sexta-feira, 14 de junho de 2019

A saga da cidadania: os laços de sangue

5 de setembro de 1889: começa a história de um
Gallet que n
ão fazia ideia do quão longe iria
 
Minha mãe teve bem pouco contato com o avô dela, o italiano que chegou ao Brasil em 1896. Nem o idioma foi preservado, pois meu avô João Galetti, pai da minha mãe, não falava italiano. Pudera, seu pai, meu bisavô Eugenio Gallet, chegou no Brasil com menos de sete anos, foi alfabetizado em português e provavelmente foi perdendo seu italiano, nem tendo a ideia de passar o idioma para seus filhos. Certamente havia coisas mais importantes para cuidar, como trabalhar duro para garantir a sobrevivência.

Pois bem, falando ou não italiano, o direito de sangue estava lá, porém era preciso comprovar os laços sanguíneos por meio de documentos oficiais. Desde que descobri que tinha direito, passei a frequentar fóruns sobre o tema, onde vi que para muitos a parte mais difícil era conseguir descobrir onde exatamente o antepassado havia nascido, pois os registros de chegada no Brasil diziam de maneira genérica “italiano” ou apenas a região da Itália de onde tinham vindo. Era preciso pesquisar em que região da Itália o sobrenome era mais frequente, e então escrever para as várias cidades daquela região, na esperança de que em uma delas a certidão de nascimento fosse encontrada.

Eu tive a grande sorte de ter um tio-avô vivo e muito lúcido, o Tio Luiz Galeti, que me passou com exatidão todas as informações sobre o seu pai, meu bisavô. Onde nasceu, com dia, mês e ano, quando e onde casou, e onde faleceu. As certidões brasileiras foram obtidas com certa facilidade, telefonando para os cartórios das cidades informadas pelo Tio Luiz e solicitando os documentos. 

Claro que tudo teve seu preço (as certidões, o correio com envio seguro), mas foi um investimento devidamente calculado. Já para solicitar a certidão de nascimento do meu bisavô na Paróquia de Aquileia eu contei com a ajuda de uma italiana para a qual eu trabalhava, que telefonou diretamente lá. Com os dados precisos fornecidos pelo Tio Luiz, a busca foi bem facilitada e em dez dias a certidão de nascimento/batismo chegou pelo correio.

Eu já tinha todas as certidões na mão. Qual seria o próximo passo? Traduzir, legalizar e dar entrada no consulado italiano em Munique. Parecia tudo muito fácil e rápido, em relação a tudo que eu havia lido em diversos fóruns sobre cidadania italiana. 

Pois é, mas como nada na minha vida havia sido fácil até então, a cidadania seguiu o mesmo padrão: a cidade de Aquileia, onde meu bisavô havia nascido, não pertencia à Itália na época do seu nascimento. Havia tudo voltado à estaca zero?

Comecei a estudar a história das guerras napoleônicas e suas consequências na Europa do século XIX. E descobri que sim, ainda havia um caminho para o reconhecimento da minha cidadania. Só não seria tão rápido quando inicialmente pareceu que seria. 

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quinta-feira, 13 de junho de 2019

Entre a fome e o desconhecido, a esperança

Eugenio Tobia Gallet e Maria Valentina Sclauzero, meus tataravós,
que saíram da Itália em 1896 com seus seis filhos rumo ao Brasil
 
Meu bisavô tinha seis anos quando os pais dele decidiram deixar sua terra natal e ir para o Brasil. Ele certamente não fazia ideia do que aquela mudança significava, mas seus pais certamente sabiam: era uma tentativa quase desesperada de fugir da miséria que reinava na Itália no fim do século XIX, após décadas das guerras napoleônicas e disputas territoriais com o Império Austro-Húngaro. 

O Brasil era esperança e promessa: esperança de se viver em um lugar onde não havia guerras e promessa de trabalho e, por meio dele, a dignidade para a família. Com a abolição da escravidão em 1888, a economia brasileira precisava de mão de obra para, entre outras atividades, manter os engenhos de cana de açúcar funcionando. Além disso, era um país com uma extensão de terra ainda não totalmente conhecida, e certamente haveria um pedacinho de terra onde eles poderiam plantar e viver.

Não sei dizer como foi que Eugenio Tobia Gallet, a esposa Maria Valentina Sclauzero e seus seis filhos, entre eles Eugenio Gallet (meu bisavô) se estabeleceram quando chegaram. Mas havia tantos italianos também recém-chegados que a integração na nova terra foi provavelmente bem facilitada. Sei que se estabeleceram no interior do Estado de São Paulo, região de terras ricas e férteis, e lá plantaram suas raízes no Novo Mundo.

A partir deles, uma nova história começou a ser escrita: a de bravos imigrantes que, em tempos em que uma carta demorava meses pra chegar ao seu destinatário (isso quando chegava!) tiveram a coragem de se aventurar no desconhecido, empurrados porém pela necessidade pura e simples de prover uma vida mais digna para seus filhos.

