domingo, 13 de abril de 2008

O “macho” da minha vida


Na Páscoa visitei amigos brasileiros na Suíça francesa, em Gland, uma cidadezinha situada perto de Genebra, às margens do enorme lago de mesmo nome. Num dos passeios, fomos pra uma montanha ali perto. Tava um frio danado, neve pra todo lado, lindo de se ver. Mas em algum ponto do caminho me senti chegando na capital mineira... um restaurante à beira da estrada tinha um letreiro escrito “Bel Horizon”... pensei comigo: “uai sô... cheguei em Minas Gerais e nem pircibi... i qui trem doido é esse sô... caiu umas letra e eles nem arruma!” kkkkkk


É, mas eu tava muito longe do pão de queijo... porém, o horizonte que se vê daquele local é realmente muito belo! Dali avista-se uma enorme extensão do Lago de Genebra, o Mont Blanc, um dos maiores maciços dos Alpes (mas que naquele dia infelizmente estava encoberto) e várias cidades que ficam na beira do lago – do outro lado já é França. Fiz uma montagem com duas fotos, pra ilustrar melhor o que descrevo aqui. Oui, c'est un bel horizon. Au revoir!


O “macho” da minha vida

Há algum tempo li o livro de crônicas do Arnaldo Jabor “Amor é prosa, sexo é poesia”. Entre diversos textos, inclusive o que serviu de inspiração pra Rita Lee compor a música homônima ao título do livro, tem um que se chama “O mundo de hoje é travesti”. Trata-se de uma visão bem realista de como a mulher deseja ser tratada, mas de como o mundo de hoje a obriga a ser. Afirma também que o mundo atual é essencialmente feminino, porém dirigido por homens boçais (essa foi muito boa... melhor ainda por ter sido escrita por um homem!).

Me identifiquei com aquelas palavras... tenho plena consciência de que há 13 anos, logo depois de me tornar mãe, tive que assumir o papel de “macho” da minha vida, por razões óbvias de quem se torna “pãe”. E descuidei completamente da mulher doce e meiga que existe em mim – sem perceber, a ocultei completamente nesse tempo todo. Homens detestam concorrência... têm medo de mulheres fortes. Isso explica o fato de eu ter tido tão poucos relacionamentos nesse tempo. O processo de autoconhecimento é lento... tenho me dedicado a isso nos últimos meses, e demorôôôô... descobri que quero voltar a ser mulher, urgentemente!!! kkkkkkkk

“Querer é poder”... se fosse tão fácil assim, eu já tinha resolvido essa parada. Mas tudo que demanda interação com outras pessoas (ou seja, 99,999999% das coisas da nossa vida) tem o ingrediente complicador de lidar com as emoções, desejos e medos explícitos e ocultos do outro. Se muitas vezes nem os nossos próprios estão bem claros e resolvidos, imaginem como fica o contato com alguém cheio de escudos, alguém que até tá cansado de ser sozinho, mas que se habituou a viver numa redoma e, por mais que queira, não consegue sair dela!

Várias amigas minhas declaram sua admiração por mim por meio de adjetivos como “guerreira”, “batalhadora”, “sensível mas pragmática”, “compreensiva mas às vezes incisiva demais”, “macho-de-saia”... às vezes acho que não sou tudo isso que me dizem... tenho meus medos, minhas dúvidas, meus altos e baixos... mas “macho-de-saia” infelizmente sou sim. E quero deixar de ser, mas já sei que isso não depende apenas de mim... é preciso que eu seja devidamente tocada em minha essência feminina para que a mulher venha à tona (o citado texto do Jabor diz, ainda que forma genérica, como isso pode acontecer).

Aí entra o dilema Tostines*: eu não consigo mudar porque não sou tocada, ou não sou tocada porque continuo sendo “macho-de-saia”? Complicado... mas o fato de eu estar consciente já ajuda um bocado. Verbalizar isso em alto e bom som me mantém firme no caminho da mudança. Mas ninguém é uma ilha... sempre precisamos de outrem para interagir, para corroborar as mudanças.

Paciência... tudo acontece devidamente a seu tempo. Pelo menos eu sei que tenho feito a minha parte.

Fuii!!!

* Dilema Tostines: é de um comercial de biscoitos de mesmo nome, que lançava a pergunta “Tostines vende mais porque é fresquinho, ou é fresquinho porque vende mais?”. Detalhe: essa pergunta nunca foi satisfatoriamente respondida.

4 comentários:

Carla M. disse...

Nossa, tão verdadeiro isso que tu escreveste... A gente briga tanto pra ter espaço que quando vê masculinizou nossa relação com o mundo, já que dizem que o mundo é governado por eles.
E o dilema persiste, por que confesso que não conheço também muitas mulheres que conseguiram fugir desse padrão. Gostaria, como você, de ser uma delas.
Por outro lado, a gente luta tanto pra conseguir um espaço, que dá medo de correr riscos mudando.

adorei o teu blog!

Ana Beatriz Frusca disse...

Uau, Genebra...nã conheço ainda nem em sonho...rsrss.
Sei bem como é essa coisa de ser pãe, pois minha Headbanger(mãe) é uma mistura de pãe e irmãe.
hahaha...eu li essa crônica de Arnaldo Jabour, enquanto os homens possume pênis as mulheres possuem cérebro...rsrsrs.
Vc escreve muitooo bem! Quando eu crescer quero escrever assim...hahaha!
Liga pro meu post não, hj eu tô bichada...coisas do S2.
Bjuxxx, ti chic!

Ana Beatriz Frusca disse...

Vou te linkar ao meu bloguinho, pois só assim eu não te perco de vista.
Bjuxxx.

(L)

Anônimo disse...

Marina , como sempre me delicio com a leitura de teus textos, consegues demonstrar fantasticamente em palavras os sentimentos mais interiores que habitam nossos corações. Beijos e parabens de novo por cada batalha vencida, por continuares na luta. Bjs Patricia Camarotti