito ainda, porque certamente tem!

Vôlei

Eu estava na quinta série, e a educação física era fora do horário da aula. Morávamos bem longe da escola, e eu tinha que me levantar às 5h30 da madrugada, pegar dois ônibus lotados e ainda andar alguns quarteirões pra chegar lá às 7 horas – e eu não perdia uma! Só que terminava às 8h30, logo tinha tempo de sobra pra ir pra casa, tomar banho, almoçar e voltar antes da uma da tarde, horário de início das aulas.

Minhas irmãs também tinham que ir, mas em dias e horários diferentes. E o horário da educação física delas era mais tarde, então justificava que elas viessem pra escola e ficassem direto, almoçando por ali mesmo. Elas começaram a jogar vôlei, e logo foram chamadas pro time da escola. Ah... eu também queria! Mas como eu tinha que voltar pra casa, praticamente não tinha chance de treinar e jogar, de “aparecer” para os professores.

Eventualmente havia trabalho em grupo pra fazer, e combinávamos de encontrar na escola, mais cedo. Nesses casos, eu ficava direto: tomava um banho de gato no vestiário e comia na cantina. Foi aí que eu percebi qual era o caminho pra poder ficar mais vezes, e me “misturar” no treino dos times mirim e infantil: “mãe, tem trabalho em grupo pra fazer”... hehehe... É, nem sempre era um trabalho acadêmico de fato, mas que era sempre trabalho em grupo, isso era!

No ano seguinte, nos mudamos para mais perto da escola – ou seja, menos justificativa ainda para ficar direto, e o argumento de “tem trabalho de grupo” já não colava tanto como antes. Terminada minha aula de educação física eu ficava por ali, treinando os fundamentos sozinha no paredão. De tanto me meter a besta de ficar completando time no treino, fui chamada pra seleção mirim da escola. Depois disso eu passei a ter um motivo oficial pra ficar direto: não precisei mais inventar trabalho pra fazer.

Da sexta até a oitava série eu fiz parte do time do Brotero. Me dediquei muito ao vôlei... foi a época da “geração de prata”, quando o esporte ganhou notoriedade no Brasil graças à medalha de prata conquistada pela seleção masculina nas Olimpíadas de Los Angeles. Durante esses três anos participamos de muitos campeonatos, sobretudo as Olimpíadas Colegiais Guarulhenses. Mas nunca chegamos muito longe. Nosso maior rival era o Conselheiro Crispiniano, era quem normalmente nos tirava no mata-mata, em quartas-de-final ou semi.

Mas houve um campeonato em que as derrotamos... era a semi-final dos Jogos Escolares do Estado de São Paulo (JEESP), mas eu acho que só tinha escola de Guarulhos no torneio. Foi uma delícia ganhar delas... sentimento melhor só o meu Timão ganhando do porco de virada e goleada. Porém perdemos na final, ficando com a prata. Da fase escolar, essa é a minha única medalha do esporte que mais me dediquei.

É, jogue a primeira pedra quem nunca contou uma mentirinha qualquer pra própria mãe... sobretudo com propósitos nobres como eu!

terça-feira, 22 de abril de 2008

Sentimento entra na DRE?


Tenho muitas fotos de bicho, sobretudo do tempo que vivi na Amazônia. Minha câmera era minha fiel companheira de passeios e mesmo em casa, estava sempre pronta pra ação. Um dia flagrei um tucano comendo mamão no quintal do vizinho, nos fundos da minha casa. Fiz uma série de fotos do bicudo, porém a mais legal é essa. Acho que a mãe dele não o ensinou a comer de boca fechada... o cara tá comendo e a gente consegue ver a comida na boca, ou melhor, no bico dele...

Sentimento entra na DRE?

A mente dos homens é algo pra ser indefinidamente investigada... é impossível saber o que se passa na cabeça deles. Se você não dá logo de cara, tá fazendo doce; se dá, não é o tipo pra apresentar pra família... esse dilema não é novo.