Desconheço a história dos outros cinco irmãos e irmãs do meu bisavô, mas ele, Eugenio Gallet, teve cinco filhos. O meu avô, João Galeti (sim, o nome sofreu várias corruptelas), teve sete; minha mãe, cinco; eu tenho uma filha. Mas meu sobrinho já é pai, então já estamos na sexta geração do Eugenio Gallet no Brasil, desde 1896. 

E eu, que pensava ser a minha inclinação por explorar e conhecer novas fronteiras simples características do meu fogo sagitariano (além de influência do meu pai, também sagitariano), me enganei. O meu lado materno, através dos Gallet, tem sua contribuição nessa ânsia por andar, andar e andar. E sem temer o desconhecido, pois é só assim que a gente cresce.

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quarta-feira, 12 de junho de 2019

Ancestralidade: as nossas origens

Brasileiro é resultado de uma mistura tão rica que muitas vezes procurar suas origens torna-se um desafio imenso. 

Pelo lado paterno, nossos nomes são 100% portugueses. Até aí, nenhuma surpresa, pois portugueses foram nossos colonizadores. Mas mesmo assim procuramos saber onde haviam nascido nossos bisavós, tataravós e seus pais. Resultado da busca: todos até seis gerações antes de mim haviam nascido na mesma região da Zona da Mata em Minas Gerais.

Já minha mãe é neta de italiano, isso eu já sabia, mas só em 2007 descobri que, mesmo sendo bisneta, quarta geração, ainda tinha o direito de sangue. Como eu já vivia na Europa, a possibilidade de se tornar oficialmente europeia fez a expressão “origens” ganhar um significado especial, e aí começou a saga da cidadania.

Tive a grande sorte de ter um tio-avô vivo e lúcido, que me deu preciosas e precisas informações sobre local e data de nascimento, casamento e óbito do seu pai, meu bisavô, o italiano que emigrou para o Brasil ainda criança, com seus pais e uma penca de irmãos e irmãs.

Com isso, a busca pelas certidões foi imensamente facilitada, inclusive a de nascimento lá na Itália. Mas obter a cidadania não seria assim tão fácil quanto inicialmente pareceu que seria. Meu bisavô havia nascido em uma cidade que na época das guerras napoleônicas pertencia ao Império Austro-Húngaro (a região conhecida como Trento/Alto Ágide), e assim ficou até o fim da Primeira Guerra, com o Tratado de Saint Germain. 

Só que meu bisavô emigrou em 1896, e como um apátrida. Oficialmente, ele não era nem italiano nem austríaco. Tinha nome italiano, falava italiano, mas no papel não era italiano. Porém, graças a uma instituição chamada Trentini nel Mondo, de italianos em diáspora mundo afora, foi criada uma lei que possibilitava o reconhecimento do antepassado como italiano e, consequentemente, o de seus descendentes. 

Resumindo, minha cidadania saiu, mas foi uma longa caminhada. Quando se tem residência oficial em outro país, é possível dar entrada no processo de cidadania no consulado italiano local. Por esse caminho, uma cidadania “normal” pode levar até três meses pra ficar pronta. Porém, o meu caso, também chamado de “cidadania trentina”, demorou mais de cinco anos para ser avaliado e eu ter a cidadania reconhecida por meio dessa lei especial criada para atender os descendentes de trentinos emigrados mundo afora. 

A conquista foi celebrada com um Valpolicella maravilhoso!
Mais do que ter um passaporte europeu, me interessava saber de onde venho, e o que levou um casal com seis filhos pequenos a sair de sua terra natal rumo ao desconhecido no fim do século XIX. Então decidi ir a Aquileia, e o que encontrei lá vai muito, muito além da minha ancestralidade: remonta ao Império Romano.

A seguir cenas dos próximos capítulos...

#cidadaniaitaliana
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sábado, 20 de abril de 2019

Óuspirdici!*

As férias eram na roça, no sítio dos meus avós, uma região simples e de bem poucos recursos. Ali nas terras do meu avô e seus vizinhos se produzia arroz, milho e feijão. Tudo no cabo da enxada, sob o sol escaldante. Preparar a terra, semear, capinar, colher era tudo trabalho essencialmente braçal. 

O que eles não produziam, como açúcar, por exemplo, tinham que comprar numa fazenda vizinha, em saca de 60 quilos. Na casa dos meus avós, a saca de açúcar cristal ficava guardada no quarto de dormir deles, atrás da porta, como se tesouro fosse. 

Na hora de fazer bolo, tínhamos que ir no quarto com uma tigela e uma xícara para medir a quantidade para a receita. Era um grande mistério para nós, crianças da cidade, como se assava bolo sem forno. Mas isso é tema pra outra história.

Crianças que éramos, não tínhamos tanta atenção com os detalhes. Abríamos o saco, medíamos três xícaras, fechávamos o saco e íamos pra cozinha dar andamento ao bolo. Logo mais meu avô ia ao quarto verificar se tínhamos fechado o saco direito. E daquela vez, viu cristaizinhos de açúcar caídos no chão.

Saiu brabo do quarto, dando bronca em todos, inclusive na minha avó, que segundo ele, deveria ter nos supervisionado. “Óuspirdici, minina! Onjasiviu dexá açúcar caí nu chão? Açúcar custa caro dimais da conta”**.

