terça-feira, 4 de setembro de 2007

Amores platônicos


No último domingo eu e a Alessandra fomos andar... no mesmo caminho que eu fiz com a Bárbara na semana anterior. Mas não fomos tão longe, até porque ambas tinham compromisso mais tarde. Ao longo do caminho está o Rio Würm, de águas rasas e cristalinas. E em determinado ponto, havia uma ilhota, com acesso possibilitado por troncos que ligavam as margens. Vale ressaltar que tem chovido regularmente, portanto esses troncos estavam cheios de limo, extremamente escorregadios, mas a despeito disso, resolvemos fazer nosso pique-nique lá. Na ida, tudo beleza. Na volta, eu caí e molhei meu pé direito, mas isso porque a Ale já tinha terminado a travessia e, ao fazer uma foto minha, acabou me fazendo rir – perdi minha concentração. Ainda bem que era raso, mas de qualquer maneira fiquei sentindo o tênis encharcado na caminhada de volta. A foto, um olhar para o alto a partir da ilhota onde estávamos.

Amores platônicos

A origem da expressão vem de Platão, filósofo seguidor de Sócrates. Na verdade, Platão dedicou-se a escrever as idéias de Sócrates para a posteridade, porque esse nada deixou escrito – seus ensinamentos eram transmitidos apenas oralmente. A teoria de Platão sobre o amor universal como lei natural era de que o amor devia unir a humanidade por laços fraternos, ou seja, amor platônico = amor fraterno. Mas não é essa a definição que se vê por aí.

Entende-se “amor platônico” como aquele não realizado no corpo, seja por um simples abraço ou beijo, embora exista o desejo latente do contato, do calor do outro. É provavelmente uma expressão criada por poetas românticos a fim de atenuar a dor do amor não correspondido, tornando-o algo bonito e perfeitamente realizável dentro de suas próprias fantasias. O amor perfeito, sem queixas, desajustes. Mas, ah como dói...

Eu tinha 12 anos quando conheci o primeiro amor da minha vida. Estava de férias em uma pequena cidade do interior de Minas Gerais, onde meu pai nasceu e meus avós moravam. Cidade pequena, onde todos se conhecem, lá podíamos sair à noite, o que pra mim e minhas irmãs (de 14 e 15 anos) era o máximo. E foi numa dessas “noitadas” que o conheci: 17 anos, olhos esverdeados, cílios longos e curvos e um olhar pra cima de mim que me fez sentir, pela primeira vez, o tal frio na barriga. Isso sem ao menos tocar a mão... sim, foi amor à primeira vista.

Mas como todas as coisas boas de uma viagem normalmente acontecem na véspera da volta, dessa vez não foi diferente. Eu voltei pra São Paulo ele ficou lá, soltinho. Claro que logo arrumou uma namorada e nem lembrava mais daquela menina tímida da cidade grande que sequer tinha beijado na boca (isso certamente ele não sabia). Quer dizer, lembrava forçosamente, porque eu escrevia cartas, mandava recados etc. Eu nutri esse amor, que não deu em nada, por mais de um ano e meio – que loucura! Todas as vezes que íamos pra Minas eu ficava cercando, passando pelos caminhos que ele fazia, andando de bicicleta em frente à casa e ao trabalho dele – coitado, deve ter ficado de saco cheio das minhas atitudes infantis. Isso só parou quando ele se mudou de lá para a capital, Belo Horizonte. E só fui reencontrá-lo uns 10 anos depois: eu já na faculdade, com uma infinidade de descobertas a fazer... é, não tinha absolutamente mais nada a ver, foi apenas por curiosidade de rever o meu “primeiro amor”.

Houve um segundo amor platônico na minha vida, aos 16 anos. Nessa época já tínhamos permissão de sair à noite (mas meia-noite tinha que estar em casa), e costumávamos ir a um bar-karaokê, onde nos divertíamos cantando e dançando. Lá havia um cara que era super bem relacionado, conhecido de todos, simpático, charmoso e que cantava bem. A gente se encontrava todos os sábados, sem combinar. E sempre havia aquele clima amistoso, de pessoas que gostam de algo em comum – cantar. Às vezes ele oferecia a música que ia cantar a alguém que estivesse aniversariando ou por qualquer outro motivo, sempre de forma gentil e amigável.

Um dia, não era meu aniversário nem nada, ele ofereceu pra mim Something, dos Beatles: “something in the way she moves, attracts me like no other lover... I don't wanna leave her now, you know, I believe and how” assim, cantada olhando nos meus olhos. O friozinho na barriga subiu... estava apaixonada de novo. Mas era (ainda sou um pouco) tapada demais pra tomar uma iniciativa, que fosse apenas de sentar-se à mesa para conversar com ele – porcaria de timidez! E a coisa ficou assim, no ar, tanto que algum tempo depois ele apareceu com uma namorada... que golpe! Fiquei uns dois meses sem dar as caras no local.

Depois do meu “retiro voluntário”, voltei a bater o cartão no karaokê. Tinha que me divertir um pouco... a vida não poderia ser só estudar e trabalhar – eu trabalhava no comércio do meu pai. Eis que quando cheguei, ao me ver, ele veio ao meu encontro... “você sumiu, senti sua ausência”. Ele não estava mais namorando, e a barriga gelou de novo. Mas que coisa! Continuou não dando em nada... foi só mais um amor platônico. O segundo e último.

Dali em diante resolvi que ia ser pé no chão em assuntos relacionados ao coração: não me permiti mais apaixonar-se assim, logo de cara. Não queria mais sofrer. “Oh, doce sofrimento do amor não correspondido”, diriam os poetas românticos... Falando sério, doeu sim, e eu não queria isso de novo. Creio que foi naquele momento que brotou em mim, ainda que de forma inconsciente, o esquema “um dia de cada vez”. Não vivi grandes paixões, como algumas amigas, mas também não sofri como elas. Isso não quer dizer que minha vida foi insossa nessa esfera, mas confesso que também não foi nada excepcional. Eu diria que foi até boa para alguém que se acreditava feia (coisas da vida, já superadas). Explorei muito bem os terrenos antes de me sentir segura pra pisar neles.

Resumindo: paixão é necessária à vida sim. Mas o essencial é o amor. Sem ele, não há paixão que resista muito tempo. Legal é se apaixonar diversas vezes em diferentes momentos e intensidades por aquele alguém que se está amando. Utopia? Eu digo por experiência própria que não.

Um comentário:

Unknown disse...

Marina!!! Adorei o passeio! Muito bom! A foto também ficou 10! Ah se nao fosse aquele bichinho nos fazer olhar para cima!!! Nao teríamos essa visao maravilhosa e a foto! To esperando as outras, principalmente a que vc caiu na agua! kkkkkkk!!! Quando der me manda!

Mas o que gostei mesmo foi de cantar, relembrar algumas musicas e rir, rir muito!!! A platéia (as árvores!)também estava maravilhosa. Temos que caminhar mais juntas, exercitar o corpo, a mente, e os músculos da face!!! kkkkkkkkkkkkkkkk!!!!!