O que me move a escrever hoje também não é novo, mas é algo que me incomoda severamente: associar relacionamento com dinheiro. A mentalidade do homem aqui na Alemanha é materialista demais pra mim... claro que deve haver exceções, mas eu ainda não encontrei. Aí entra outro dilema: se você se mostra independente, forte e decidida, os homens se assustam e se afastam, porque não suportam “concorrência”; se você se mostra frágil, mulher que deseja ser protegida, pensam que você quer só vida boa, ser sustentada e gastar a grana deles. E caem fora também.

É, sempre em pauta o vil metal... sentimento vira algo pra segundo ou terceiro plano. Aí eu pergunto: com a “contabilização” dos sentimentos, onde eles entram na Demonstração de Resultados do Exercício? Ativo ou passivo? Com amortizações ou depreciações? São vistos como lucro ou perda? Geram dividendos? Amor, por exemplo, pode ser enquadrado como investimento a longo prazo ou a fundo perdido? O respeito, entra em direitos ou obrigações? Os estoques de compreensão, são lançados onde? Ter uma postura sempre transparente é fato relevante? Harmonia pode ser tida como lucros acumulados? Lealdade é visto apenas como capital de terceiros? Uma não-conformidade sentimental é tratada de que forma numa auditoria contábil? É passível de auditoria por terceiros, tipo Ernst & Young ou PriceWaterhouse Coopers?

Tô escrevendo e rindo... porque nada disso faz sentido. Mas infelizmente a mentalidade de muitos por aqui é essa. Não existe aquela coisa de “vamos ficar juntos” assim, sem a fria análise materialista. E pouco interessa se você tem sua profissão, trabalha etc. Não há sequer diálogo, a outra parte fica matutando sozinha com as impressões superficiais que colheu e “conclui tudo”: você pode ser uma mulher “cara”, porque quer estudar, porque tem filho, porque comprou patins de € 20 no Ebay, porque tem uma bolsa Prada (de R$ 10,00)... nenhum argumento faz sentido, mas é a conclusão do materialista com quem você ESTAVA flertando. Estava, porque depois dessa, nem que venha a mim de joelhos... com essa cabecinha “zu kleiner”, tô fora. Eu não preciso de um homem pra pagar as minhas contas. Sou “macho” o suficiente pra cumprir minhas responsabilidades.

Na minha cabeça, sentimento não entra na DRE...

* “zu kleiner” é uma corruptela gramatical; o correto seria "zu klein". Em alemão, klein é o adjetivo que significa "pequeno". O sufixo "er" indica o comparativo de superioridade, ou seja, "kleiner" é algo como "mais pequeno". O "zu" é um advérbio de intensidade, com conotação sempre negativa, que signfica "demais". Portanto, dizer "zu kleiner" é exacerbar todas as noções de mesquinharia que se possa imaginar...

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Dona Nenê, a Bárbara


Massa de modelar é muito legal. Com ela a gente pode inventar mil coisas, ainda mais quando se tem uns acessórios pra fazer formas diferentes. Certa vez a minha criatividade estava em “alta”, e modelei as bandeiras do Brasil e da Alemanha. Em seguida modelei um prato de espagueti com tomate cereja e basílico fresco. Fica a pergunta... eu estava mesmo “criativa” ou estava com fome? Mas que ficou uma gracinha, ah ficou... massas... salve a cozinha italiana!

Dona Nenê, a Bárbara

Ela vinha ao seu terraço e gritava “Clélia, hoje tem macarrão com molho!”. Era a senha para eu subir. Morávamos no Belenzinho, numa casa térra de fundos (a frente era o local de trabalho do meu pai, que vendia pertences de feijoada para restaurantes no centro de São Paulo). E lá do fundo, tínhamos como vizinha a Dona Nenê, que morava na parte assobradada da casa. Ela era viúva, e morava com seu filho Nelson. Tinha um carinho danado por nós e sabia que eu adorava “macarrão com molho” (ela era filha de italianos, creio eu).