Aprendi ali que naquela roça todos tinham como prática quase que de sobrevivência combater o desperdício. Nem um grão de arroz ou feijão deveria ser perdido. Nem um cristalzinho de açúcar, porque o trabalho para consegui-lo era árduo e penoso.

Enquanto isso, nas cidades e nos dias atuais, os índices de desperdício de alimentos é algo obsceno. Se essas pessoas ao menos tivessem uma idéia do trabalho que é para produzir, talvez pensariam duas vezes antes de jogar fora uma banana só porque está pintadinha por fora.

Desperdício na minha casa é tabuzaoç. Não pode e ponto. Estou sempre olhando na geladeira, fruteira e armário. Verifico o que precisa ser consumido logo e me sirvo das sobras das comidas até acabarem antes de preparar outra. “Ah, só gosto de comida fresquinha” dizem alguns. E jogar dinheiro fora, você gosta?

*Olha o desperdício!
**Olha o desperdício, menina! Onde já se viu deixar açúcar cair no chão? Açúcar custa caro demais da conta.

#desperdicio
#trabalho
#respeitoaotrabalho
#valoresdefamilia
#feriasnaroça
#marinanoarblog
#lifestories
#storytelling
#vivendoeaprendendo
#historiasdevida

sábado, 13 de abril de 2019

O convite


O bichinho da corrida me picou!

Um dia chegou uma amiga da minha cunhada pra ela e falou que no domingo haveria uma corrida na cidade.

„Vamos correr? São só cinco quilômetros”.

Minha cunhada já sabia que essa amiga e toda a família dela, incluindo a avó de noventa anos, eram da pegada da corrida. Mas não esperava o convite.

“Eu correr? Só consigo me imaginar correndo da sala até a geladeira na cozinha!”

E no domingo lá estavam elas, na linha de largada. Minha cunhada para a primeira corrida da vida dela, que foi gloriosamente terminada, quase sem fôlego, mas terminada. Porque era uma questão de honra cumprir o desafio aceito.


Foi assim que bichinho da corrida entrou na família. E saiu picando outros... 

#corrida
#keepmoving
#movimento
#histórias
#storytelling


sexta-feira, 5 de abril de 2019

Marina No Ar de volta ao ar!


Marina No Ar, mas com os pés bem firmes na vida real!


Retomar um hábito é sempre um grande desafio. Ainda mais quando a rotina te engole de tal maneira, que você já fica feliz só de ter chegado bem no fim do dia e conseguido pagar as contas no fim do mês. Quando você vive na base do vender o almoço para comprar o jantar, você está na base da Pirâmide de Maslow* – nas necessidades básicas de sobrevivência.

Mas os sonhos, planos, ideias, esses nunca morrem, só adormecem dentro da gente. E no meu caso, ficaram gritando esse tempo todo lá no fundo da minha mente “ei, não esquece da gente!”. Dez anos ouvindo essa voz dentro de mim me implorando para virar palavras escritas em algum lugar e se juntar a outras vozes nesse imenso mundo virtual. Um projeto de trazer ideias para o papel, contar histórias e estórias, compartilhar experiências, falar de angústias e de sucessos, mas sobretudo, mostrar o quanto a vida pode ser bela mesmo quando a gente se encontra num sufoco diário, atropelado por obrigações que nem sabemos se vamos dar conta, e depois não entendemos como demos conta. 

A vida me atropelou deveras nesses dez anos. Mas eu não só saí ilesa desses constantes atropelamentos como também mais forte, mais madura e mais determinada. E muito a fim de escrever essas histórias, todos esses atropelamentos da vida em mim.

É por isso que o Marina No Ar vai continuar: porque histórias precisam ser contadas, pois é por meio delas que a gente se eterniza.

Marina No Ar está no ar! 

Escrever e blogar, é só começar

Cultive hábitos fora de moda: é super elegante!

Grilo Falante: Ei Marina, como você consegue viver com sua mente fervilhando de ideias, mas que não saem daí?

Marina: Ah, meu amigo, quero muito escrever, mas não tô conseguindo nem cuidar de mim direito. Além disso, já estou há tanto tempo parada, tanta coisa mudou, as mídias sociais, a forma com que as pessoas se comunicam. Me sinto quase que como uma comunicadora do século XIX, que ainda manda postais pelo correio quando viaja, que ainda preza a palavra escrita para contar estórias...

Grilo Falante: E até quando você vai ficar com todas essas ideias e histórias apenas para você, na sua cabeça? Não seja egoísta, volte logo a escrever! 
Compartilhe suas histórias, o mundo precisa da ternura das palavras escritas. 
Eu vejo sua mente fervilhar. Não tenha medo da revolução digital. Escrever e blogar, é só começar.



sábado, 10 de julho de 2010

Sobre estar pronto

Da viagem do Coral EmCanto para o Encontro de Corais de Empresas em São Lourenço, Minas Gerais, em maio de 2003, o que mais me impressionou foi a acústica da Catedral de Bambus. Quando vimos no programa o nome do local da apresentação, pensamos numa igreja ou algo assim. Ao chegar lá nos deparamos com um local aberto e nossa reação foi “puxa, a platéia nem vai ouvir direito”. Ledo engano: a área tem esse nome porque tem uma acústica fantástica, que pudemos comprovar ao assistir outros corais cantando. Na foto, nós, do Coral EmCanto, clicados por Carol Reis.

