
O texto de hoje não tem introdução, pois há ocasiões em que as palavras são dispensáveis... mas a ilustração é bem colorida, porque a vida é mais feliz quando tem muitas cores. A artista? Minha filha Luísa.
Quando as palavras são desnecessárias
Um encontro... olhares se cruzam... afinidades afloram... sentimentos nascem e crescem... e foram se conhecendo tão intensa e profundamente, que para saber como o outro estava, não era mais preciso perguntar: bastava olhar nos olhos. E se não estivessem por perto, seria suficiente dois minutos de conversa pra sentir na respiração ou no tom de voz. Havia total transparência ali entre eles, ninguém escondia nada um do outro. Até porque com aquela sintonia, nem era possível.
Distância... eles nem sempre podiam estar fisicamente perto. Havia outras variáveis nessa história, mas nada que pudesse abalar verdadeiramente aquele sentimento que os unia. Apesar de um oceano estar no meio deles, não havia no mundo dois seres que estivessem mais próximos um do outro. Pelo menos, era o que eles sentiam, era o que parecia ser.
Relacionamento... ele aprendeu tanta coisa legal com ela, cresceu como pessoa, conheceu diferentes formas de encarar a vida, família, trabalho... ao lado dele ela pôde constatar que suas utopias sobre convivência com homens eram plenamente realizáveis, ao lado dele ela teve a coisa mais importante que uma mulher precisa de um relacionamento: sentir-se amada.
Experiência... porém chegou um dia em que ele sentiu-se pressionado de alguma forma (não por ela), por circunstâncias ou coisa parecida e, por falta de maturidade, fez a escolha mais fácil: decidiu terminar aquela história, uma decisão unilateral, por telefone, sem dar chance ao diálogo, ao olho no olho.
Dor... é claro que ela sofreu, mas pouco depois escolheu não mais chorar nem sofrer, afinal, uma história tão linda como aquela só poderia deixar lembranças bonitas. Só que a dor fez com que ela se tornasse mais exigente consigo mesma e com os homens com quem viesse a se relacionar. E a vida seguiu adiante, mas ela sempre sentiu falta de olhar nos olhos dele uma última vez, pra poder ter certeza do que a voz entregava: de que aquela decisão de terminar não havia vindo do coração.
Tempo... senhor soberano, cura todas as dores. Na verdade, não é de fato uma cura, mas ele faz com que as pessoas se acostumem com suas novas realidades. E elas passam a doer menos. Ela nunca mais ouviu falar dele, só sabia que ele já tinha outra pessoa. Que fosse feliz assim, desejava ela sinceramente, sem mágoas ou ressentimentos.
Acaso... eis que um dia, nesse mundo virtual, alguém que o conhecia a encontrou, fez contato e contou algo que abalou o coração dessa mulher: ele havia ficado viúvo. Um sentimento estranho a perturbou por alguns dias, e ela não entendia porque, afinal, tinha certeza de que não o amava mais, de que ele tinha se tornado apenas “uma história bonita” na vida dela, que pertencia ao passado. Mesmo assim, decidiu procurá-lo, a fim de conversar olho no olho e fechar aquela porta que havia ficado entreaberta.
Reencontro... demorou mas aconteceu. Depois de tantos anos, era muito estranho rever alguém que havia sido tão importante. Ela simplesmente não sabia o que esperar, como ele reagiria, o que conversariam. Mas quando se viram, havia um brilho tão radiante no rosto de ambos, mas que porém era muito mais evidente, realmente indisfarçável, no sorriso dele.
Palavras... conversaram horas sobre o que se passou com cada um. Ela se preparou para esse encontro de forma a não querer falar do passado, ainda que fosse de coisas bonitas e alegres que ambos viveram. E realmente não fez isso, mas ele a todo instante evocava algo que haviam vivido. Enquanto ela contava de seu processo de autoconhecimento, de como isso estava lhe fazendo bem, ele dizia apenas “eu sei”, como a confirmar que a conhecia muito bem. “A essência não muda”, disse ela, e ele disse “estou percebendo”.
Não falaram nada sobre o fim do relacionamento. E acho que ela conseguiu o que queria: teve certeza do que a voz dele entregou naquele fatídico telefonema. E o sentimento que ficou no ar, depois de muita conversa sobre amenidades, é de que na verdade aquela história nunca acabou, pois parecia que tinham se encontrado no dia anterior (e não há quatro anos e meio), tamanha era a sintonia.
Se encontraram mais uma vez... e não houve como adiar mais o encontro dos lábios. Era claro como a luz do dia que apenas lábios e olhos estiveram longe uns dos outros durante aquele tempo todo. Só sei que naquele reencontro, olho no olho, as palavras foram absolutamente desnecessárias para falar sobre coisas do coração.