Eu subia, tomava banho lá na casa dela e jantava... ah, que delícia aquele macarrão com molho e queijo ralado... rigatone, fusili, espagueti, farfale – nomes que eu nem desconfiava que existiam, pra mim era tudo macarrão. Não fazia a menor diferença o tipo da massa, era sempre muito bom. Mas ela era muito ciosa comigo: me colocava um enorme guardanapo para eu não sujar a roupa com o molho, e fiscalizava meus movimentos, repreendendo quando eu fazia algo “feio”, como falar de boca cheia, por exemplo. Certa ela, eu estava aprendendo, tinhas uns 4 anos.

Nós mudamos do Belenzinho para a Penha, onde ficamos dois anos. Depois para uma chácara no Bonsucesso, em Guarulhos. Lá a Dona Nenê e o Nelson iam quase todo sábado, porque gostavam do contato com a terra, com o nosso pomar. Lembro que uma vez colhi um galho enorme, lindo, com mais de uma dúzia de laranjas-lima, e dei pra ela levar. Ela ficou muito feliz, e disse que ia ter dó de chupar as laranjas, porque como arranjo de mesa era mais bonito! Deu um trabalho danado pra apanhar, porque era um galho de ponta e eu, mesmo criança, já era pesadinha... mas eu consegui. Só que nunca mais vi nascer outro igual!

Dona Nenê era bárbara: uma pessoa amorosa e sempre disposta a dar carinho, amparo. Broncas também, se achasse necessário. Era como uma mãe pra minha mãe. E uma avó pra mim. Só que a gente cresce, vai assumindo novos papéis e responsabilidades... e eu quase não via mais Dona Nenê. Foi em Campinas, quando estava na universidade, que recebi a triste notícia da sua partida. Mas serviu de consolo saber que ela sofreu muito nos últimos tempos, portanto a partida lhe foi um alívio.

Só depois de muitos anos de convivência é que fui saber seu nome de batismo: Bárbara. Pessoas assim marcam a nossa história e vivem sempre no coração da gente, onde quer que estejam.

* Aviso aos navegantes: “Clélia” sou eu mesma. É meu segundo nome, e na esfera familiar só me chamam assim.

domingo, 20 de abril de 2008

Viajando de carona


"Minha vida é andar por esse país,
pra ver se um dia descanso feliz,
guardando as recordações, das terras onde passei,
andando pelos sertões e dos amigos que lá deixei"
(Vida de Viajante – Luiz Gonzaga)

Olha eu aí, pedindo carona pra ir até Gravatá e Caruaru, em Pernambuco. É, mas dessa vez foi só pose pra foto... foi em julho de 2007, quando eu estava com amigos em Recife e fomos passear por lá. Gravatá fica a cerca de 75 km da capital pernambucana e 540m acima do nível do mar. Tem um clima bem agradável, com temperatura média de 22 graus, considerado pela Organização Mundial de Saúde como um dos cinco melhores climas para a saúde (fonte: Wikipédia). Não é a toa que o turismo e o setor imobiliário crescem bastante por lá: Gravatá tem o metro quadrado mais caro de Pernambuco e nos finais de semana em que ocorrem eventos, a população da cidade, de aproximadamente 70 mil habitantes, praticamente dobra.


Viajando de carona

Carona aqui na Alemanha é uma coisa normal e bem organizada... mas não gratuita. A gente entra no site, vê quem tá oferecendo carona pro destino que se quer, entra em contato por email ou telefone e combina. O preco é bem amigo, normalmente bem menos da metade do valor da passagem do trem. No Brasil não é assim... seria muito arriscado tanto pra quem oferece quando pra quem pega a carona.

Eu já fui chamada de doida várias vezes por diversos motivos. Mas uma vez ouvi de uma conhecida o seguinte: “levar fama sem proveito não tem graça!” Aí passou a fazer sentido, porque eu realmente fiz umas coisas muito na confiança mesmo. Confiança em Deus, ninguém mais, mas mesmo assim, doideira...

Por exemplo, em 1992 dedici que ia de carona de Belo Horizonte para Ponte Nova, um trecho de aproximadamente 240 km, passando por Ouro Preto. Até tinha o dinheiro pra passagem, mas queria viver essa aventura. Não consegui uma carona direta, foi um pinga-pinga, mas cheguei, sã e salva. Depois dessa que deu certo, outras vieram... repeti a dose no mesmo trecho mais uma vez, só que o destino final não foi Ponte Nova, mas sim Jequeri, a cidade do meu pai, que fica a 40 km além. Também cheguei tranqüila, depois de umas cinco caronas diferentes... é, a aventura foi também extenuante, mas valeu.