Sobre estar pronto

É muito comum ouvir mulheres e homens falando que não estão prontos para um relacionamento, para ter filhos, ou pra qualquer outro passo mais decisivo na vida. Mas do que se trata esse “estar pronto”?

Eu penso que estar pronto é estar consciente dos prós, mas sobretudo dos possíveis contras de uma decisão, e ainda assim bancá-la. É querer provar o desconhecido, com o cuidado de não perder o chão sob os seus pés. Talvez requeira coragem, ousadia, cara-de-pau ou coisa do tipo, atributos que não estão presentes em todo indivíduo. Não pensar demasiadamente também pode ajudar, certamente, porque ao pensar demais, fica-se imaginando coisas que podem dar errado, mas na verdade só dão errado na cabeça dos que cultivam o pessimismo e só conseguem ver o lado ruim da vida.

Ser mãe ou não ser? Essa pergunta eu não tenho como responder, pois virei mãe “na marra”, ou seja, sem pensar ou programar, embora tivesse essa vontade “para um dia no futuro”. Mas no momento que me descobri grávida senti que eu possuía o que era necessário para essa nova tarefa que a Mãe Natureza me confiava, ou seja, estava pronta. E essa sensação foi se renovando a cada novo desafio apresentado durante o processo de criação e educação – ainda em curso, claro.

Uma amiga minha, casada há 6 anos, terminando a faculdade agora, está em dúvida se engravida ou não. Logo ela, que há 3 anos brigava com o marido porque queria ser mãe e ele não queria filhos na ocasião. Agora diz que não se sente pronta, pensa que não vai ter paciência, que não se vê “mãe”, carregando filho pra lá e pra cá, escola, natação, dança, pensa em como vai ser trabalhar e cuidar de criança etc. Pensa, pensa, pensa... e o interessante é que agora o marido quer o filho. Estar pronta para ser mãe é algo que, no meu caso, veio automaticamente com a gravidez

Estar pronto” para um relacionamento é querer ter alguém ao seu lado, mesmo com todos os eventuais defeitos do parceiro – afinal, cada qual tem os seus. É querer compartilhar os momentos, dos mais banais aos mais especiais. É valorizar as afinidades e minimizar as imperfeições. É querer criar algo novo a partir de duas personalidades. Claro que podem existir feridas recentes no coração de um ou outro que venham a obstruir um pouco essa vontade (de estar/ficar junto). Mas quando essas feridas são constantemente mencionadas como motivo do “não estou pronto”, pode-se abstrair duas hipóteses: [1] essa pessoa precisa de anos de terapia pra ficar “pronta”, com o risco de ainda não ficar (portanto, caia fora dela), ou [2] ela não te quer (caia fora também).

Mas se você for como eu, um ser com uma paciência (quase) inesgotável, consciente de que também os homens têm seus períodos de humor instável e às vezes insuportável, análogos à TPM feminina, não vai pensar muito no assunto. Vai falar alguma coisinha, não no estilo “curta e grossa”, mas sim “sucinta e bem no alvo” e se retira de campo. Para o intervalo, claro. Isso alivia e, no mínimo, coloca o cidadão pra refletir. Normalmente dá resultado, mas na maioria dos casos, a passo de tartaruga... bem, melhor assim do que nada.

Portanto, “estar pronto” para algo é simplesmente QUERER essa coisa a partir do momento que ela se apresenta no seu caminho e agir firmemente para realizá-la.

Eu estou sempre pronta para tudo o que eu quero. E você?


quinta-feira, 3 de junho de 2010

Certezas (2)

Nos caminhos de Minas eu cresci... sempre indo pra lá visitar parentes, estar perto das minhas raízes, sentir o cheiro da terra molhada, empurrar carro que atolava na lama... boas lembranças dessa terra mais que especial.

Quando avistávamos essa placa era motivo de alegria no carro: sabíamos que estávamos a apenas 20km do nosso destino, isso depois de aproximadamente 11 horas de viagem. Mas a alegria da chegada nos fazia esquecer o cansaço dos quase 800 quilômetros já rodados... pois sabíamos que em breve estaríamos junto daqueles que tanto amamos e que poucas vezes por ano podíamos ver, isso porque meu pai, aos 17 anos de idade, escolheu sair das Minas Gerais para explorar o mundo - que na época se chamava "São Paulo".

Certezas (2)

Jogado às traças está o meu blog há tempos... as certezas continuam lá, firmes e perenes no fundo da alma, mas não me impedem mais de seguir adiante.

Certezas que nesse período de abandono da escrita me fizeram amadurecer... entender melhor que nem todos estão no mesmo tempo, mesmo que as almas estejam juntas há tempos.

Certezas que, paradoxalmente, me ajudaram a tomar decisões que custaram a minha própria morte, com consequente renascimento (graças a Deus!), porque o tempo não para.

