terça-feira, 22 de abril de 2008

Sentimento entra na DRE?


Tenho muitas fotos de bicho, sobretudo do tempo que vivi na Amazônia. Minha câmera era minha fiel companheira de passeios e mesmo em casa, estava sempre pronta pra ação. Um dia flagrei um tucano comendo mamão no quintal do vizinho, nos fundos da minha casa. Fiz uma série de fotos do bicudo, porém a mais legal é essa. Acho que a mãe dele não o ensinou a comer de boca fechada... o cara tá comendo e a gente consegue ver a comida na boca, ou melhor, no bico dele...

Sentimento entra na DRE?

A mente dos homens é algo pra ser indefinidamente investigada... é impossível saber o que se passa na cabeça deles. Se você não dá logo de cara, tá fazendo doce; se dá, não é o tipo pra apresentar pra família... esse dilema não é novo.

O que me move a escrever hoje também não é novo, mas é algo que me incomoda severamente: associar relacionamento com dinheiro. A mentalidade do homem aqui na Alemanha é materialista demais pra mim... claro que deve haver exceções, mas eu ainda não encontrei. Aí entra outro dilema: se você se mostra independente, forte e decidida, os homens se assustam e se afastam, porque não suportam “concorrência”; se você se mostra frágil, mulher que deseja ser protegida, pensam que você quer só vida boa, ser sustentada e gastar a grana deles. E caem fora também.

É, sempre em pauta o vil metal... sentimento vira algo pra segundo ou terceiro plano. Aí eu pergunto: com a “contabilização” dos sentimentos, onde eles entram na Demonstração de Resultados do Exercício? Ativo ou passivo? Com amortizações ou depreciações? São vistos como lucro ou perda? Geram dividendos? Amor, por exemplo, pode ser enquadrado como investimento a longo prazo ou a fundo perdido? O respeito, entra em direitos ou obrigações? Os estoques de compreensão, são lançados onde? Ter uma postura sempre transparente é fato relevante? Harmonia pode ser tida como lucros acumulados? Lealdade é visto apenas como capital de terceiros? Uma não-conformidade sentimental é tratada de que forma numa auditoria contábil? É passível de auditoria por terceiros, tipo Ernst & Young ou PriceWaterhouse Coopers?

Tô escrevendo e rindo... porque nada disso faz sentido. Mas infelizmente a mentalidade de muitos por aqui é essa. Não existe aquela coisa de “vamos ficar juntos” assim, sem a fria análise materialista. E pouco interessa se você tem sua profissão, trabalha etc. Não há sequer diálogo, a outra parte fica matutando sozinha com as impressões superficiais que colheu e “conclui tudo”: você pode ser uma mulher “cara”, porque quer estudar, porque tem filho, porque comprou patins de € 20 no Ebay, porque tem uma bolsa Prada (de R$ 10,00)... nenhum argumento faz sentido, mas é a conclusão do materialista com quem você ESTAVA flertando. Estava, porque depois dessa, nem que venha a mim de joelhos... com essa cabecinha “zu kleiner”, tô fora. Eu não preciso de um homem pra pagar as minhas contas. Sou “macho” o suficiente pra cumprir minhas responsabilidades.

Na minha cabeça, sentimento não entra na DRE...

* “zu kleiner” é uma corruptela gramatical; o correto seria "zu klein". Em alemão, klein é o adjetivo que significa "pequeno". O sufixo "er" indica o comparativo de superioridade, ou seja, "kleiner" é algo como "mais pequeno". O "zu" é um advérbio de intensidade, com conotação sempre negativa, que signfica "demais". Portanto, dizer "zu kleiner" é exacerbar todas as noções de mesquinharia que se possa imaginar...

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