Depois que passei a ter carro, ficava pensando nas pessoas que pediam carona. E decidi retribuir algumas vezes, também no caminho da casa dos meus avós, em Minas Gerais. Levei estudantes de Juiz de Fora até Ubá. E outra estudante de Ervália até Viçosa.

Só que chegou um tempo que minha situação financeira estava bem ruim... minha filha estava morando com minha mãe em Guarulhos e eu só a via nos fins de semana, porque trabalhava em Campinas. Mas eu ia pra Guarulhos quando tinha dinheiro pra gasolina... o que nem sempre era certo. Então decidi que iria pra Rodoviária de Campinas e abordaria pessoas que se dirigiam ao guichê da Cometa, para São Paulo. Muitas agiam com desconfiança e se desviavam de mim, mas algumas me ouviam e aceitavam vir comigo, pagando a mim o valor que pagariam pela passagem. A gente saía dali e ia direto pro posto abastecer, e o dinheiro deles nem parava na minha mão – eles viam que era pra gasolina mesmo.

Precisei fazer isso muitas vezes, e sempre tive como companhia de viagem pessoas sérias e de boa índole – nunca tive problema. Sei que entre cidades grandes como Campinas e São Paulo isso é meio arriscado e perigoso, mas a necessidade falava mais alto. Mas Deus é bom demais... e sempre está por perto a proteger as pessoas que têm bons propósitos e reais necessidades.

Depois de conhecer o sistema de carona daqui da Alemanha, vi que sem querer pratiquei isso lá no Brasil... em 1996, há 12 anos!

sábado, 19 de abril de 2008

Atropelei um carro!


Quem viveu em Trombetas vai ter história de lá pra lembrar a vida inteira... ainda mais se ama fotografia e não saía de casa sem sua câmera, como eu! Essa aí é de um dia em que voluntários se reuniram pra plantar árvores na antiga área industrial, que abriga escritórios de diversas empresas contratadas. Era um sábado, eu acho, e todas as pessoas que compareceram deram sua dose de contribuição. Até mesmo minha pequena, aí na foto de regata preta e bermuda rosa, fez uma força danada pra segurar a pesada pá e jogar terra no buraco. É, minha filha já plantou uma árvore!

Atropelei um carro!

Segunda-feira, 7 de janeiro de 1991: meu dia começou cedo. Eu trabalhava como temporária na Ford Indústria e Comércio, em Cumbica, Guarulhos, no setor de Exportação. E naquela segunda-feira eu tinha prova de vestibular: era a segunda fase da Fuvest que eu estava prestando pra Letras/Alemão. Meu plano era transferir meu curso de Jornalismo da PUC-Campinas para a PUC-São Paulo e, passando na USP, levar os dois cursos ao mesmo tempo. Mas não era pra ser assim...

Pois bem, pra poder sair do trabalho a fim de fazer o vestibular, eu tive que chegar bem cedo e passar o serviço pro pessoal que estava voltando do recesso de fim de ano. Cheguei às 5 da manhã, adiantei meu servico, passei as rotinas pros colegas e saí às 11 horas. Fui de carro, porque meu vestibular seria no Brás, bairro próximo ao centro de São Paulo – de transporte coletivo seria inviável.

Chegar ao Brás não foi problema. Nem encontrar o endereço do local da prova. Complicado foi achar um caminho que desse mão pra chegar na escola... perdi uns preciosos 15 minutos nisso, até que desisti e fiz uma manobra politicamente incorreta: entrei de ré na tal rua. Estacionei o carro bem em frente ao portão de entrada e atravessei (uma rua tranqüila, normalmente pouco movimentada) pra comer algo e comprar água para levar pra prova. Ainda havia uns 10 minutos antes de o portão ser fechado.