Certezas de que há sempre um novo caminho a trilhar, mas pra ser trilhado depende de se deixar algo pra trás... porque toda escolha implica necessariamente uma renúncia.

E a melhor certeza de todas: a de que quando Deus nos tira algo que muito desejávamos ter, é para deixar nossas mãos livres para receber algo bem melhor!

E vamos adiante!


domingo, 2 de novembro de 2008

Certezas


Um dia desses ganhei uma sacola de nozes frescas, colhidas no quintal de uma amiga da pessoa que as ofertou a mim. Eram muitas, então decidi fazer um bolo. Só que a maioria das receitas de bolo de nozes são complicadas, e eu queria algo simples. Encontrei uma bem fácil, e o resultado ficou maravilhoso e delicioso (foto). O sabor das nozes picadas espalhou-se por toda massa fofinha do bolo. Nessa semana repeti a receita, mas fiz com avelãs moídas. Também ficou maravilhoso!

PS: Feliz aniversário, Cláudia!


Certezas


Te tenho com a certeza de que você pode ir

Te amo com a certeza de que irá voltar
Pra gente ser feliz...“
(Jota Quest)
Estou numa fase espiritualmente tão boa na minha vida, que nunca dantes minhas

certezas
foram tão plenas, tão tranqüilizadores e condutoras de uma paz interior inigualável.

Certezas que vão desde o que sinto, o que escolhi pra mim, o que tenho feito e o que ainda planejo fazer. Certezas que, ainda que não expressem exatamente o que eu um dia desejei, têm me conduzido a uma ratificação constante da minha crença no bom, no belo e no verdadeiro. Estou vivendo, mais do que nunca, a máxima “quem planta colhe”. E isso me estimula ainda mais a continuar semeando coisas boas pelo caminho.

Algumas pessoas ao meu redor não conseguem compreender a extensão do meu bem-estar, acham que eu posso estar me enganando e chegam a temer que eu sofra em função de uma dessas certezas. Mas a coisa é tão bela, tão pura e tão liberta de sentimentos mundanos que não tem como sofrer por conta dela. Sem chance mesmo. O Grande Pai tá no comando. Não há porque ter receio.

Ontem passei por uma prova que confirmou ainda mais tudo isso. Embora os olhos dissessem enfática e continuamente uma coisa (que vem totalmente ao encontro da minha certeza), as palavras disseram outra (o que me é completamente compreensível, em função dos últimos acontecimentos). Isso porém, sem fechar a porta. Logo, o tempo fará sua parte.

É claro que eu continuarei a fazer a minha, que é simplesmente permanecer em constante contato cósmico. Não dá pra simplesmente sentar e esperar, pois a vida segue seu rumo, avançando a cada amanhecer. Há que se confiar, mas para isso, é preciso agir. Não há como acreditar em conseguir algo se não agir na direção desse objetivo. Só que as ações nem sempre são visíveis e/ou palpáveis. Aliás, as ações mais poderosas não são mesmo.

No final, uma resposta que não mais era esperada e o convite a uma leitura instigante: isso já deve estar causando algum abalo. Mas pra fazer efeito, só com o tempo mesmo.

Eu espero por você, o tempo que for, pra ficarmos juntos mais uma vez” (Jota Quest)

É isso aí.


terça-feira, 21 de outubro de 2008

Was willst du? / O que você quer?

O auge do outono já foi... as árvores já estão mais peladas do que com folhas, e as poucas que ainda se seguram nos galhos semi-expostos já não têm as cores firmes. Mas ainda assim vale colocar aqui essa foto linda tirada ao lado da estação daqui de Germering, no início desse outubro dourado.


“Was willst du?” / “O que você quer?”

E a pergunta me persegue...

Ouvi essa pergunta novamente há alguns dias. Refletindo bastante sobre os contextos, cheguei à conclusão de que a objetivo dessa pergunta não é necessariamente saber o que o outro quer, mas sim projetar o que se quer na intenção do outro.

Explicando melhor: eu quero alguma coisa, mas não sei bem o que é. Então eu jogo essa pergunta, na (inconsciente) esperança de que a resposta da outra parte me ajude a saber o que eu quero.

Outra possibilidade é que você já sabe o que quer, mas tem um medo (também inconsciente) de assumir pra si mesmo isso. Então joga essa pergunta pro outro, de forma que se ele não quiser o mesmo que você, não vai doer tanto... afinal, a pergunta funciona como escudo!

Ah, na verdade, é tudo balela... se os dois sentarem-se frente a frente, olho no olho, a coisa se resolve em cinco minutos. Mas pra quem usa uma pergunta desse tipo (feita por conversa no telefone ou via mensagem no celular) pra se proteger... olho no olho pode ser algo muito perturbador!!!

E mais: penso que só se deve fazer essa pergunta a alguém DEPOIS que ela estiver devidamente respondida pra si mesmo.

