segunda-feira, 5 de novembro de 2007

O escudo que virou armadura


Estive em Nürnberg com a Thaís em agosto do ano passado. Esse forte é do século XIII. No museu lá dentro, há várias armaduras em exposição, mas não é permitido fotografar. Muito interessante ver como os guerreiros de protegiam nas batalhas da época – em algumas armaduras, havia uma proteção extra para o escroto, cuidadosamente planejada para proteger a área de lazer... porém em outras, era fácil matar o cara enfiando a lança pela lateral, onde a armadura não era de ferro, mas sim de algo parecido com couro, para emendar a frente com as costas. Coisa de homem mesmo, que só pensa no corpo, esquece que é também sentimento, alma. É, a coisa não é de hoje.


O escudo que virou armadura

Um dia desses, conversando sobre coisas da vida com o namorado de uma amiga, ele disse algo que me fez pensar mais sobre minha forma de ser no tocante à relação com o sexo oposto: “se os homens agem sempre igual com você, o problema não está com eles, mas sim com você mesma”.

Não é segredo pra ninguém, sobretudo para as pessoas mais próximas a mim, que me conhecem a fundo, que eu sou “dura na queda” nessa área: simplesmente não permito que possa existir a possibilidade de alguém pisar na bola comigo.

(In)felizmente a vida fez com que eu me tornasse um ser duro (mas não insensível), determinado (mas não inflexível), que sempre precisou ser forte (mas não imbatível) em todas as circunstâncias. Desde o início da minha vida adulta, não me lembro sequer de uma ocasião em que pude me entregar ao choro e ao colo de alguém. Mesmo machucada, dolorida, sempre tive que me manter altiva e continuar lutando, por mim e por minha filha.

Tenho consciência de muito do que se passa comigo... quase tudo talvez. Em muitos pontos eu sei exatamente qual é o problema e sua origem, porém, não consegui ainda o caminho para resolvê-los. E sei também que mui provavelmente isso me atravanca. Nesse caso, ter consciência dói mais do que não tê-la.

Desde cedo me armei com um escudo para me defender. Nunca fui o modelo de beleza (física) que a sociedade impõe. Na escola recebia inúmeros apelidos desagradáveis, era alvo fácil de brincadeiras de todo tipo. Namorado na escola? Não, nunca tive. E qualquer um que se aproximasse de mim, eu já desconfiava que era pra bagunçar com a minha cara ou pra querer sentar perto de mim no dia da prova – simplesmente não acreditava que alguém pudesse se aproximar de mim com sinceridade e seriedade. Essa forma de agir é resultante do medo de se entregar, do medo de sofrer. Mas gente, quem tem medo de sofrer vive sofrendo de medo!!! kkkkkk É, é melhor rir do que chorar.

Com o passar do tempo, o escudo virou armadura. Está há tanto tempo aí... desconfio que os fechos já enferrujaram, o que dificultaria sua retirada. Mas graças a Deus existe substâncias desenferrujantes pra ajudar nessa tarefa – o lance é encontrá-las.

Minha filha sempre me fala que queria ser como eu, calma e tranquila, pois ela é “esquentadinha” e não consegue ficar sem revidar algo que a incomode. A vida me ensinou que a gente é melhor ouvida (e até compreendida) quando fala baixo, porque assim consegue falar direto ao coração. Portanto, mui dificilmente alguém vai me ver brigando, discutindo, falando alto para me impor. Esse não é o meu modo de agir, nem mesmo quando provocada.

Eu realmente sou uma pessoa fácil de lidar, desde que seja respeitada em todos os sentidos. A vida é como um espelho: eu faço com os outros da forma que eu gostaria que fizessem comigo. Mas não pise no meu pé... porque eu realmente sou muito boa, mas quando sou má, sou melhor ainda! As pessoas que experimentaram esse meu lado perceberam, tardiamente, a mulher de valor que existe em mim. O meu “ser má” consiste apenas em me fazer entender, normalmente em palavras escritas e MUITO assertivas, de forma que o outro perceba o quanto estava equivocado em relação à minha pessoa.

Reconheço que sou muito dura mesmo. Mas também sou muito suave, e gosto mais de mim assim. É só saber como lidar.