Eis que de repente vejo alguém no portão já o fechando! Agarrei meu lanche, deixei o dinheiro no balcão, gritei “depois eu pego o troco!” e atravessei a rua correndo. Mas havia um carro no meio do caminho, no meio do caminho havia um carro... crash! Atropelei o coitadinho!

Foi tudo muito rápido, mas eu não perdi a consciência, graças a Deus. Me vi caída no chão, com a perna visivelmente “torta” pouco acima do joelho, ou seja, quebrada mesmo, mas sem ferimento exposto ou sangue. E quase que na mesma fração de segundo, uma multidão ao meu redor, querendo ajudar.

Queriam me carregar feito saco de batata... ai meu Deus! Eu gritei “não, me deixa aqui”. Se me pegassem de qualquer jeito, eu poderia ter problemas, tipo atingir a artéria femural, expor a fratura... é, eu já tinha alguma noção de primeiros socorros. Mas como Deus está sempre presente, passava por ali naquele momento um bombeiro que, mesmo de folga, jamais abandona seu ofício de ajudar. Ele pegou uma tábua ali por perto, a fim de apoiar e imobilizar minha perna, evitando movimentos bruscos a ela. Logo chegou uma viatura da Polícia Militar, que me levou para o Hospital Municipal do Tatuapé. O calvário estava apenas começando...

Lá fiquei por mais de duas horas gemendo de dor largada sobre um leito... me diziam que não havia maca com rodinhas pra me levar pro raio X. Foi só minha mãe chegar e dar uns gritos que encontraram rapidinho uma... raio X, tração na perna e transferência para o Hospital Bandeirante, na Liberdade. Nessa “longa” viagem (do Tatuapé até a Liberdade) é que senti literalmente na pele como as ruas de São Paulo são esburacadas... ai que dor!

A história é longa... mas vou encurtá-la aqui: foram duas cirurgias, uma placa com nove parafusos (que ainda carrego comigo: sou uma mulher platinada!) e quase dois anos para me recuperar completamente. Meu maior medo era não poder mais jogar vôlei... mas graças a Deus joguei muito depois disso. E ainda vou jogar mais, mesmo com um centímetro a menos na perna esquerda.

Do ponto de vista emocional, muitas dores nesse período. Um dia conto mais...

Tschüß!

PS: escrevendo esse texto é que me dei conta de que nunca peguei o troco na lanchonete... era uma grana razoável na época, algo como dar R$ 50,00 para cobrar um misto quente e um refrigerante nos dias de hoje.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

"Pegou pra criar, foi?"


Um dia saí pra jantar com um amigo. Ele me perguntou o que eu queria comer – acho que ele conhece cada restaurante na cidade dele. Sugeriu italiano, chinês, japonês, iugoslavo... opa, fiquei curiosa. Perguntei o que era típico iugoslavo, e ele disse “carne grelhada”. “Então vamos lá”, disse eu. Pedimos um grelhado misto, e veio o prato, visualmente bonito e chamativo. Eu perguntei a ele se a pimenta era forte (é a coisinha verde entre a batata frita e o pimentão vermelho), e ele disse que não. Ainda assim, mordi a dita-cuja de forma bem comedida... santa precaução! Se aquilo não é forte pra ele, nem quero imaginar o que seja! Ah, a carne é só de porco, e o grelhado é tipo “hamburguer”. Gostei de conhecer, mas confesso que não morri de amores... em uma eventual próxima vez, vou optar pelo tradicional italiano!


"Pegou pra criar, foi?"

Uma amiga minha, que já há anos mora nos Estados Unidos, era o tipo de garota que só gostava de rapazes mais novos que ela. E eu vivia dizendo “vai trocar fralda” ou “pegou pra criar, foi?”. Pois é, um dia eu paguei minha língua. Porém não é sobre o meu caso que vou escrever, mas sim do que eu constatei depois dele.