Olha o divã aí, gente! A psicóloga aqui em mim vai entrar em ação!!!

hehehehe...


sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Julgamento x compreensão


Começou em Blumenau, Santa Catarina, a 25° Oktoberfest, a brasileira. Aqui, terminou no domingo passado, dia 5. E agora eu posso dizer como a festa começa (estive lá no dia 20 de setembro, às 9 da manhã) e como termina (no último domingo, fiquei até apagarem as luzes). Existem várias pequenas festas populares por aqui, mas o clima da Oktoberfest (a original) é ÚNICO. E olha que eu achava muito nada a ver ir pra um lugar pra beber cerveja e ouvir umas músicas que quase não se entende, pelo idioma e pelo imenso barulho. Paguei a língua. Aliás, pago há 3 anos... 2006, 2007 e 2008. Espero poder pagar mais... pois só vivendo isso aqui pra entender. A foto, Ochsen mit Kartoffelnsalat (carne com salada de batata) e uma Radler da Spaten, na Ochsenbraterei.

Julgamento x compreensão
Se você vive julgando as pessoas, não tem tempo para amá-las (Madre Tereza de Calcutá)
Li essa frase no orkut de um contato meu. Verdade mais pura não há.
Cresci vendo as pessoas ao redor criticando, julgando, falando da vida alheia. Buscando uma perfeição que não existe, a não ser na forma de ver delas próprias. E qualquer coisa que seja diferente dessa forma de pensar é “errada”, portanto, passível de julgamento. Quando li essa frase me lembrei do tempo de amor que essas pessoas já perderam e de quanto (infelizmente) ainda vão perder.
Eu tive a felicidade de conhecer pessoas que me alertaram que essa forma de ser não era legal. E a partir daí comecei meu processo de “desintoxicação” desse hábito. Faz tempo, e sinto que nesse período semeei coisas boas pra mim. Portanto, continuo semeando.
Não sou perfeita – longe de mim almejar isso. Sou apenas alguém que se observa (e muito) para se melhorar a cada dia. Ainda cometo erros, claro. Ainda faço julgamentos... mas a vigilância é boa, pois muitas vezes ainda em pensamento um possível julgamento é cortado pela raiz. E transformado em alguma forma de compreensão.
Um exemplo? Um cara te fecha no trânsito logo cedo, te dando um susto danado. Você pode xingá-lo, chamá-lo de barbeiro e outras denominações pouco amistosas, que ao serem pronunciadas injetam “toxinas” no seu sangue, afetando seu humor (pro lado ruim, claro). Ou você pode escolher imaginar “puxa, ele tá com pressa, deve estar com algum problema. Tomara que consiga resolver logo” - respira fundo e vai em frente, com uma boa injeção de tolerância e compreensão que vao tornar seu dia mais leve.
Se quem julga instintiva e incessantemente soubesse o bem que faz ver a vida com olhos de compaixão e compreensão... provavelmente faria um último julgamento, de si mesmo: “como fui idiota, quanto tempo perdi... agora quero apenas amar”.
Beijos compreensivos!!!


domingo, 28 de setembro de 2008

Sensações "inexplicáveis" / “Unerklärliche” Sensationen


Um pequeno pingente no meu pescoço... de ouro, praticamente sem as cores que chamam atenção... mas o que ele representa é tão forte, que quem por ele tem amor, consegue enxergar a quilômetros de distância.

Assim foi na Oktoberfest esses dias. Um grupo chegou perto de nós para perguntar como tínhamos conseguido cerveja, pois estávamos de pé, e normalmente servem apenas para quem está sentado a uma mesa. Só que antes que eu respondesse (em alemão, porque nesse idioma me perguntaram), um dos homens do grupo apontou pro meu pescoço e disse “olha, o brasão do Corinthians... você é brasileira?”

Resumo: o cara é diretor de futebol de 11 a 13 anos do Timão. E me deu uma camisa oficial novinha, que fui buscar no hotel dele no dia seguinte.

Salve o Corinthians!

PS: o outro pingente é minha menina, já grandinha, Luísa.

PS2: hoje é curtinho o post... com tradução lá embaixo.


Unerklärliche” Sensationen

Sie waren zusammen seit kurzer Zeit, und es war das erste Mal, dass sie gemeinsam flogen. Kurz nach dem Abflug hielt er ihre Hand fest und sagte:

- Ich habe den Eindruck, dass ich das mit dir schon erlebt habe...

**********

Und das Lied, wie immer:

... und wenn die Zeit kommt, kehrst du zurück, da unsere Liebe über allen Sachen dieser Welt steht” (Noch einmal - Jota Quest)

http://www.youtube.com/watch?v=kvFjaxdpKY4


Sensações “inexplicáveis”

Estavam se relacionando há bem pouco tempo, e era a primeira vez que voavam juntos. Logo após a decolagem, ele segurou forte a mão dela e disse:

- Tenho a impressão de que já vivi isso com você...

**********

A música, sempre uma música:

... e quando a hora chegar, volta... que o nosso amor está acima das coisas desse mundo” (Mais uma vez - Jota Quest)

http://www.youtube.com/watch?v=kvFjaxdpKY4


sábado, 2 de agosto de 2008

A pior semana da minha vida


Um dia desses, lendo um dos blogs que já estão nos meus “favoritos”, me peguei a pensar sobre o medo. O amigo blogueiro escreveu sobre os dele, fazendo uma lista. Refleti muito sobre o medo, e cheguei à conclusão de que o meu maior e talvez único medo seja o de perder a coragem de seguir adiante, de enfrentar as agruras da vida – ao mesmo tempo sinto que isso nunca vai acontecer, portanto, não tenho o que temer. Mas uma experiência eu passei... não me lembro de ter sentido medo propriamente dito, só que a dor foi inenarrável. O texto é bem longo, porém o relato do que vivi nessa semana não caberia em cinco parágrafos.

Procurando uma foto pra ilustrar, me deparei com uma que me lembrou do medo de ser picada por cobra ou aranha, embora eu saiba que a peçonha desses animais não é necessariamente a mais prejudicial ao ser humano. Essa coral apareceu na minha garagem num dia que eu estava voltando do mercado e tinha um monte de coisas no carro pra descarregar. Ela tinha uns 15 centímetros e, segundo o bombeiro que a capturou, era uma “falsa-coral”. Eu é que não ia dar mole para aquela miniatura de serpente em plena selva amazônica!

A pior semana da minha vida

Era um domingo de março de 2001. E como sempre, ela entrava cedo em meu quarto, pois acordava segundo o relógio biológico e queria brincar. E eu queria dormir... e a colocava pra correr. Tantas vezes fiz isso... tantas vezes ela voltou pouco depois com meu café da manhã, arrumado à sua moda, em uma bandeja... mas naquela manhã ela não retornou. E eu nem dei falta, pois dormi novamente.

Quando me levantei, a vi prostrada no sofá, queimando em febre. Havia um leve inchaço avermelhado atrás da orelha... levei-a imediatamente pro hospital. Deram remédio pra baixar febre, disseram “parece caxumba”, mas o estranho é que ela já era imunizada contra parotidite. Como poderia ser? Voltamos pra casa e ficamos de molho o resto do dia.

Na segunda-feira ela já estava melhor e foi pra escola normalmente. E eu fui trabalhar. Porém na hora do almoço ela estava febril de novo, o tal edema atrás da orelha tinha aumentado e a pele ao redor estava enrubescida e quente: sinal de infecção. Retornamos ao hospital. Começou então a pior semana da minha vida.

Decidiram internar, embora não tenham dito exatamente o que era. Só disseram que precisava entrar logo no antibiótico endovenoso, que conteria o avanço da infecção de forma mais eficaz. Mas punçar uma veia nela... ah, ela era avessa à agulha. Ainda é, porém agora é mais “controlável”. Tinha apenas 5 anos, mas foram necessários quatro adultos para segurá-la, além da enfermeira que pegou a veia. Em seguida teve início a terapia antibacteriana de seis em seis horas. A pediatra não deu nenhum diagnóstico, porém o anestesista, Dr. Jorge, tentou me tranqüilizar dizendo “é linfoadenite, fazendo o antibiótico direitinho resolve”. E eu ia lá saber que bicho era esse?

O antibiótico entrava por ali, naquele “caninho”, como a gente falava pra ela. Mas era criança, inquieta... e perdia a veia com muita facilidade. Nos quatro primeiros dias de internação, foi uma veia por dia – e o mesmo drama para pegar uma veia nova. Eu conversava, falava que precisava de um novo “caninho”, ela concordava, mas quando a agulha chegava perto, ela gritava, se debatia e se encolhia. Então eu tinha que endurecer, falar grosso, até gritar com ela... e claro, segurá-la com muita força, com a ajuda de outros adultos. Em seguida, saía do quarto, abraçava o primeiro ser humano que estivesse no corredor e chorava.

Embora ela tenha começado no antibiótico logo no início da internação, a infecção ainda avançou por 3 dias, deformando o rostinho dela de uma forma horrível. A pediatra vinha todos os dias, eu perguntava o que era, e ela não dizia abertamente. Só dizia que estava sob controle. Raios! Com minha filha transformada num monstrinho, como é que a coisa poderia estar “sob controle”? Mas ela estava bem, tagarela, ativa. E quando ia escovar os dentes, eu não podia impedi-la de se olhar no espelho. No auge da infecção, ela olhou no espelho e me perguntou: “mamãe, eu vou ficar feia assim pra sempre?”. “Claro que não filha”, eu respondi.

Linfoadenite... aquele nome ficou na cabeça, e só no quarto dia de internação é que a pediatra confirmou o diagnóstico: linfoadenite aguda, uma infecção nos gânglios linfáticos, responsáveis pela defesa do organismo contra ataques bacterianos (eles situam-se na parte inferior do maxilar, logo abaixo do queixo, bochechas e orelhas). Imagina essa região inchando, inchando até não se ver mais o pescoço... não, não queira imaginar. Era muito feio de se ver.

Nós tínhamos direito a quarto, e eu pude levar videocassete e os diversos filmes dela pro hospital, pra ajudar a passar o tempo. Eu mesma não podia ficar com ela o tempo todo, pois tinha que trabalhar. Durante o dia, havia sempre alguém com ela – ou a nossa empregada/babá, ou a professora dela, que sempre vinha à tarde para visitá-la, e que numa dessas visitas trouxe desenhos feitos pela turma toda, desejando que ela melhorasse logo. Assim que saía do trabalho ia pro hospital, e ficava com ela até o dia seguinte. Também começamos a planejar a festa do 6° aniversário dela, que seria em abril.