Pelo que vivi nessa relação e em outras a posteriori, descobri que a idade apita muito pouco nessa questão de “criar”. Há homens que há tempos passaram dos 30, até dos 40, e ainda precisam ser “criados”. Sobretudo se for do signo de câncer, bicho que só anda de lado e se esconde na carapaça... kkkkkk

A relação dos cancerianos com a figura feminina é muito complicada. O homem de câncer é romântico, paternal e voltado à família OU conquistador nato, estilo Don Juan. Ou pior: uma combinação das duas características, o que pode parecer imcompatível, mas eu digo que já vi isso. Essa definição está em qualquer perfil astrológico do signo. No fundo, o que esses homens buscam é uma mulher que os poupe dos problemas da vida, pois, muito provavelmente tiveram forte influência materna desde a mais tenra infância, o que os conduz a muitas inseguranças em suas relações íntimas. Daí a minha afirmação de que a idade pouco importa... homens nesse perfil precisam de uma mulher que os “crie”.

Aí aparece o velho ditado: “filho a gente cria pro mundo” e assim foi com o meu: “criei”, então ele abriu asas e foi embora. Depois dele, outros (notem o plural) cancerianos cruzaram o meu caminho: acho que fiquei “cancerianamente magnetizada”! Só que não estou mais a fim de “educar” homens crescidos, apesar de eu amar desafios.

Porém acho melhor não dizer “dessa água não beberei”... vai que dá sede e não tem outra! Mas eu tô achando que se encontrar mais algum canceriano por aí que me venha com o papo “você é maravilhosa, mas difícil de se chegar perto”, vou sugerir logo no primeiro encontro que vá fazer terapia, porque embora eu seja boa ouvinte, goste de conversar e instigar o outro à alguma reflexão, não sou psicóloga... e esse tipo de homem precisa é de ajuda profissional!

Ciao!

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Utopia concretizada cria jurisprudência?


contei na postagem do dia 13 de abril que fui pra Suíça, e que fomos passear numa montanha, cheia de neve e nevando (ai que frio!). Achei que só eu ia dar uma de doida, de querer fazer guerra de bola de neve, afundar o pé até a neve chegar no joelho... mas o que vi foi um bando de crianças até mais velhas do que eu tomando a iniciativa nas brincadeiras. E nessa farra de andar na neve fofa, sobrou pra mim: me desequilibrei e caí bonito! Porém, antes de me levantar, peguei minha câmera no bolso e a dei pra minha amiga – tinha que registrar aquela cena. Ser criança é bom demais... melhor ainda é guardar por toda a vida uma criança dentro da gente.

Utopia concretizada cria jurisprudência?

Essa pergunta surgiu na minha cabeça depois de ouvir uma amiga falar (na verdade, repetir) de forma taxativa sobre o que eu espero de um homem: “isso não existe”. Aí eu retruco com ela: “claro que existe, já aconteceu comigo”. Ela insiste em me dizer que eu preciso rever minha forma de idealizar um relacionamento, porque no seu modo de entender as coisas, o que eu busco não encontra respaldo na vida cotidiana.

Eu odeio cigarro e seus rastros; não sou a mais ordeira, mas não gosto de ver coisas espalhadas pela casa; não gosto de limpar chão, mas detesto pia suja – e lavo a louça na boa... ou seja, tenho algumas manias. Mas há coisas nas quais eu sei que posso me flexibilizar, mesmo não gostando, se o cidadão em questão assim merecer. Porém existe uma coisa da qual eu não abro mão, absolutamente: comunicação.

O cara não conversa, não fala de si, não se mostra... não dá. A comunicação não é apenas verbal, pode ser também em expressões corporais, atitudes, afinal, a não-verbal é muitas vezes mais poderosa e mais freqüente do que a verbal. É conversando, trocando impressões, que as pessoas se mostram e permitem que o outro as conheça em sua intimidade, em sua essência. E sem conhecer o outro, pra mim não rola. O problema é que hoje em dia as pessoas não têm tempo para dedicar a conhecer umas às outras. De novo esse assunto*.

Se utopia concretizada cria jurisprudência eu não sei. Mas continuarei acreditando que tudo pode acontecer, ainda mais quando o objetivo final for o amor e a harmonia entre dois seres.

Auf Wiedersehen!