Paralelamente, havia naquela semana uma demanda especial para o nosso departamento: o recém-empossado diretor de finanças havia me incumbido de organizar uma festa de despedida para o antigo diretor, que se aposentara depois de 43 anos de trabalho na empresa. Essa demanda me foi passada ANTES da minha filha ficar doente, mas mesmo com ela no hospital eu continuei com a responsabilidade de coordenar a organização – era um trabalho em equipe. Em princípio, eu deveria estar na festa, num sábado à noite, para fazer o cerimonial. Porém eu disse às minhas colegas que só iria se minha filha melhorasse, portanto, seria bom que alguma delas se preparasse para ser a mestre de cerimônia. Mas a resposta que recebi na mesa de reunião não foi nada compreensiva... tipo, “você é que tem que fazer isso (o cerimonial), a gente não sabe”. Apoio e compreensão total, como se vê. Pudera, ali nenhuma delas era mãe, não poderiam jamais imaginar o que eu estava passando.

A partir do quarto dia é que a infecção começou a ceder, e o inchaço no pescoço foi diminuindo lentamente. Com isso, a pediatra decidiu fazer o antibiótico via oral, para poupá-la de ter que achar uma nova veia a cada dia. Ufa... um sufoco a menos. A deformidade foi dando lugar à normalidade, porém uma bolota teimava em não ir embora do pescoço. Segundo a médica, era um abcesso que havia se formado ali porque o corpo não tinha sido capaz de eliminar todo o pus da infecção. E para retirar, tinha que operar. “Um procedimento bem simples”, disse a cirurgiã-geral.

Minha pequena estava sempre ligadíssima nas conversas. “Como assim operar? Tem que cortar o meu pescoço? Eu não quero! Vai doer”. Então teve início outra luta: a de convencê-la que era preciso tirar os “bichinhos” que haviam ficado ali naquela bolota. Fizemos a encenação diversas vezes, começando pelo “cheirinho” que o médico colocaria no nariz dela e que a faria dormir, de modo que ela não sentisse dor. Aí, um cortezinho no pescoço, depois costura e pronto! Mas era só eu colocar a mão bem de leve no pescocinho dela pra ela me dizer “tô sentindo a sua mão, vai doer”.

Chegou o sábado, dia da festa de despedida do diretor. E não teve jeito: tive que ir e fazer o cerimonial. Ninguém abraçou essa tarefa por mim. O próprio homenageado falou comigo: “estou sabendo que sua filha está internada desde segunda-feira. Por que você veio aqui hoje?” Perguntas sem resposta.

A cirurgia estava marcada para o domingo. Vesti a roupa esterilizada, entrei no Centro Cirúrgico e fiquei ao lado dela. Mas ela estava tão tensa que foram necessários quatro adultos para segurá-la a fim de conseguir entubar. Não teria como ser outra anestesia senão a geral, e ainda assim demorou uns 5 minutos até que ela parasse de se debater em nossos braços. Nesse momento eu saí da sala. E fiquei chorando do lado de fora.

Foi realmente rápido. Menos de uma hora depois ela já estava de volta no quarto e já dava sinais de retornar da anestesia. “Eu não disse que ia ser rápido e que não ia doer?” Não tinha jeito: alguma coisa ela sentia, e por isso não concordava comigo. A cirurgiã-geral veio logo depois, comentou que havia muito pus mesmo e que o material seria enviado para análise, mas que provavelmente o bicho era um tal de Stafilococo, uma bactéria muito comum em infecções daquele tipo.

No dia posterior à operação tivemos alta e fomos pra casa, depois de uma semana no hospital. Ainda era preciso continuar com o antibiótico por cinco dias, além de cuidar da ferida operatória no pescoço. A pediatra recomendou Povidine para a assepsia do local. Só não sabíamos que minha pequena era alérgica a iodo... ai meu Deus! No dia seguinte a região do pescoço estava toda vermelha, com aspecto de queimadura, embora sem dor. E lá fomos nós pro hospital de novo... pomada para a alergia, e apenas água e sabão para limpar o corte.
Depois dessa semana difícil, tratamos de nos ocupar com algo bem legal: a organização da festa de aniversário de 6 anos, quando ela ganhou uma bicicleta nova e muitos outros presentes dos amigos.

Eu sempre soube que era forte, mas tinha consciência de que essa força deveria ter um limite. Nessa semana eu descobri esse limite, da maneira mais dolorosa possível. Não tem nada mais cruel do que ver alguém que amamos sofrer. Ainda mais quando esse alguém é indefeso, não tem consciência do que está passando. E o duro é ter que continuar sendo forte nesse momento, porque essa criatura precisa de você firme – se você fraquejar, ela fica mais indefesa ainda.

Nessa semana o que me valeu foi a sabedoria Adoniraniana*: Deus dá o frio conforme o cobertor, e eu sobrevivi, certamente mais forte do que antes.

E vamos em frente!!!

* trecho da música "Saudosa Maloca": "só se conformemo, quando o Joca falou, Deus dá o frio, conforme o cobertor..."