* Veja aqui um texto já postado no qual falo sobre esse mal horroroso dos tempos atuais, a falta de tempo:
Time is money – a aceleração da vida
http://marinanoar.blogspot.com/2007/08/no-meu-texto-de-abertura-eu-comentei.html

domingo, 13 de abril de 2008

O “macho” da minha vida


Na Páscoa visitei amigos brasileiros na Suíça francesa, em Gland, uma cidadezinha situada perto de Genebra, às margens do enorme lago de mesmo nome. Num dos passeios, fomos pra uma montanha ali perto. Tava um frio danado, neve pra todo lado, lindo de se ver. Mas em algum ponto do caminho me senti chegando na capital mineira... um restaurante à beira da estrada tinha um letreiro escrito “Bel Horizon”... pensei comigo: “uai sô... cheguei em Minas Gerais e nem pircibi... i qui trem doido é esse sô... caiu umas letra e eles nem arruma!” kkkkkk


É, mas eu tava muito longe do pão de queijo... porém, o horizonte que se vê daquele local é realmente muito belo! Dali avista-se uma enorme extensão do Lago de Genebra, o Mont Blanc, um dos maiores maciços dos Alpes (mas que naquele dia infelizmente estava encoberto) e várias cidades que ficam na beira do lago – do outro lado já é França. Fiz uma montagem com duas fotos, pra ilustrar melhor o que descrevo aqui. Oui, c'est un bel horizon. Au revoir!


O “macho” da minha vida

Há algum tempo li o livro de crônicas do Arnaldo Jabor “Amor é prosa, sexo é poesia”. Entre diversos textos, inclusive o que serviu de inspiração pra Rita Lee compor a música homônima ao título do livro, tem um que se chama “O mundo de hoje é travesti”. Trata-se de uma visão bem realista de como a mulher deseja ser tratada, mas de como o mundo de hoje a obriga a ser. Afirma também que o mundo atual é essencialmente feminino, porém dirigido por homens boçais (essa foi muito boa... melhor ainda por ter sido escrita por um homem!).

Me identifiquei com aquelas palavras... tenho plena consciência de que há 13 anos, logo depois de me tornar mãe, tive que assumir o papel de “macho” da minha vida, por razões óbvias de quem se torna “pãe”. E descuidei completamente da mulher doce e meiga que existe em mim – sem perceber, a ocultei completamente nesse tempo todo. Homens detestam concorrência... têm medo de mulheres fortes. Isso explica o fato de eu ter tido tão poucos relacionamentos nesse tempo. O processo de autoconhecimento é lento... tenho me dedicado a isso nos últimos meses, e demorôôôô... descobri que quero voltar a ser mulher, urgentemente!!! kkkkkkkk

“Querer é poder”... se fosse tão fácil assim, eu já tinha resolvido essa parada. Mas tudo que demanda interação com outras pessoas (ou seja, 99,999999% das coisas da nossa vida) tem o ingrediente complicador de lidar com as emoções, desejos e medos explícitos e ocultos do outro. Se muitas vezes nem os nossos próprios estão bem claros e resolvidos, imaginem como fica o contato com alguém cheio de escudos, alguém que até tá cansado de ser sozinho, mas que se habituou a viver numa redoma e, por mais que queira, não consegue sair dela!

Várias amigas minhas declaram sua admiração por mim por meio de adjetivos como “guerreira”, “batalhadora”, “sensível mas pragmática”, “compreensiva mas às vezes incisiva demais”, “macho-de-saia”... às vezes acho que não sou tudo isso que me dizem... tenho meus medos, minhas dúvidas, meus altos e baixos... mas “macho-de-saia” infelizmente sou sim. E quero deixar de ser, mas já sei que isso não depende apenas de mim... é preciso que eu seja devidamente tocada em minha essência feminina para que a mulher venha à tona (o citado texto do Jabor diz, ainda que forma genérica, como isso pode acontecer).

Aí entra o dilema Tostines*: eu não consigo mudar porque não sou tocada, ou não sou tocada porque continuo sendo “macho-de-saia”? Complicado... mas o fato de eu estar consciente já ajuda um bocado. Verbalizar isso em alto e bom som me mantém firme no caminho da mudança. Mas ninguém é uma ilha... sempre precisamos de outrem para interagir, para corroborar as mudanças.

Paciência... tudo acontece devidamente a seu tempo. Pelo menos eu sei que tenho feito a minha parte.

Fuii!!!

* Dilema Tostines: é de um comercial de biscoitos de mesmo nome, que lançava a pergunta “Tostines vende mais porque é fresquinho, ou é fresquinho porque vende mais?”. Detalhe: essa pergunta nunca foi satisfatoriamente respondida.

sábado, 12 de abril de 2008

Continuidade


Tanto tempo sem escrever... tanta coisa aconteceu... nesse período abriu-se um vazio imenso no meu coração, com a partida do meu pai... mas a vida segue adiante. Da mesma forma que seguiu desde essa foto (em algum lugar bonito do noroeste paulista, à beira de um rio, meu pai abraça suas três meninas, e eu até faço pose!) até os dias atuais. Aliás, é sobre seguir adiante o texto de hoje. É o 13° aniversário da minha filha... há muito tempo venho matutando sobre essa coisa legal que é ter filho. Às vezes acontecem coisas chatas quando o diálogo se esgota, como ter que brigar, falar alto, impor coisas... e eu odeio brigar, me faz mal. Mas no frigir dos ovos, o lado bom sempre prevalece.

Continuidade

Há exatamente treze anos eu entrava pro time das pessoas que recebem a graça de ter continuidade na vida. O dia 12 de abril de 1995 começou bem cedo, e às 9h22 eu virei “nós”. Naquele momento senti que a responsabilidade de receber um ser pra cuidar e orientar era muito maior do que a alegria que ele trazia. Mas ao mesmo tempo, a alegria de ver cada gesto, cada sorriso e cada choro daquela pequena criatura só alimentava mais o meu desejo de fazer valer a confiança que a Divina Providência havia depositado em mim. Eu já sabia que esse ser viria sem manual de instruções, por isso fui construindo a criação da minha filha a partir das experiências que eu vivi e que das coisas que via ao longo do caminho, colhendo as lições boas e descartando as ruins.

Nesse período recebi elogios diversas vezes por ter uma filha tão bem educada, interessada, bastante madura pra idade dela, sempre à frente da sua cronologia. Desde cedo eu procurei dar a ela uma noção de independência, porque sempre trabalhei fora e pensava que ela precisava saber fazer algumas coisas sozinha, como se servir à mesa, se trocar pra ir à escolinha... é, essa noção de independência foi crescendo... e hoje é preciso puxar as rédeas – a mocinha tá “acelerada” demais. Mas ainda assim acho mais fácil pisar no freio do que ter que empurrar!

Mas a continuidade... Ter um filho não é apenas “povoar o mundo”. Ter filho é o começo da própria imortalidade, é ter pra quem passar seus princípios, crenças e valores; é ver-se naquela pessoa, enxergando atitudes que você mesmo tomaria, e se orgulhando dela por isso. É ficar feliz por saber, ver e sentir que aquilo que se recebeu dos pais MAIS o que se aprendeu ao longo da jornada, de outras pessoas igualmente importantes (minha madrinha, amigas, amigos e até mesmo de desafetos, as chamadas “contra-lições”) segue adiante. É construir um ser melhor do que você mesmo, mas não uma cópia fidedigna sua, afinal, a individualidade é essencial para o ser humano. E a formação dessa personalidade única é algo que se molda ao longo do caminho, mas que precisa ter como base os princípios, crenças e valores que aprendemos de nossos pais na mais tenra infância.

Sei que a tarefa é perene... mas infelizmente nem sempre 100% aplicável no dia-a-dia, sobretudo de quem é “pãe” como eu. Eu também sou alguém em construção, que às vezes falha e precisa de apoio. Mas a responsabilidade de ser a continuidade do meu pai e de já ter a minha própria continuidade me dá forças pra seguir adiante. O legal é que às vezes esse apoio vem da minha própria cria... é, entre erros e acertos, sinto que meu saldo tá positivo.


Até breve!